Blog do Victor Martins
F1

S & F, 2

SÃO PAULO | A movimentação em Spa & Francorchamps começou logo de manhã, quando parte da negada quis mudar a regra do jogo na caruda e foi pedir a quem de direito que pudessem mudar a cambagem e trocar os pneus usados no Q3 de ontem alegando bolhas. O quem de direito vetou, recomendou que […]

SÃO PAULO | A movimentação em Spa & Francorchamps começou logo de manhã, quando parte da negada quis mudar a regra do jogo na caruda e foi pedir a quem de direito que pudessem mudar a cambagem e trocar os pneus usados no Q3 de ontem alegando bolhas. O quem de direito vetou, recomendou que passasse uma água boricada e cobrisse com band-aid, e assim Vettel foi, meio inconformado, para o grid seco. Mas foi na iminência do apagar das luzes que grande parte das atenções deixaram a frente para se concentrar ali na quarta-fila. Em Senna. Primeiros metros, largada mediana — Alonso já o havia superado —, passar Webber foi fácil, meteu o carro ali por dentro e não foi freando, não foi freando, não foi freando na La Source, e pobre Alguersuari, que vivia talvez seu melhor fim de semana na F1, acabando assim, destrozado con el corazón partío, como bem definiu Fernando Silva.

Torcedores atiraram a almofada na parede. O tio velho e bigodudo e o moleque dele desligaram a TV, bem como muitos tantos no Brasil-sil-sil todo. A corrida de Senna acabou ali também. Naquele circuito de 7 km, dar uma volta lenta até chegar aos pits para conserto dos eventuais reparos foi fatal. Botou pneus novos para não mais sair lá do fim do pelotão. Nem mesmo a entrada do safety-car no acidente de Hamilton lhe foi favorável, até porque, inexplicável e burramente, a Lotus Renault não o chamou para nova troca dos Pirelli. Mas é bem provável que nem uma mudança radical no tempo, que baixasse a temperatura uns tantos graus centígrados, e não Celsius, e levasse Irene dos EUA para a Bélgica levaria Bruno de volta à frente. Falta bagagem para tal ainda. Uma sexta mediana, um sábado excelente e um domingo ruim: este é o saldo do primeiro fim de semana efetivo de Senna na F1. O primeiro e o terceiro dia foram marcados pela afobação; o do meio, pela qualidade inerente à família em pista molhada. 13º lugar, e uma bela experiência adquirida, sobretudo, para evitar tais erros. E que tome cuidado na largada igualmente problemática de Monza, daqui duas semanas. Acelerar, Bruno sabe. Mas que tenha em mente quando pressionar no momento devido o pedal da esquerda.

Rosberg, que parecia ser Nico, e não o pai, fez a largada da vida e pulou na ponta para atrapalhar Vettel em duas voltas e nada mais. E Massa para uma corrida quase que toda. O atestado de que o alemão e o brasileiro passaram boa parte da temporada disputando posição é uma metáfora para o fraquíssimo desempenho que Felipe vem tendo. Daqui a pouco sigo nisso. Mas Vettel foi lá para as cabeças, Massa ficou preso, Alonso chegou, fez-se um mise-en-scène para segurar o companheiro, o óbvio e de sempre aconteceu, passou, Hamilton passou, todos passaram Rosberg, menos Massa, e o negócio era ali entre os três.

Os caras que mais reclamaram do estado de seus pneus pararam primeiro — as Red Bull e Hamilton —, e Alonso acabou tendo uma tática fora da janela dos ponteiros, independente do composto que colocassem. Nas idas e vindas, era o espanhol quem parecia vir com mais força. Parêntese: quando Alonso voltou à pista, encontrou Webber, que fez uma ultrapassagem por fora na entrada da Eau Rouge que ouso classificar como uma das cinco maiores que já vi — a primeira, claro, 1996, Cart, Zanardi sobre Herta no Saca-rolha em Laguna Seca. Tirando a largada pífia, Webber estava com a chimpanzé no fim de semana, nem macaca era. Acho que tomou muito Camberra Milk. Fecha parêntese. Aí veio outra de Hamilton: o toque com Kobayashi, o que é imperdoável, a explosão do patrocínio da Allianz em isopor, o apagão momentâneo no carro, o berro pela insensibilidade do cara do GC em tirar da transmissão a faixa da TV que mostrava os tempos, o safety-car e a sacada da Red Bull em chamar Vettel de novo nos pits para recomeçar a prova ainda ali na frente e com mais vigor. Não tardou muito, pois, para que o campeão/bicampeão jantasse Webber e Alonso tão logo a prova foi retomada, e lá estava ele na frente para não mais sair dali. Finito.

Se na frente o negócio era favas contadas, atrás vinha Button. É pecado mortal e eterno dizer que é o piloto do ano? O cara é sublime, pelamor: sai em 13º, vai passando todo mundo e mesmo com o desgaste que provocam as disputas, lá estão os pneus prontos e inteiros para virar até mais rápido do que os ponteiros. E olha que Button foi atrapalhado no entrevero entre Senna e Alguersuari, do contrário perderia menos tempo para passar a rapa toda. Aí apareceu em oitavo, passou Schumacher e Sutil, chegou em Massa-Rosberg, deu uma dica para o brasileiro de que ele podia ser bem sucedido sem precisar entrar juntinho na La Source para contornar a Eau Rouge pertinho e usar o DRS para tentar a manobra na reta e tal, mas preferiu não jogar o tempo ao léu. Button trocou o pneu e foi lá buscar Alonso. Foi como a terceira vitória no ano, o terceiro lugar.

A turma de trás também estava levemente empolgada. Kobayashi, indestrutível, teve de ficar vendo a turma do bololô, Maldonado, Barrichello, Di Resta, Petrov e o companheiro Pérez, que acertou Buemi e forçou a Toro Rosso a testar uma asa com cambagem. Não deu muito certo, e Buemi abandonou e fez cara feia, sem muito esforço. O Ligeirinho também acabou abandonando, e coube a Maldonado um mísero e primeiro pontinho no ano. Barrichello, que até parecia perto da zona de pontos, teve um toque com… Kobayashi! E um toque no mito, já sabe: qualquer um sai na pior. Some-se a isso a fase ruim de Rubens, e o resultado é terminar a prova atrás das duas Lotus verdes. É pior que fricassê de jiló.

Schumacher. Lembrou os velhos tempos. Saiu em último, já era 14º na primeira volta, e foi ali cozinhando o galináceo até dar os botes na hora certa e chegar em Rosberg, que não mais tinha Massa em seus retrovisores por conta de seu furo no pneu. A Mercedes abriu a disputa, e o alemão mais velho, com pneus mais novos, passou. Um quinto posto do qual Michael deve se orgulhar em seu convescote de 20 anos de F1.

Sobre Massa, sei lá, é o que tem sendo dito e visto e a tecla é a mesma, sempre tocada nas desculpas da transmissão. Hoje foi a tração. Problema de tração. Felipe tem tido problema de tração há uma temporada e meia. Vai um relato: antes da corrida, na BBC, Vettel dava uma entrevista e falava deste período pós-férias, teoricamente mais difícil para a Red Bull. Não anotei a declaração, exatamente, mas ele disse algo do tipo ‘ah, porque agora eu, Mark, Fernando, Jenson e Lewis vamos brigar pelas vitórias e…’, o que mostra exatamente que até os pilotos não mais acreditam em Massa brigando por vitórias. A defesa que sempre é apresentada é tipo a ameaça que as federações estaduais de futebol estão fazendo às torcidas organizadas para não protestarem contra Ricardo Teixeira neste domingo: funciona ao contrário. Aí Massa acaba sendo visto como o oposto, como ruim, o que, de fato, não é. Só que um cara que tem um canhão vermelho na mão não pode passar uma prova toda, ou uma temporada toda, atrás de um estilingue prateado. Aí a Ferrari se vê obrigada a elogiar o piloto alheio. “He (Jenson) is very ambitious”, enquanto, até ironicamente, a equipe escreve um “Felipe passed Maldonado”. Massa tem bem menos da metade dos pontos de Alonso com 2/3 de campeonato. Para um piloto de nível de ponta, não dá.

Ao torcedor brasileiro, sua vida tem sido muito difícil. Isso em qualquer escala. Mesmo centígrada.