Blog do Victor Martins
F1

Terra da Serra Calderona, 3

SÃO PAULO | Tudo que os quatro anos de antes em Valência nunca proporcionaram ao público e aos pilotos foi devidamente compensado hoje. E olha que demorou para engrenar. Porque quando Vettel largou e foi abrindo quase um ano-luz por volta para Hamilton, o negócio parecia chamar um coquetel de energético e café. Mas aí […]

Fernando Alonso

SÃO PAULO | Tudo que os quatro anos de antes em Valência nunca proporcionaram ao público e aos pilotos foi devidamente compensado hoje. E olha que demorou para engrenar. Porque quando Vettel largou e foi abrindo quase um ano-luz por volta para Hamilton, o negócio parecia chamar um coquetel de energético e café.

Mas aí o calor forte de Valência agiu e foi desvelando que tipo de estratégias cada um tinha. Exceto a de Alonso. A de Alonso era “para frente e avante”. Ganhou três posições na largada, foi lá encher o saco de Hülkenberg e se aproximou dos ponteiros até a primeira parada. No bom trabalho da Ferrari e ruim de Lotus e Sauber, apareceu à frente de Raikkonen e Kobayashi, que já tinham se livrado de Maldonado. Então Alonso era quarto ali, esperando o que lhe sobrasse entre Hamilton e Grosjean, que demorou para passar o inglês.

O bolo do meio se juntou entre os que tinham parado e os que tentavam a estratégia ousada. Foi nessa que Senna e Mito se acharam. De prima, na real, entendi que Bruno havia fechado Kobayashi – que, espremido, não tinha o que fazer. Se o cara me freia naquela velocidade com 3 negos vindo atrás, poderia ser bem pior. Mas não era caso para caçar a bruxa verde e amarela. Mais uma vez, o pecado da F1 é querer culpar um por todos os incidentes que acontecem. E nem é culpa da F1, mas da FIA, que no caso chamou Salo para ser seu comissário.

Sobre isso, hoje surgiu mais uma teoria conspiratória antipacheca. Que Salo puniu Senna porque é empresário de Valtteri Bottas, terceiro piloto da Williams e que o próprio Salo disse outrora que sentaria ainda nesta temporada no lugar que hoje cabe ao brasileiro. Eu fico me perguntando qual é a necessidade de praticar o coitadismo com os pilotos que nascem nesta terra. Qual a necessidade que se tem de apoiar incondicionalmente e passar parte da transmissão grudado na bolsa escrotal de um atleta que apenas dirige carros — e que no caso de Bruno nem representa tanto assim a pátria canarinha porque foi criado grande parte da vida na Inglaterra. Eu duvido que Massa ou Senna, por exemplo, cheguem nos jornalistas e tradutores e peçam que sejam os escudos que empunham microfones, gravadores ou canetas. E outra: Kobayashi e Senna brigavam pelo oitavo ou nono lugares. Havia muito mais com que se preocupar. Paciência.

Voltando. Se a temperatura ambiente estava alta e a prova começava a esquentar, Vergne, lá atrás, deu um jeito de trazer o pavio e a pólvora: encontrou Kovalainen numa curva da vida e fez dele mulher de malandro. Pobre Heikki, mas foi por uma boa causa, mais nobre: a corrida em si. Entrou o safety-car e tudo mudou.

Grosjean grudou em Vettel na largada, mas Alonso logo deu o bote. Três curvinhas, e o espanhol já colocava a Ferrari em segundo. Aí o alemão ia tentar livrar aquela diferença toda de novo, mas nem teve tempo. Além do DRS e do KERS, Alonso tinha naquela máquina vermelha o dispositivo de LUCK. A confiável Red Bull abriu o bico. Foi o alternador, segundo a versão oficial. E a desilusão e raiva do grande alemônico foram vistas com as luvas indo em direção ao alambrado. Vettel, maduro, lamentou, claro, mas teve um outro papel em Valência: separar a briga dos jornalistas ali no puxadinho do paddock. A TV francesa que provocou, todo mundo entrou na pilha, e como nosso ego é alto, até Vettel estranhou: “Vocês são crianças?”. Eu responderia com um “dsclp, tio Vttl”.

Aí a liderança caiu no colo de Alonso, mas a vitória estava longe de ser garantida. Grosjean estava no encalço, meio que comboiando. Fernandito vinha com voltas rápidas em sequência, mas nunca fora capaz de abrir mais de 0s1 por volta do francês da Lotus. Era a chance do oitavo vencedor. Até que Alonso pressionou o LUCK e provocou um problema no motor Renault de Romain. Que ainda teve cabeça para estacionar o carro em um ponto que ele mesmo pudesse recolhê-lo – numa atitude que até foi ruim para sua equipe, visto que daria a chance de nova entrada do SC e chamar Raikkonen, encaixotado atrás de Hamilton, para a briga.

Então tudo que Alonso fez foram duas coisas: 1) abrir quase 4s e ir controlando as ações de HAM e RAI e 2) certificar-se de que não precisaria parar novamente e ver a história do Canadá repetida, tendo pneus desgastados e perdendo a corrida. Mas logo a goma de Lewis foi derretendo. Kimimporta?, soltou o finlandês, que passou como se não houvesse amanhã. Maldonado, pouco mais atrás, se assanhou. E como sempre acontece em finais de prova, empolgou-se. Bateu em Hamilton, tirou-o da prova, ainda cruzou em décimo. Mas a repressora FIA o puniu com 20 segundos – me puniu também, havia cravado o rapaz no BRV –, e deu o lugar a Senna, oh!.

Nisso tudo, sobrou o terceiro lugar para Schumacher, que habitava o 11º lugar não havia muitas voltas. Foi na estratégia: a Mercedes o chamou para pneus novos no fim da prova, e deu certo. Mesma coisa fez a Red Bull com Webber, que de 19º arrancou para um bom quarto posto. Hülkenberg, ótimo durante o fim de semana, terminou em quinto e teve seu melhor resultado na F1. Creio que a Force India começa a se ajustar para brigar ali pelas cabeças de novo. Di Resta, em única palavra, foi sétimo. Entre eles, Rosberg. Button, lorde, ficou em oitavo e Ligeirinho acabou na nona colocação.

Quanto a Massa, ele tá com o botão de ZICA instalado ali e ninguém consegue tirar. Tudo dá errado, pelamor. Hoje, teve problemas, encontrou Kobayashi, se ferrou, depois foi até passado por Petrov por fora. Aí realmente a gente vê que o negócio tá mal. Terminou em 16º, atrás até de Pic, da Marussia. Felipe segue com 11 pontos no campeonato e, agora, tem seu pior início de temporada em toda a carreira. Está 100 pontos atrás de Alonso. Está 100 rumo.

A vitória de Alonso foi daquelas de emocionar. Tal qual nos tempos de Senna, desceu do carro e foi para el pueblo com a bandeira nas costas. O choro veio fácil no pódio, e tudo vem à cabeça. “Nada se compara a isto”, disse depois, como se estivesse cantando Sinead O’Connor.

Na tabela, Alonso e sua excelência vem com 111, Webber e sua constância o põem com 91, Hamilton e sua afobação o deixaram com os 86 e Vettel e sua tristeza estacionaram nos 85. Dificilmente não deve sair daí o campeão. Alonso e Vettel aparecem fortes, e Hamilton ainda demonstra que briga por cada corrida sem pensar nas consequências – o título. Alonso versus Vettel num campeonato impecável como estes. *Um dos dois têm de ser campeão para coroar a melhor temporada, sim, de todos os tempos. E é excelente que a gente esteja aqui para viver a história.