Blog do Victor Martins
F1

Xabu Dhabi, 3

SÃO PAULO | Aqueles quem sempre acham que o copo está meio cheio e o pessoal que estava nas arquibancadas em Abu Dhabi de frente para Meca tinham alguma esperança de ver uma briga entre Vettel e Hamilton pela vitória em Abu Dhabi. Mas como a F1 está num clima de fim de feira, foram […]

SÃO PAULO | Aqueles quem sempre acham que o copo está meio cheio e o pessoal que estava nas arquibancadas em Abu Dhabi de frente para Meca tinham alguma esperança de ver uma briga entre Vettel e Hamilton pela vitória em Abu Dhabi. Mas como a F1 está num clima de fim de feira, foram 14 segundos e duas curvas até o furo do pneu traseiro direito do alemão. As flores não cresceram mais. Até o alecrim murchou. E murcho, Vettel desceu do carro, com uma cara de choro como se tivesse perdido a corrida de sua vida. Precisou até Bernie Ecclestone ir consolá-lo, enquanto tentava acessar o Facebook e o Twitter para colocar uma carinha de tristeza, =(, :( ou =/.

Certeza que Bernie chegou lá, deu um tapinha na bunda de Vettel e disse: “Fui eu que furei”. Fanfarrão.

Vettel teve oportunidade, digamos assim, de acompanhar uma corrida como um todo. Viu como é dura a vida de quem acompanha de fora uma prova tão insalubre como a que acontece em Abu Dhabi. Mas até que o começo foi legal, como tem comumente sido. Alonso pulou para o segundo lugar, jantando o apático Webber e o semielétrico Button, que tentou recuperar a posição. Mas voltas depois, eis que o rumo da corrida estava definido, com a ordem Hamilton – Alonso – Button – Webber – Massa.

O desenrolar mostrou que o problema de Button estava no Kers e que a Red Bull não tinha nenhuma chance de vitória com seu outro piloto. Sem Vettel, a Red Bull é uma Toro Rosso de grife, principalmente porque Webber não ajuda. Ainda, atrapalhou-se nos pits, devolvendo o australopiteco atrás de Massa. Claro que jantou Felipe, com certa dificuldade e até pouca inteligência — usava a asa traseira na primeira reta e permitia que Massa devolvesse a ultrapassagem na segunda –, mas nem assim conseguia se aproximar de Button. Aí a Red Bull me vem com uma estratégia diferente de três paradas.

Ali a Red Bull punha no lombo de Webber, com um ferro de gado, o quinto lugar. E aí Massa, então, poderia, vejam vocês, conquistar seu melhor resultado no ano, um inebriante quarto lugar, uh lá lá, e isso com a asa dianteira antiga, que, em termos de perfomance, é muito pior que a de Alonso, novíssima, e aquela patacoada toda que a patuleia é obrigada a ouvir como lobotomia pacheca.

Massa roda no fim da corrida. E como naquele desenho do Pica-Pau, em que o taxidermista vê voando 100 mil, 100 mil dólares, mansão, iate e mulheres, a quarta posição se vai. A Ferrari, na mesma hora, se manifesta no Twitter. “Spin for Felipe…”, com as reticências, meros três pontinhos, dizendo muito. Felipe chegou 1s7 à frente de Rosberg.

Não vai acontecer, claro, mas um dos muitos fatos que mostra a temporada escabrosa de Massa é que ele ainda pode perder o sexto lugar na classificação geral para o próprio Rosberg. Felipe tem de ser muito família, mesmo, para que Luca di Montezemolo, Stefano Domenicali e os demais o abracem com tanta força para mantê-lo lá — e é bom ressaltar que a mesma coisa acontece entre a Red Bull e Webber. Como o pedreiro João Paulo Borgonove disse, não parece Barrichello o brasileiro que está prestes a sair da F1. É uma pena atestar a cada 15 dias que Massa não representa nada para as ambições da empresa que o emprega, para o espetáculo de uma corrida e por quem quer que torça por ele.

Sobre Barrichello, uma bela corrida. Bela, mesmo. Sair de último, com pneus duros, para beliscar os pontos e chegar em 12º pode não ser muito aos olhos mais críticos, mas pelo menos demonstra que ele, sim, tem motivação para continuar. Depois da declaração do pedido de respeito, Rubens evitou escrachar a Williams, mostrou-se solidário ao time, publicamente, diante do infortúnio de ontem na classificação e foi lá fazer o seu, enquanto Pastor Maldonado se mostrava um daltônico seletivo e se perdia enquanto retardatário. Se essas provas finais representarem algo no futuro, Barrichello garantiu que tem sua lenha ainda. E seria um desrespeito, daqueles bem grandes, se a Williams vier nas próximas horas com o anúncio de Raikkonen como seu piloto.

Senna, então, vai se complicando de vez. Bom, a Renault não ajuda em nada. O carro parou na evolução justamente porque não tem em seus dois pilotos maestros em conhecimento técnico, muito pelo contrário. Mal ou bem, com Heidfeld vinha lá fazendo seus pontinhos. Foram 34 em 11 corridas. Petrov é inconstante. Bruno não consegue se livrar do pelotão do meio. Hoje tomou um drive-through à la Maldonado. Se ele mesmo sabe que precisava impressionar a equipe para garantir seu lugar em 2012, Bruno vê no desespero do time que está longe de tê-lo: a futura Lotus fala abertamente que vai esperar Kubica o tempo que for preciso. Porque sabe que nenhum dos caras que lá puserem a bunda tem metade da capacidade do polonês.

A Force India andou bem demais, sobretudo com Sutil, que perdeu nas voltas finais posição para Schumacher. Sutil, devidamente focado, é piloto de equipe de ponta. Os indianos, aliás, vivem uma situação diametralmente oposta à da Renault: têm três pilotos de ótima qualidade e uma bucha para resolver. Que já foi resolvida, na verdade: vão de Di Resta e Hülkenberg no ano que vem. Sutil é aquele que teoricamente corre muito por fora na Williams, caso essa história de Raikkonen não flua. E cairia bem até na Renault, com sua capacidade nos braços e nos patrocínios — pena que no começo do ano tenha brigado com um diretor do grupo Genii e se queimou lá. E Kobayashi voltou aos pontos. Ô, o Mito voltou, gritaram em Kobe e Fuji, com o som ecoando pelo mundo todo.

A F1 vem ao Brasil logo mais para vender seu último tomate e fazer a festa e a fuzarca. E por tudo, os pilotos brasileiros não vão ter muito o que comemorar.