Blog do Victor Martins
F1

Terra do songkok, 4

SÃO PAULO | Tenho visto a grita que muitas gentes que torcem (e distorcem) para uma F1 mais humana, digna e confiável a respeito da grandiosa marmelada praticada pelas irmãs Ferrari e Sauber na corrida de hoje na Malásia. Um jogo de equipes, na visão deste povo, tão acostumado a crer nas teorias conspiratórias nos […]

SÃO PAULO | Tenho visto a grita que muitas gentes que torcem (e distorcem) para uma F1 mais humana, digna e confiável a respeito da grandiosa marmelada praticada pelas irmãs Ferrari e Sauber na corrida de hoje na Malásia. Um jogo de equipes, na visão deste povo, tão acostumado a crer nas teorias conspiratórias nos últimos anos que acreditam em qualquer coisa que lhes pareça minimamente uma manipulação mascarada.

Pérez voava para conseguir a vitória hoje. Aí o boçal do engenheiro veio no rádio para pedir “cuidado” porque “precisamos desta posição”, o então segundo lugar, pouco antes de ver seu estupendo piloto colar em Alonso e então errar. Parte do populacho viu como uma mensagem cifrada, afinal a Sauber é cliente da Ferrari e, por tal, está impedida de vencer uma corrida caso um piloto que vista vermelho esteja à sua frente.

Imagino quantos rádios clandestinos devam haver entre Ferrari e Sauber para que a comunicação seja feita entre elas. “Afaste este Chespirito daí”, manda Stefano Domenicali para Peter Sauber, que na sua face serena e lívida, apenas responde. “Sim, meu amo e senhor, e prometo disfarçar tudo depois com algumas lágrimas tipicamente helvéticas”.

Vamos a algumas verdades sobre o assunto. A Toro Rosso era cliente da Ferrari em 2008. Aí teve aquela corrida de Monza, Itália, casa da Ferrari, Ferrari disputando o título e tal. Chove, e me vem aquele fedelho, Vettel, faz a pole. Como pode? Que absurdo. E, meudeusdocéu, como teve ele o peito de liderar toda a corrida diante dos tifosi sem ao menos permitir que Raikkonen ou Massa lhe ultrapassassem? Pobre Vettel, punido pelo resto da vida, não é mesmo? Pobre Toro Rosso, nunca mais usou motores Ferrari, né?

McLaren e Mercedes, parceiras antigas. Aí a Mercedes comprou a Brawn e, ainda assim, tinha parte acionária na McLaren. Mais unidas, impossível. Como é que pode a McLaren vencer corridas neste período todo? Como é que Hamilton e Button podem ousar superar Rosberg e Schumacher? É um acinte.

Sobre a mensagem de rádio em si, pensemos o contrário: quando vem o engenheiro para falar o “push, push, push”, pedindo para que o cabra acelere, significa que o piloto não está acelerando forte? Significa, mesmo, que tem algo por trás disso? O malfadado engenheiro sauberiano somente solicitou ao seu impetuoso Pérez que não pusesse tudo a perder. Para uma equipe que nunca foi segunda colocada numa corrida, é melhor prevenir. Pérez queria, e muito, remediar. Não à toa, o cabra errou e foi tentar caçar Alonso em seguida — ou alguém também crê piamente que Pérez ia jogar a corrida fora na brita? Tem realmente quem acredite nisso? Jamais que Pérez, também, pensaria num eventual contrato com a Ferrari, para agora ou o ano que vem, e tirou o pé. Negada, o cara tá lá para vencer. Segunda prova do ano, e querem adivinhar o que o moleque tá pensando — e não é na temporada que acabou de começar, mas, sim, na de 2013, porque a gente mal sabe se vai estar vivo amanhã, quanto mais 2013.

Num português bem claro, o cara devia tá tão de pau duro e louco pra vencer que mal deve ter ouvido direito o que o engenheiro falou — embora possa ter distraído o cara. E para aqueles que sempre veem um outro lado em tudo, é bem capaz que a Ferrari tirasse Pérez já da Sauber para ocupar o lugar do inerte Massa se visse que o Ligeirinho conseguiu vencer o ‘mágico’ Alonso. Era o passaporte da alegria do Playcenter (#RIP).

Compreensível que se pense no passado nebuloso e inescrupuloso do mundo de Maranello. Mas se acalmem. Tomem um remedinho, uma Maracugina, um chá de camomila — e não de cogumelo. Sem loucuras ou insanidades, então, gente. Menos. Menos.