Blog do Victor Martins
F1

Terra da Serra Calderona, 2

SÃO PAULO | “Ai, mas esse Vettel é uma farsa, um engodo, um chiste, só tá aí porque o carro da Red Bull é muito bom, ganhou um título no erro dos outros e outro na maciota”. Parem. O cara é muito bom. “Ai, que exagero, nunca, ele nunca vai chegar nos pés de A, […]

SÃO PAULO | “Ai, mas esse Vettel é uma farsa, um engodo, um chiste, só tá aí porque o carro da Red Bull é muito bom, ganhou um título no erro dos outros e outro na maciota”. Parem. O cara é muito bom. “Ai, que exagero, nunca, ele nunca vai chegar nos pés de A, B e C”. Parem mais. Pensem só um pouquinho. Voltem à realidade. Gusfraba. Isso. Vamos lá: Vettel é um dos fora-de-série aí dessa coisa toda chamada F1. OK? OK. Ele é tão bom quanto Alonso. E nesse ritmo, pela média da carreira, vai chegar a números que vão fatalmente colocá-lo neste patamar. Gostem ou não. É que muita gente tem dificuldade em aceitar o que não é de seus pretensamente iguais por divisão de fronteiras. Paciência.

33 poles na lomba, empata com Prost e Clark, um tetracampeão e outro bicampeão. “Ai, mas olha que comparação você tá fazendo, que babaca”. Calma, nêga. As estatísticas podem ser frias, mas explicam muita coisa. Ontem Vettel já dava sinais de que Valência é com ele, com o melhor tempo nos treinos. Hoje no treino livre da manhã, seria o mais rápido fácil não fosse uma falha no fim da sessão. Talvez muitos, como eu, não pensassem o mesmo diante do Q2 histórico. Mas o cara destoa. Fim dos elogios.

A real é que quem pega a tabela e esses números aí não têm a exata noção do que foi o grande treino em Valência. A Ferrari ficou fora do top-10, um desastre para muitos, uma zica ad æternum de Luca di Montezemolo, mas não, não dá pra considerar um desastre ficar de fora do Q1 tomando só 2 décimos, como aconteceu com Alonso e Massa. Ali, poderia acontecer até de Vettel ficar fora. Calhou de serem os dois ferraristas e Schumacher. Os 13 primeiros na mesmíssima toada, contando também com a outra Mercedes de Rosberg, e as McLaren, e as Lotus, e as Force India, e o Mito Kobayashi, e o rápido Maldonado. Não se pode dizer o mesmo de Senna.

Bruno, de novo, tomou tempo. Nos números, meio segundo. Mas diante do que foi o treino, muito tempo. Diz ele que tem um acerto diferenciado para a corrida. Aguardemos. 14º quando o companheiro larga em terceiro é aquela história de sempre: nabo. Ligeirinho Pérez também não foi bem e não seguiu a trilha do japa-mor. É mais fácil crer num erro que numa estratégia diferenciada. E só para pegar a onda ali do fim, que belo desempenho de Kovalainen, entubando as duas Toro Rosso, e que péssima posição de largada de Webber, atrapalhado pelos problemas no carro taurino. Esse vai ser legal de acompanhar vindo lá de trás.

Voltando aos ponteiros, é de se imaginar a agrura que vive o box da Lotus, que tem um baita carro e não deixam que conquiste uma polezinha sequer. Grosjean tava lá com o melaço na boca e no fim, niente. Vai largar só em quarto. O segundo no grid é Hamilton, que sempre se dá bem também naquelas terras valencianas. Foi segundo três vezes nos quatro anos de disputa da corrida. Natural, pois, que termine em segundo amanhã, com favoritismo de Vettel para a prova.

Mas tem uma coisa, negada: não pensem que Vettel vai colocar 0s4 por volta em cima de todo mundo. Nem ferrando, numa linguagem eufemística e adaptada ao horário. Até porque a previsão do tempo aponta que as temperaturas vão ser do nível da quinta-feira, ou seja, entre 35 e 37 na linda escala do sr. Celsius. Não há pneu duro que resista e mole que não derreta. Assim, essa gente toda que vem atrás, Di Resta, Hülkenberg, Raikkonen, Mitão do Japão, Rosberg e Button, e até mesmo Alonso, Schumacher e Massa, podem sonhar alto. “Ai, mas você não disse que Vettel é favorito, bocó?” Disse, cazzo. Mas nem as CNTP garantem que o excelente Seb vai fazer barba, cabelo e bigode. A F1, hoje, é uma caixinha de surpresas.