Blog do Victor Martins
F1

Terra do Zizao, 2

SÃO PAULO | Aí o idiota se baseia em todo o retrospecto de uma vida recente para definir que as Mercedes seriam um mero leãozinho que muge fino na classificação, e zás, crava certinho sua tese, só que não. É que eu não contava com a astúcia e o desempenho pleno de um sistema de […]

Rosberg consegue a primeira pole da carreira, e a Mercedes faz dobradinha (Foto: Red Bull/Getty Images)SÃO PAULO | Aí o idiota se baseia em todo o retrospecto de uma vida recente para definir que as Mercedes seriam um mero leãozinho que muge fino na classificação, e zás, crava certinho sua tese, só que não. É que eu não contava com a astúcia e o desempenho pleno de um sistema de DRS duplo que funciona como um avião andando para trás, um achado aerodinâmico fenomenal, e daí estão ali na primeira fila os carros prateados, com Rosberg na pole.

Confesso que não estou lá muito interessado em falar da primeira fila, mas obviamente se faz necessário: tava na hora de Rosberg desencantar & descabaçar, tal qual diria Fernando Silva. Cara entrou na F1 em 2006 pela Williams, e logo na corrida de estreia fez a melhor volta, no Bahrein. Daí foi aquela coisa da primeira impressão que fica, e o tanto de gente que se decepcionou com Kekinho Jr. foi uma coisa de louco. Nico foi taxado como um piloto mediano sem ter lá um carro que lhe permitisse coisa melhor. Daí foi para a Mercedes achando que venceria fácil, só que com Schumacher de volta, sua carreira parecia fadada ao limbo. Pois fez o contrário, e pôs o hepta no chinelo. E mesmo assim nada que fizesse dele alguém especial.

É claro que uma pole não vai mudar uma avaliação quase consolidada dos últimos anos, mas é meio que uma recompensa para um piloto que tem lá seus bons atributos, talvez agora descobertos no levantar do tapete que o escondia. Sua volta foi perfeita, e assim todos a definiram, colocando meio segundo na rapa que vinha juntinha como nunca havia sido visto na F1.

Schumacher vai largar a seu lado, e a Mercedes comemora um feito que não via há 57 anos. Creio que 2 ou 3 funcionários da Mercedes vivos hoje tenham visto aquela pole de Fangio em 1955. E o alemão velhote tá de volta, para deleite de uns, desagrado de outros. Uma primeira fila que não vem desde o anúncio de sua primeira aposentadoria, seis anos atrás, Itália, ah, Itália, campeã do mundo…

Talvez fosse legal ver a Mercedes ganhando, com qualquer um dos dois, mas lá está em terceiro o Mito. Ali está o homem. Ali está a lenda. E creio que ali esteja um piloto meio resguardado, mas ávido pra devolver o que Pérez lhe fez na Malásia. “Galoto pelalta”, mimimizou Kamui depois da corrida, quando o mundo estava boquiaberto com o desempenho do Ligeirinho. “Agola vou mostlar quem dá as caltas”, e deu nisso. Acenderam o japa. E tem um ditado nipônico que expressa claramente isso: “Um homem-san cutucado tem a força de dois”.

Mais legal é ver que a Sauber conquistou seu melhor grid na história e que está sendo comandada por Monisha Kaltenborn em Xangai, já que Peter Sauber teve um compromisso inadiável com a Ligue Du Chauve em Genebra. Uma vitória amanhã do Mito e numa equipe cuja chefe é uma mulher. I-de-al.

Tem ali Raikkonen em quarto, outro que seria muito interessante ver ganhando uma corrida. Imaginem só Kimi, dois anos fora, terceira prova, lá no degrau mais alto do pódio. Haja vodka na noite xing-ling, sem contar que poria em dúvida a falácia de que um hiato na F1 é fatal para os pilotos. Mas ao que parece, a Lotus não tem lá um carro ainda capaz de fazer isso.

Terceira fila tem Button e Webber, que é meio perigosa à primeira vista, mas aparentemente inofensiva para o segundo. Jenson vai fazer aquela prova de sempre, cauteloso, fino, e no fim vai acabar beliscando um pódio, cêis vão ver. Markola vai como der pra chegar em quarto, é sempre assim. O interessante é que ele está invicto nas classificações deste ano em relação a Vettel, péssimo-primeiro hoje. Pô, que aconteceu? E ele ainda disse que não tinha mais o que tirar do RB8. A Red Bull nunca rezou tanto para voltar à Europa e fazer um recall.

Hamilton é ameaça, mesmo em sétimo. Como a corrida chinesa é longa e tem retas longas, o teoricamente longo caminho não é tão penoso até chegar aos primeiros, quero dizer, Kobayashi. E é outro que tá sanguinário para vencer depois de dois terceiros lugares pelos quais fez um muxoxo.

Aí vêm Pérez e Alonso, oitavo e nono. Não pode. Pelas regras dos conspiradores, Fernando tem de vir à frente… E o top-10 termina com Grosjean, algo que é perigoso para Vettel e Massa, mais uma vez ligeiramente atrás de Alonso, largando em 12º. Vai melhorando de pouquinho em pouquinho, quando deveria estar mostrando algo de poucão em poucão. De qualquer forma, como este grid está quase um Super Bonder de tão grudado, Felipe pode sonhar com seus primeiros pontinhos. Tal com Senna, que andou no ritmo de Maldonado, mas larga apenas numa sétima fila.

Bem, anotem aí que vai ser o seguinte amanhã: as luzes vermelhas apagam e o Mito, do lado limpo, aciona o botão do super-KERS da largada. Nem vai ver o velhote do outro lado da fila e vai passar rapidinho o peida-na-farofa da frente. Como as Mercedes vão mal em corrida – ainda creio nisso –, elas farão o papel de segurar todo o resto enquanto Kamui abre distância suficiente para vencer lindamente. E no domingo, cantando Para Nossa Alegria, o mundo se acaba num porre de saquê.