Blog do Victor Martins
Automobilismo brasileiro

Juntas e misturadas

SÃO PAULO | Pingou na caixa de e-mail na manhã de hoje uma nota da Vicar, promotora da Stock Car, assinada pelo presidente da citada, Maurício Slaviero, que reproduzo na íntegra: Em respeito aos fãs, imprensa, patrocinadores, equipes e pilotos, a Vicar Promoções Desportivas S/A gostaria de informar que suas atribuições e da Confederação Brasileira […]

SÃO PAULO | Pingou na caixa de e-mail na manhã de hoje uma nota da Vicar, promotora da Stock Car, assinada pelo presidente da citada, Maurício Slaviero, que reproduzo na íntegra:

Em respeito aos fãs, imprensa, patrocinadores, equipes e pilotos, a Vicar Promoções Desportivas S/A gostaria de informar que suas atribuições e da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) são totalmente distintas, e vem esclarecer o que segue:

– que a Vicar Promoções, como o próprio nome diz, é uma empresa que promove eventos esportivos, responsável pela promoção e realização da Stock Car e outros campeonatos do automobilismo brasileiro, gerindo as áreas comerciais e promocionais.

– que a CBA, entidade máxima do automobilismo brasileiro, é a responsável por gerir as competições no que se refere às questões técnicas e desportivas, tendo total gerência sobre as decisões dos comissários, diretores de prova ou qualquer outro oficial de competição nomeado e ou homologado por ela..

– que os vários serviços contratados para a execução das atividades de operar e fiscalizar as competições, tais como sinalização, resgate de pista e médico, todos os oficiais de competição (como diretor de prova, comissários, cronometristas, entre outros), são pagos pelas empresas promotoras para que estejam à disposição da CBA durante todo o evento.

– que todos os recursos físicos, tais como equipamentos eletrônicos, monitoramento das imagens de pista, instalações, mobiliário, safety car, medical car, carros de resgate, ambulâncias, carros pipas, varredeiras, etc., são também providos pelas empresas promotoras para atender as necessidades da CBA.

– que está claro que são de inteira responsabilidade da entendidade máxima do automobilismo brasileiro, CBA, as decisões tomadas pelos seus oficiais, tais como orientações, punições e resultados.

– que a Vicar sempre buscou uma postura parceira da entidade, procurando auxiliar em tudo que esteve ao seu alcance para que o resultado dos trabalhos fosse sempre os melhores possíveis.

– que a Stock Car é uma competição esportiva, assim como tantas outras, sendo que as empresas que as promovem não deveriam ser responsabilizadas por erros e acertos de decisões técnicas e desportivas. Será que as empresas promotoras dos torneios de futebol deveriam ser responsabilizadas por um pênalti mal marcado?

– que pilotos e equipes são filiados à CBA, e nesta relação têm direitos e responsabilidades, portanto quaisquer questionamento relativo às orientações, punições e resultados de pista deve ficar no âmbito da entidade e seus filiados. Não cabendo às empresas promotoras manifestarem-se sobre tais assuntos.

– que a Vicar, juntamente com equipes, pilotos, patrocinadores e demais parceiros, trabalhou muito para levar a categoria ao patamar de profissionalismo e prosperidade que hoje se encontra, principalmente se comparado ao que existia há alguns anos. Obtendo ótima visibilidade institucional, nunca antes alcançada no automobilismo brasileiro. Além disto gerando grande quantidade de empregos diretos e indiretos e a oportunidade para diversos pilotos profissionalizarem-se no automobilismo brasileiro.

Muito que bem. A Vicar esperou 25 dias e a véspera da etapa em Jacarepaguá para se manifestar depois de mais uma polêmica. Ao fazê-lo, deixou no ar um punhado de pontos. Primeiro que passou ao largo da grande questão: esclarecer. Para quem lê sua nota, chegando d’outro mundo, pouco entende qual é a intenção da empresa promotora. Faltou pontuar claramente que seu comunicado se dá em virtude das tamanhas contestações de resultados feitas por pilotos e equipes, originadas pelas decisões dos comissários, a mais recente relativa à punição aplicada em Campo Grande aos dois pilotos da Red Bull, Cacá Bueno e Daniel Serra, por um eventual excesso de velocidade nos pits.

Teoricamente, as atribuições da Vicar e da CBA deveriam ser “totalmente distintas”. Mas não o são, a gente sabe bem. Mas partindo do princípio de que Vicar é promotora e a CBA, executora das áreas técnica e desportiva, deveria exigir a promotora um melhor serviço de sua executora. Do jeito que está, a CBA acaba fazendo o trabalho inverso da Vicar, isto é, despromover o evento. Lá na F1, há comissários preparados e aparentemente isentos, que não carregam em suas decisões punitivas rancores pessoais, e um ex-piloto da categoria — de Emerson Fittipaldi a Emanuelle Pirro — para respaldo. Há um caminho interessante a se seguir, pois.

Como o comunicado da CBA sai em decorrência dos fatos de Campo Grande, vamos a eles: a questão toda originou-se porque o equipamento de medição da cronometragem apontou que Serra passou a 80 km/h nos pits e Cacá, a 137 km/h. Durante a corrida, ambos tomaram um drive-through. A telemetria da Red Bull apontou que nenhum dos dois superou o limite de 50 km/h. A empresa de cronometragem alega que não houve falha. A CBA diz que seus comissários apenas obedereceram ordens superiores. Convenhamos que não é preciso ser comissário para identificar que um carro passa a 137 km/h — alta velocidade — diante de si. Na hora, algum comissário alertaria à torre, por seu sistema de comunicação, que pode ter havido ali uma irregularidade, que seja. Mas indo ao ponto: a cronometragem é de responsabilidade da Vicar.

Foi a Stock Car quem contratou a Tag Heuer, que teoricamente responde pela cronometragem da categoria. Mas a empresa suíça apenas fabrica o software e fornece os equipamentos. Porque quem cuida, mesmo, da coisa toda é a Novo Tempo.

E aí a gente busca num passado não muito distante alguns fatos que envolvem bastidores: a Novo Tempo entrou na Stock Car depois de anos e anos de serviços prestados pela Cronomap de Aldo Pastore. A Cronomap só deixou a categoria no fim de 2009 porque houve um rompimento com Nestor Valduga, presidente do CTDN, braço da CBA. Valduga que, digamos, indicou a Novo Tempo, pelos serviços que a companhia prestava lá na gaúcha FGA.

As atribuições podem ser “totalmente distintas”. Mas CBA e Vicar seguem indissociáveis e, da forma que as coisas vêm acontecendo, com isenção de responsa, não vão fazer gol nem com pênalti mal marcado ou sem goleiro.