Blog do Victor Martins
Stock Car

Um milhão para a corrida

SÃO PAULO | Posso estar cometendo uma injustiça, mas como nossa memória é seletiva e cada vez mais velhaca, vai assim, mesmo: a corrida de hoje da Stock Car foi a melhor que eu já acompanhei. E se tivesse de dar uma fatia de prêmio para quem fez dela desta forma seria Marcos Gomes. Caso seu carro […]

SÃO PAULO | Posso estar cometendo uma injustiça, mas como nossa memória é seletiva e cada vez mais velhaca, vai assim, mesmo: a corrida de hoje da Stock Car foi a melhor que eu já acompanhei. E se tivesse de dar uma fatia de prêmio para quem fez dela desta forma seria Marcos Gomes. Caso seu carro não apresentasse uma quebra de um componente da suspensão depois da parada nos boxes, seria provavelmente o vencedor. Mais lento, começou a segurar todo mundo. E aí provocou um agrupamento atrás de si dos mais vorazes.

Porque juntou Serrinha, Khodair, Popó e Camilo num primeiro momento. Os quatro começaram a trocar posições, sem superar Gomes. Camilo, aliás, chegou a ficar em quinto neste bolo, até que em manobras externas no S do Senna e na Curva do Sol escalasse o pelotão para, na reta principal, efetuar a manobra de ultrapassagem sobre o então líder. Uma vez livre, Thiago abriu uma vantagem comodíssima. Ganhou ali a prova, ainda que apresentasse um problema na direção hidráulica, e vai gastar parte do dinheiro na construção de uma mansão luxuosa num condomínio fechado — e mais uns tantos mil dinheiros na balada de hoje, certeza.

A resistência bravia de Gomes fez com que o segundo pelotão se aproximasse, e nele estavam Nonô, Max, Átila, Campos, Pizzonia e os irmãos Ricardo e Rodrigo Sperafico. O push-to-pass acabou sendo fundamental para a derrocada de Marcos, que ficou em 11º e novamente frustrado ao não ver o milhão na sua mão pelo segundo ano seguido largando na pole. No vaivém das voltas e das brigas, Khodair viu-se tocado por Popó, em um incidente aparentemente de corrida, e Nonô e Max foram para as cabeças para brigarem pelo último lugar no pódio, visto que Serra, como Camilo, consolidava seu posto. No fim, a espetacular corrida de recuperação de Wilson, que saiu em 30º, o premiou. Nos boxes, teve quem perguntasse para Figueiredo: “E ae, Nonô?”, naquele tom da propaganda com o surfista, bem descolada. Ele se emburrou.

Sobre Villeneuve, 18º lugar. Ouvi e li por aí uma série de gracejos e coisinhas, “ah, pagou mico”, “ele estava na Mico’s, normal,” rsss, huahuahua, e demais risadinhas cretinas e juvenis. Vamos a umas constatações: o cara chega numa quinta-feira, anda duas horas com um carro que nunca guiou e, pelo simples fato de ele ser campeão de F1, Indy e ter vencido a Indy 500, tem obrigação de pegar a manha e o traquejo do veículo? Cacá Bueno, no WTCC, tem de ter os mesmos resultados que tem na Stock, assim, de prima? Se Khodair, Serrinha e Átila forem chamados agora pela GP2 para fazerem o fim de semana em Spa-Francorchamps e voltarem aos monopostos, espera-se deles que andem mais rápidos que Grosjean, Filippi e até mesmo Razia? Diante das condições, ter liderado a corrida — e quedê a TV mostrando Jacques ou mesmo Ricardo Sperafico na liderança? A Shell, que promoveu essa vinda, deve ter ficado muito feliz… — e acompanhado o ritmo do pelotão do meio está bom e decente demais. Vai aí um conselho ao marketing da Shell: por que não chamá-lo para o resto do campeonato e ou para os playoffs?

Há de se dizer mais uma verdade: pode ter lá seus infindáveis defeitos e problemas, mas a Stock Car tem um grupo de pilotos de altíssimo nível. E não cabem nos dedos da mão, não: vão além. É gente de qualidade que precisava ser tratada com mais respeito por essa gente que compõe o campeonato, tipo CBA (pfff!), Vicar e JL.

A memória não precisa ser seletiva: é a primeira vez que dedico um texto para falar unicamente de uma corrida da categoria. Não pude ir a Interlagos por motivos trabalhísticos — acompanharei a deliciosa Indy hoje —, mas pelos relatos da incisiva Juliana Tesser e da pré-demitida Evelyn Guimarães, além dos demais, me parece que o evento foi bacana e houve organização — apesar de esta e alguns outros terem tentado, digamos, queimar nosso isento e imparcial trabalho para Villeneuve; coisinha bem tosca, mas que não é de estranhar pela pequenez alheia. Oxalá, como diria minha tetravó, fosse sempre assim, a caríssima Stock Car. Má vá, sabe-se bem que não será.

Para encerrar, nada mais justo para Gomes um consolo…