Blog do Victor Martins
Troféu ACEESP

E como vale

SÃO PAULO | Não estava fazendo algo muito especial no momento do anúncio, por assim dizer. Levemente preocupado com a nova edição da Revista Warm Up, que deveria ter sido publicada ontem, e contrariado por mudar meus planos e deixar de ir à academia, atleta nato que sou, estava em casa entre garfadas de um […]

SÃO PAULO | Não estava fazendo algo muito especial no momento do anúncio, por assim dizer. Levemente preocupado com a nova edição da Revista Warm Up, que deveria ter sido publicada ontem, e contrariado por mudar meus planos e deixar de ir à academia, atleta nato que sou, estava em casa entre garfadas de um quiche de queijo e um pedaço de torta de presunto, ambos esquentados no microondas, quando tocou o telefone. Era da redação.

Flavio Gomes, todo pimpão, falou com um sorriso que se observava daqui à Av. Paulista. “Você ganhou, Martins”.

Degluti um pedaço, acho que do quiche, e estranhei, e então Gomes tratou de explicar logo, animado que estava também por ter abocanhado um Troféu ACEESP.

Ganhar um troféu. Ganhar um troféu é uma meta de vida que grande parte dos jornalistas têm, tal como qualquer pessoa com aquela história de plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Se eu considerar a tradução que fiz de uma obra da Ferrari, só me resta ter o Victor Jr.. Sem plano de produzi-lo ainda, o ACEESP de melhor repórter da imprensa escrita vai ocupar este espaço.

O prêmio não poderia ter vindo em melhor momento. Serve de impulso. Eu não andava muito contente com os rumos do Jornalismo. Com outros rumos. Eu me incomodo com injustiças e com a valorização da mediocridade, dessa transformação da nossa profissão em kitsch explícito. Eu me perturbo em ver que gente que merece melhor sorte por ser correto na vida sucumbe a estes rumos tortos.

Por um momento eu pensei em parar, em fazer qualquer outra coisa da vida que não fosse informar e escrever. Quase apostei, sei lá, em vendas. Relutei. Haveria de vir algo melhor. Veio. E ainda virá mais, certeza.

O mesmo Gomes já dissecou uma das suas dores de cabeça deste ano em seu blog. Compartilho da mesma. Evidente que não me passa por esta cabeça dolorida que o trabalho vá encontrar um ponto final, mas isso é o fruto mais maduro que a incerteza do futuro nos traz. O jornalismo ao qual estou acostumado, que aprendi aqui e que passo, como editor, para os demais é peça rara lá fora. A matéria que me deu este troféu é a que mais me orgulho de ter feito em oito anos, numa revista que ajudei a criar com o apoio do inesgotável Bruno Mantovani e do exímio Ivan Capelli, que exigiu investigação, paciência e apuração.

Por tudo isso, então, natural que o ACEESP represente um alento. Uma gratificação a todo mundo que me ajudou a compor a matéria, a Gomes — que merece ser premiado como melhor apresentador de rádio —, ao Fernando Silva, à Evelyn Guimarães, ao Felipe Giacomelli, ao Felipe Paranhos e à Luana Marino — e, claro, ao Mantovani e ao Capelli. Aos demais que fizeram e fazem parte da Revista Warm Up, Juliana Tesser, João Paulo Borgonove, Paula Gondim, Marcelo Ferronato, Marcus Lellis e Mauro de Bias. E não tenho um sentimento de Davi por ter vencido os Golias da grande imprensa, nem mesmo por representar a internet e uma mídia eletrônica — tem, sim, o de uma leve vingancinha aos que questionaram o teor da reportagem ou quem deu apoio ao erro, por interesse. Eu me sinto bem. Abobado, por vezes, mas muito bem, e quero compartilhar e agradecer a tanta gente que não gostaria de ser injusto e esquecer alguém. Aos amigos, aos leitores, aos que estão sempre do lado.

Abri uma cerveja e não fui além porque logo mais estou em pé para começar a cobertura do GP do Brasil — se é que eu vou conseguir dormir. Estou feliz pra caralho é uma expressão que não expressa com propriedade este dia e o meu estado. Talvez entendam melhor se eu disser que o último pedaço do quiche emborrachado e frio que ficou no prato há mais de cinco horas tinha o gosto da melhor massa do mundo.

E eu recebo o tapa com gosto que me explica que desistir, jamais.