Blog do Victor Martins
F1

Barrichello, 1993-2011

SÃO PAULO | A Williams, pela segunda vez nos últimos anos, deixou vazar algo em seu site oficial antes de fazer o anúncio propriamente dito, e Senna está lá, confirmado como o outro piloto da equipe em 2012. Barrichello, que soube hoje pela manhã da decisão, agora fica sem correr na F1. Será que tenta […]

SÃO PAULO | A Williams, pela segunda vez nos últimos anos, deixou vazar algo em seu site oficial antes de fazer o anúncio propriamente dito, e Senna está lá, confirmado como o outro piloto da equipe em 2012. Barrichello, que soube hoje pela manhã da decisão, agora fica sem correr na F1. Será que tenta uma brecha para fazer uma prova de despedida ou acaba de vez com esse negócio e vai procurar outra categoria?

É válido ressaltar que a carreira de Barrichello foi diretamente marcada pela morte de Ayrton e de como Rubens teve de carregar o fardo de ser um novo representante máster do Brasil na F1 impulsionado pela TV Globo — e seus princípios editoriais. Da mesma forma, é bem verdade que Barrichello, ao assumir este desafio, acabou consumido e se deixou levar. Sem carro para tal, o brasileiro tentou se fazer líder e, se aos domingos falhava, às terças era achincalhado pelo ‘Casseta & Planeta’, programa da própria emissora. E ao não conseguir os êxitos que pretendia, passou a dar explicações com ar choroso e queixante, criando contra si uma fama que começou a dividi-lo entre quem o ama e quem o odeia — tanto que é difícil encontrar alguém que tenha por ele um sentimento intermediário.

Na dubiedade de ser segundo piloto da Ferrari, e por tantos anos na batalha, Barrichello provocou na grande maioria, de quem o amava e o odiava, a maior emoção que seus pares tiveram nas pistas ao vencer o GP da Alemanha de 2000. É complicado, inclusive, não olhar para seu currículo na F1 agora e não definir este como seu maior momento. É diferente de dizer que foi o mais marcante — no caso Áustria 2002, no episódio de dar passagem a Schumacher na linha de chegada. Aqui foi, de fato, o marco de sua carreira naquele maniqueísmo dos sentimentos e o norte de como seria definitivamente observado.

Mesmo contrariado com sua posição na equipe italiana, admitindo que só poderia vencer se a cúpula deixasse, Rubens alegou que não tinha para onde ir e ficou até 2005. Pulou para a Honda, onde ficou apagado e ofuscado por três temporadas e parecia encerrar sua passagem na F1 melancolicamente, para deleite de seus detratores. Até que Ross Brawn, um de seus chefes na Ferrari, tratou de resgatá-lo e mantê-lo na equipe que levou o nome do engenheiro. Na maior oportunidade que teve na carreira de ser campeão, perdeu para o companheiro Button, mas voltou a ser protagonista no meio. Chegou a ser procurado pela McLaren, mas logo depois que já havia assinado pela Williams. Que tratou de acabar com tudo sem que Barrichello pudesse ao menos encerrar dignamente a carreira — e nisto está sua parcela de culpa. Rubens deveria ter sabido parar.

É claro que haverá quem concorde muito e quem discorde visceralmente com estas linhas, justamente porque cada um tem esta imagem extremista de Barrichello. Seja lá como for, mais uma vez se faz válido dizer que é inegável o valor de seu nome na história da categoria, e isso não se deve pelo recorde de longevidade contínua. Dizer que foi um dos pilotos que mais merecia um título pelo conjunto da obra pode suscitar sua aura de ‘segundão’, o que não é verdade. Só que este estigma que ele mesmo aceitou jogou contra. Barrichello teve em si essa coisa tão grande de vencer martelando, sabendo que não teria como, que o impediu de tal.

Mas tudo na vida tem um ponto final, e Rubens tem de saber colocá-lo devidamente. Indy, Stock Car, curtir a vida nos EUA com os filhos, que vá ser feliz. Para quem apenas observa de fora, vale a afirmação muito bem colocada do amigo pulha João Paulo Borgonove, com uma leve adaptação: Rubens Barrichello vai fazer falta à F1. O Rubinho do Brasil-sil-sil, não.

Adendo 1: assim que Senna foi anunciado em seu lugar, Barrichello deu uma entrevista ao Estadão dizendo que não correria na Indy porque havia feito uma promessa à mulher, fato sabido do grande público. Numa segunda entrevista ao mesmo jornal amigo, Nota-se que mudou de ideia, afinal já admite correr lá. Tudo bem, isso é o de menos, ainda que, sei lá, desfazer promessas não seja dos melhores fatos. Mas o que se tira de suas declarações é que sua postura, infelizmente, segue a mesma.

Rubens, numa questionável pergunta sobre mágoas e afins, afirma que não as tem, mas se põe visceralmente contra ‘pseudo-jornalistas’ de internet, que cometeram ‘crimes’ e que vai ajudar a ‘coibi-los’ de alguma forma. Isso é porque não tem mágoas. E se as tem, seria bom expor de vez. Para não ser tão dúbio tão claramente.

Perto dos 40, Barrichello continua o mesmo de tantos anos atrás, tratando por jornalistas quem o bajula e de pseudo quem não segue da sua cartilha. Pena.