É válido ressaltar que a carreira de Barrichello foi diretamente marcada pela morte de Ayrton e de como Rubens teve de carregar o fardo de ser um novo representante máster do Brasil na F1 impulsionado pela TV Globo — e seus princípios editoriais. Da mesma forma, é bem verdade que Barrichello, ao assumir este desafio, acabou consumido e se deixou levar. Sem carro para tal, o brasileiro tentou se fazer líder e, se aos domingos falhava, às terças era achincalhado pelo ‘Casseta & Planeta’, programa da própria emissora. E ao não conseguir os êxitos que pretendia, passou a dar explicações com ar choroso e queixante, criando contra si uma fama que começou a dividi-lo entre quem o ama e quem o odeia — tanto que é difícil encontrar alguém que tenha por ele um sentimento intermediário.
Na dubiedade de ser segundo piloto da Ferrari, e por tantos anos na batalha, Barrichello provocou na grande maioria, de quem o amava e o odiava, a maior emoção que seus pares tiveram nas pistas ao vencer o GP da Alemanha de 2000. É complicado, inclusive, não olhar para seu currículo na F1 agora e não definir este como seu maior momento. É diferente de dizer que foi o mais marcante — no caso Áustria 2002, no episódio de dar passagem a Schumacher na linha de chegada. Aqui foi, de fato, o marco de sua carreira naquele maniqueísmo dos sentimentos e o norte de como seria definitivamente observado.
Mesmo contrariado com sua posição na equipe italiana, admitindo que só poderia vencer se a cúpula deixasse, Rubens alegou que não tinha para onde ir e ficou até 2005. Pulou para a Honda, onde ficou apagado e ofuscado por três temporadas e parecia encerrar sua passagem na F1 melancolicamente, para deleite de seus detratores. Até que Ross Brawn, um de seus chefes na Ferrari, tratou de resgatá-lo e mantê-lo na equipe que levou o nome do engenheiro. Na maior oportunidade que teve na carreira de ser campeão, perdeu para o companheiro Button, mas voltou a ser protagonista no meio. Chegou a ser procurado pela McLaren, mas logo depois que já havia assinado pela Williams. Que tratou de acabar com tudo sem que Barrichello pudesse ao menos encerrar dignamente a carreira — e nisto está sua parcela de culpa. Rubens deveria ter sabido parar.
É claro que haverá quem concorde muito e quem discorde visceralmente com estas linhas, justamente porque cada um tem esta imagem extremista de Barrichello. Seja lá como for, mais uma vez se faz válido dizer que é inegável o valor de seu nome na história da categoria, e isso não se deve pelo recorde de longevidade contínua. Dizer que foi um dos pilotos que mais merecia um título pelo conjunto da obra pode suscitar sua aura de ‘segundão’, o que não é verdade. Só que este estigma que ele mesmo aceitou jogou contra. Barrichello teve em si essa coisa tão grande de vencer martelando, sabendo que não teria como, que o impediu de tal.
Mas tudo na vida tem um ponto final, e Rubens tem de saber colocá-lo devidamente. Indy, Stock Car, curtir a vida nos EUA com os filhos, que vá ser feliz. Para quem apenas observa de fora, vale a afirmação muito bem colocada do amigo pulha João Paulo Borgonove, com uma leve adaptação: Rubens Barrichello vai fazer falta à F1. O Rubinho do Brasil-sil-sil, não.
Adendo 1: assim que Senna foi anunciado em seu lugar, Barrichello deu uma entrevista ao Estadão dizendo que não correria na Indy porque havia feito uma promessa à mulher, fato sabido do grande público. Numa segunda entrevista ao mesmo jornal amigo, Nota-se que mudou de ideia, afinal já admite correr lá. Tudo bem, isso é o de menos, ainda que, sei lá, desfazer promessas não seja dos melhores fatos. Mas o que se tira de suas declarações é que sua postura, infelizmente, segue a mesma.
Rubens, numa questionável pergunta sobre mágoas e afins, afirma que não as tem, mas se põe visceralmente contra ‘pseudo-jornalistas’ de internet, que cometeram ‘crimes’ e que vai ajudar a ‘coibi-los’ de alguma forma. Isso é porque não tem mágoas. E se as tem, seria bom expor de vez. Para não ser tão dúbio tão claramente.
Perto dos 40, Barrichello continua o mesmo de tantos anos atrás, tratando por jornalistas quem o bajula e de pseudo quem não segue da sua cartilha. Pena.