Blog do Victor Martins
Futebol

Copinha América

SÃO PAULO | Não é o torneio mais chato do mundo. Acompanhar lacrosse ou tênis de mesa pela TV é maçante, faz a insônia dormir, e a gente se sente meio perdido e inútil. Que seja. O campeonato tem lá sua validade, e até seu brilho, a partir das semifinais. É quando um dos quatro grandes […]

SÃO PAULO | Não é o torneio mais chato do mundo. Acompanhar lacrosse ou tênis de mesa pela TV é maçante, faz a insônia dormir, e a gente se sente meio perdido e inútil. Que seja. O campeonato tem lá sua validade, e até seu brilho, a partir das semifinais. É quando um dos quatro grandes mais o quinto da vez cai. O resto da competição é mera perfumaria. Assim é a Copa América, e as emissoras, principalmente a principal, tentam fazer dela um evento de grande porte — nesta edição, especificamente, por ter  ficado sem o Pan-Americano — porque virou um dogma traçar um plano de enfrentar a Argentina na final e vociferar que as duas seleções, junto com a turma da Europa, formariam a Copa do Mundo dos sonhos, amigo.

A geografia da fifa — em minúsculo, mesmo; cabe ao seu valor — diz que a América do Sul só tem dez seleções. As Guianas e o Suriname não brincam. Tudo bem, até melhor. Só que para emparelhamento das chaves, 12 times é o menos ruim. E a América é dividida, e cada uma forma sua patota. Do lado de lá, sobram sempre Estados Unidos e México a cada dois anos. O resto da competição é mera perfumaria. Assim é a Copa Ouro, e nem as emissoras esportivas a cabo deste lado se preocuparam em passá-la por estas bandas, tamanho é seu valor.

Agora a Copa América acontece a cada quatro anos, mesmo tempo da Eurocopa. Dadas as situações acima, com um pouco de estudo analítico, seria mais sensato e coerente que fosse usado um sistema semelhante, então. Mas sensatez e coerência e dirigentes do futebol são como água e óleo. Pena. Como forma de valorizar o próprio torneio, uma proposta bolivariana de uma América unida caberia muito bem. São 40 seleções lá, 50 no total com as que se tem aqui. Tira a sede, compõem-se eliminatórias em grupos, formam-se 7 grupos de 7 equipes, passam as duas primeiras de cada grupo e o melhor terceiro colocado. E aí se tem a fase final com 16 seleções.

Porque se a Copa América é um campeonato meia boca, essa Copa Ouro que se disputa lá na parte do norte é varzeana. Com todo respeito, um torneio que tem Guadalupe e Granada não merece muito crédito. Guadalupe, diria um amigo meu, é nome de tia velha de novela mexicana. E Granada, ele completaria, é aquilo que sempre explode sobre Willie, o coiote, do Papa-Léguas.

Alguém há de dizer que na Europa é a mesma coisa e que as virtuais eliminatórias de grupos na América teriam equipes muito fracas. Alguns pontos: lá, são pelo menos seis seleções de grande porte — tiro a Dinamarca por modéstia: Espanha, Holanda, Alemanha, Inglaterra, Itália e França. Coloca aí Portugal e Rússia que dá um bom caldo. E num escalão abaixo, ainda há Suécia e Suíça e alguns times da ex-Iugoslávia — a Sérvia é boa de fase de classificação, a Croácia tem lá sua técnica e agora surge Montenegro no cenário. Só nessa, já são 13. Sai algo interessante. Ponho a Dinamarca? 14. Jogo ali a Eslováquia? 15. República Tcheca arrumadinha e decente? 16. Fecha. Sobre os times de beira de estrada, lá tem San Marino, Andorra e Luxemburgo, por exemplo. Seria simpático ver Montserrat, Martinica e Curaçao disputando a brincadeira.

Da forma atual, por aqui, é obrigatório lidar com Peru, Bolívia e Venezuela — ainda que esta última tenha tido uma evolução de se aplaudir nos últimos tempos. Mas o escalão delas é muito abaixo do segundão da Europa. Aí convites a equipes de outro continente são feitos. México. Beleza, o México é bom. Mas aí o México não pode vir com o time titular, que ganhou a tal Copa Ouro. Manda os moleques. Aí fazem putaria, e oito são dispensados. Esquece. Pensam no Japão. Coitados dos portugueses com as nossas piadas. O Japão não vem, terremoto e tsunami e vida para tocar. Corre para arrumar outra seleção. Escolhem a Costa Rica. Sub-22. A isso chamo catadão.

Então a gente põe no papel que dos 12 participantes, são sempre aqueles cinco: Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai e o quinto que se reveza com constância. Nos anos 90 eram a Colômbia, depois apareceu o Equador, e de um tempo para cá, o Chile. E é isso. Os únicos atrativos que a Copa América deste ano têm são o possível e propalado confronto entre Messi e Neymar possivelmente no último jogo e a volta do Uruguai como força — primeiro por seu quarto lugar na Copa do Mundo e segundo porque nem Brasil nem Argentina tem tido equipes fortes nos últimos tempos. Um jogador só não faz mais verão nem título.

Mas o Brasil está preocupado, e Mano Menezes e seus comandados já têm falado em respeito e que o jogo pode ser feio contra a Venezuela. Pelamor, vai.  Se Batista, técnico da Argentina, disser o mesmo contra a Bolívia, interna junto. Brasil e Argentina tem duas tetas-de-nêga no início desta jornada. Os confrontos preliminares são díspares e previsíveis e servem apenas para compor bolão.

E para jogar conversa fora no bar, no vaivém da cerveja e do queijo com azeitona, e discutir coisas como essa e usar como pano de fundo. É assim que farei logo mais à noite, com Argentina e Bolívia, um dos tantos jogos sem importância desta copinha.