Blog do Victor Martins
F1

Terra do wombate, 3

SÃO PAULO | O lorde apareceu, olê, olê, olá. A classe com que Button conduz um carro de F1 deveria ser assunto de tese em Harvard. Em Londres. Em Woking. Na casa de Hamilton, sob os mimos de Nicole. Hamilton tem de estudar bem esse companheiro que tem. Não é qualquer um. Mesmo. Hamilton pode […]

Jenson Button vence na AustráliaSÃO PAULO | O lorde apareceu, olê, olê, olá. A classe com que Button conduz um carro de F1 deveria ser assunto de tese em Harvard. Em Londres. Em Woking. Na casa de Hamilton, sob os mimos de Nicole. Hamilton tem de estudar bem esse companheiro que tem. Não é qualquer um. Mesmo. Hamilton pode estar no melhor da forma: vai ter ali do lado um cara forte e inteligente demais, Barrichello que o diga — se bem que Hamilton já vem notando quem está ali na garagem ao lado. Se a prova na Austrália lhe parecia sua, bastou uma largada para mudar tudo. Hamilton não fez nada para tirar de Button o primeiro lugar conquistado na primeira curva. Simples assim.

Em suma: Hamilton pode fazer as 20 poles no ano, sorrir e mostrar seu diastema ao mundo no sábado, que vai ter de esconder durante o resto do dia, o domingo de manhã e a corrida, e só abrir eventualmente quando cruzar a linha de chegada. Esteve longe de fazer isso hoje. Aliás, deixou-se abater tanto com o terceiro lugar que ficou óbvio que se vira presa fácil.

Mais em suma ainda: a corrida de Button foi só aquilo, conduzir e ganhar, e a de Hamilton foi de correr para perder.

Lewis não contava com a astúcia de Vettel e da Red Bull mid-mouth na hora em que a Caterham de Petrov fez da reta do Parque do Alberto um estacionamento, e nem a dobradinha da McLaren conseguiu buscar. Melbourne não é lá um celeiro de ultrapassagens para carros com desempenho semelhante. Nicole vai ter trabalho essa noite. Danada.

O nome da ótima corrida foi Maldonado. Que deram pra ele, hein? Tascou Energil C 15 minutos antes da prova, tomou três balas, pôs três dedos na tomada e foi lá enchouriçar a vida de todo mundo, até de gente grande. Ô, la Williams volvió, hão de gritar uns gringos da parte setentrional da América. Aí no fim, o carro me vira daquela forma à direita e se vai, para deleite de Alonso. A la derecha, não, bradou Hugo Chávez, desmilinguido.

Alonso foi quinto com essa Ferrari aí. A Chiliquenta de Oviedo é boa, viu? Esse carrinho aí, nas CNTP, é pra brigar ali pelas posições finais da pontuação. Chegou atrás de Webber, que de interessante no fim de semana só proporcionou ao mundo as belas cenas live from seu capacete. E ser a Red Bull for nessa toada aí o ano todo, capaz que muitos se perguntem “Webber who?” a cada fim de semana de prova.

Mito, sempre mito, foi o sexto. Aquela Sauber da classificação mascarou a realidade: fizeram, de fato, um bom carro, e como eles adoram arriscar na estratégia, parando menos, vai ser costumeiro ver o maior piloto de todos os tempos (!!!!) na zona de pontos. Kobayashi é daqueles que merecia um carro de ponta. Maior atração da história. Pagaria ingresso pra ver, sem meia entrada. Bem como Pérez, que neste vaivém chegou a andar em segundo, despencou, caiu, sacodiu a poeira, deu a volta por cima e foi oitavo. Ôto protagonista. Sauber tem uma ótima dupla, não tem do que reclamar.

Entre os tais, Raikkonen. Como reclama e grita. Tudo que ele não fala durante a vida, resolve falar pelo rádio. Coitado do engenheiro, que vai viver mais 19 calvários ao longo da temporada. Mais um que vai ser legal de ver. Pra quem largou em 18º, sétimo tá mais que bom. Mas a Lotus tem carro pra andar mais, vide Grosjean, que foi arremessado pra fora, na buena, por Maldonado-Duracell.

Ricciardo fez lá seus primeiros pontos, em casa, com a Toro Rosso que vai bem, obrigado, e restou a Di Resta, melhor nome para trocadalhos do carilho, o ponto final. Só que a Force India tem de rever isso aí, carrinho deles não foi lá essas coisas.

Massa e Senna morreram abraçadinhos. O primeiro fez ótima largada e saltou para décimo, só que seus pneus foram para o espaço à la Yuri Gagarin muito cedo. Daí voltou ao bloco do desespero. Senna quase foi para o espaço tipo Neil Armstrong nos primeiros segundos de prova, caiu lá pra trás e foi se recuperando, cauteloso. Daí os dois se acharam. Daí se tocaram. Incidente de corrida, tal, mas é melhor que se toquem de outra forma daqui pra frente. Um tem do que sorrir, pelo menos: o carro é bom. Outro tem de lamentar: o carro é uma draga rossa.

A Malásia já vem aí na semana que vem, e todos vão ter uma melhor noção da medição de forças em um autódromo de verdade. Mas é bom que a negada se cuide ali na frente: pelo “welcome, 2009” que Button soltou, as sombras que se formam sob o sol forte de Sepang podem ir delineando a figura de um campeão.