Blog do Victor Martins
F-Indy

O caminho a seguir

SÃO PAULO | Habemus anuncium, e lá no WTC de São Paulo, a fumaça indicou o que todo mundo já sabia: Barrichello se torna o novo astro da Indy e a maior aquisição da categoria em 19 anos — curiosamente o espaço de tempo que ele ficou na F1 —, tal como a menina dos […]

SÃO PAULO | Habemus anuncium, e lá no WTC de São Paulo, a fumaça indicou o que todo mundo já sabia: Barrichello se torna o novo astro da Indy e a maior aquisição da categoria em 19 anos — curiosamente o espaço de tempo que ele ficou na F1 —, tal como a menina dos olhos da TV Bandeirantes.

E se faz válido analisar estas três peças.

Barrichello primeiro, claro. É um bem danado a Rubens no âmbito esportivo. É curioso ver que ele será um estreante no ano em que completa 40. Mais ainda, que ele será o mais velho de todos — Davey Hamilton e Paul Tracy não devem fazer a temporada toda. Um novato decano. Coisas da vida. Enfim, Barrichello tem tanto sua mente e seu físico voltados às corridas que seria impossível vê-lo tirar um ano sabático, que certamente o deixaria cômodo demais para que tentasse uma volta em 2013. Sua irmandade com Kanaan o levou a topar o desafio de guiar o carro. Sua qualidade o fez mandar bem nos testes. Seu peso chamou patrocínio. Sua obstinação dobrou o veto e o muxoxo da mulher Silvana. Com tudo conspirando a favor, não havia como não chegar a um acordo com Jimmy Vasser, que veio ao Brasil para participar da coletiva.

Curiosamente, Barrichello acaba por apagar sua saída sombria da F1 sem aquela despedida digna que (se) merecia. Porque ele justamente vai para a Indy como o grande nome, em substituição a Danica Patrick. Rubens vem também no momento mais propício possível, em que a Indy abandona suas carcaças velhas da Dallara para pegar chassis novinhos em folha, numa KV crescente com motores confiáveis da Chevrolet — que volta pelas mãos da Ilmor, preparadora dos antigos Honda — e com apoio irrestrito, esportivo e técnico, de Kanaan. Assim, não é viajar muito pensar que Barrichello alcance o mesmo êxito de Mansell em 1993. Cai no clichê do difícil, mas não impossível.

À Indy, nada melhor. Para quem quis transformar Wheldon em um super astro numa prova e o viu sair dela morto, a presença de Barrichello é uma ressurreição ideal. Mesmo de longe, observa-se entre os americanos uma certa euforia. É como se a série que havia rachado depois de 1995, cambaleado até 2008 com a fusão com a Champ Car e ainda não se achado apropriadamente até então, com mudanças em seu comando e decisões dúbias durante as corridas, tivesse enfim um valor. Os planetas parecem devidamente alinhados numa temporada mais curta do que o convencional. Se for válida, excelente.

E tem a Bandeirantes. O grupo de comunicação omitiu de seu público, em todas as suas mídias, a informação que já tinha há algum tempo, completa — a que todos já sabem. Tem quem não veja problema nisso. Pena. Se um dos pilares do jornalismo é o furo, a emissora do Morumbi preferiu embalar a notícia de Barrichello em um mega evento, com transmissão ao vivo por rádio e TV, nos moldes que a Globo fez na F1 com Senna e a Williams. Aliás, as TVs no Brasil geralmente são parceiras de eventos esportivos, e como um membro da Bandeirantes disse em off, não conseguem achar uma forma de coexistir com uma independência editorial. Daí a ausência de críticas. É por isso que, enquanto aliada de prefeitura paulistana e governo paulista, a Band se presta a até deturpar a realidade nos vários defeitos e problemas apresentados nas corridas realizadas no Anhembi. “Espaço para bom jornalismo mesmo é cada vez menor e, pior, cada vez mais controlado e dirigido. Somos ilhas nesse mundo”, sintetizou o mesmo funcionário da casa.

Resumidamente, o interesse comercial atropela o jornalismo. Assim, ter Barrichello no ‘elenco’ é uma dádiva. A Bandeirantes agora sabe que detém na mão um grande produto de audiência. Rubens, mal ou bem, é centro das atenções. Não à toa que a emissora deixou de prontidão todas as suas equipes e deu um tom até de que foi grande auxiliar no acordo do piloto com a KV. Teve até um “parabéns em nome de todo grupo Bandeirantes de comunicação” ao vivo no meio da coletiva. Isso já denota o que devem ser as transmissões neste ano: Barrichello belo e divino, o melhor brasileiro de todos os tempos do automobilismo, o mais perfeito, o mais bem sucedido, o mais carismático, o mais mais.

E aí, Barrichello vai ser tão bem tratado, por assim dizer, quanto era em seus tempos de Globo. Se era alvo do ‘Casseta’ lá, vai se tornar astro do ‘CQC’ e do ‘Pânico’ — só que será blindado de início até porque a Bandeirantes deve determinar que não ousem falar mal dele. Se havia um desejo e uma esperança em não ver aquele Rubinho do Brasil-sil-sil manipulado e reclamão, há controvérsias. E se Rubens tirou uma lição do que passou na F1, seria de bom grado que não mergulhasse nos mimos e regalos que a Band vai ofertá-lo.

Seria bom que Rubens, neste renascer da carreira, já caminhasse por si só.