Blog do Victor Martins
F1

La Comunitad, 2

SÃO PAULO | A esta hora, na casa de veraneio da galera da FIA em Nice, o tiozão do churrasco está virando a costela e o baby-beef, de olho na taça de vinho de Jean Todt, que não para de girar nas mãos do presidente. Ele pensa: “Não deu certo”, e tira uma listinha do […]

SÃO PAULO | A esta hora, na casa de veraneio da galera da FIA em Nice, o tiozão do churrasco está virando a costela e o baby-beef, de olho na taça de vinho de Jean Todt, que não para de girar nas mãos do presidente. Ele pensa: “Não deu certo”, e tira uma listinha do bolso e risca lá a opção “cartographie moteur”. Ali abaixo, Todt tenta escrever com sua Montblanc, abaixo do item “Adrian Newey” um outro nome, mas logo risca para que ninguém veja. “Daria muito na cara”, e verte o vinho, que desce mais seco que sua natureza.Vettel e Red Bull. Não há regra que os pare.

No fim, fica feio para a própria FIA tentar mudar a regra do jogo em seu andamento. E se acham brechas no regulamento, que aprendam a redigi-lo para o ano seguinte — e não, achar brechas não é sair fora (sic) do regulamento. A coisa já é restrita ao extremo em termos técnicos para dar um ar de competitividade maquiado, e limitar a capacidade de Adrian Newey e sua turma e o talento exuberante de Vettel prova ser uma inutilidade.

Não há McLaren, nem Ferrari, nem mesmo Webber que consiga equilibrar um fato: Vettel é intangível.

E nenhum piloto pensa no churrasco de Nice nem na aposentadoria quando está guiando. Nem mesmo Trulli, que a cada fim de semana demonstra estar em sua última temporada, faz isso. Webber, pois, simplesmente não anda no passo do companheiro porque não é tão bom quanto. “Mas no ano passado ele não era ótimo e tal?” Aos poucos, vai se percebendo que Webber andava em 2010 no ritmo limitado e imaturo de Vettel. Uma vez campeão, Sebastian subiu sete degraus e mostrou as fronteiras que Markola não consegue ultrapassar.

O lugar de Webber tem de ser este, mesmo, o segundo. Arrumou no fim a volta que lhe deu a primeira fila, jogando as McLaren e Ferrari intercaladas na segunda e terceira. Na quarta, a quarta força, a Mercedes. Na quinta, os que sabiam que não sairiam dela, Renault (Heidfeld) e Sutil (Force India), que mal treinaram. O que é ridículo. Os caras, pensando na corrida, pouparam pneus. Não é ridículo poupar pneus. Em vez de promover a caça ao touro, a FIA tinha de pensar em mudar algo na classificação para que a parte que deveria ser o filé mignon não represente um acém para os mais pobres.

Barrichello se perdeu na parte final de sua volta final na sessão, mas não conseguiria passar para o Q3, como ele mesmo disse à TV. No começo foi na linha de que o carro era o problema, mas deixou para o fim a confissão de seu “errinho”. Quebrou, ao menos, a sequência de largadas atrás de Maldonado, auxiliado pelo problema que o venezuelano teve. Verdade seja dita, o venezuelano tem se saído melhor do que o previsto. Incomoda.

Valência não é um primor de GP. Pelo contrário, é artificial como casamento de coelhinha da Playboy. Sem eufemismos, sempre foi um porre de vinho que Todt não toma. Mas se a corrida em Mônaco foi excelente por conta das variáveis (DRS, Kers e pneus que desgastam), há uma possibilidade que as coisas sejam diferentes amanhã. Alonso, Hamilton, Button e Massa não devem fazer da vida dos carros taurinos tão fácil assim. Os prateados, principalmente, pela adaptação às regras deste ano, tendem a brigar por um lugar no pódio. Do contrário, a Red Bull e Vettel vão mostrar mais uma vez o mapeamento da mina, enquanto o tio do churrasco ri da carne nobre que entala na garganta alheia.