Blog do Victor Martins
F1

Bordos, 3

SÃO PAULO | E tem gente que acha Button ruim. Porque Button nunca foi um piloto de dar espetáculo. O que Button conseguiu na carreira até agora foi pelo seu fino trato, e com um carro que por metade de uma temporada era excepcional, a Brawn, soube destruir seu companheiro e ganhar um título. A conquista […]

SÃO PAULO | E tem gente que acha Button ruim.

Porque Button nunca foi um piloto de dar espetáculo. O que Button conseguiu na carreira até agora foi pelo seu fino trato, e com um carro que por metade de uma temporada era excepcional, a Brawn, soube destruir seu companheiro e ganhar um título. A conquista lhe valeu o passaporte para a McLaren e uma batalha contra um piloto que era seu avesso e devidamente mimado por mais de uma década por aquela casa. Button não mudou de 2010 pra cá, e embora tivesse andado na maioria das vezes atrás de Hamilton, os resultados em si não eram tão diferentes no cômputo geral. Mas porque Hamilton é mais agressivo, Button, seu oposto, só podia ser passivo. Button, pois, é ruim, é a relação que muitos fizeram e ainda hão de fazer, não muito convencidos pelo que fez hoje.

Bom. Button, hoje, deu espetáculo. “É possivelmente minha melhor corrida”, declarou. Dispense o “possivelmente”. Certeza que foi a melhor corrida. Não porque Button foi Hamilton. Porque Button foi melhor que Hamilton. Button soube dar um show hoje ainda sendo Button. Ao ser tocado por, oh!, Hamilton no começo da prova do Canadá, Button se fez por segundos insano, se refez e depois soube deglutir uma punição — por ter superado a velocidade limite em período de safety-car que liderou as primeiras voltas. E Button caiu pro fim e foi se superando, até encontrar Alonso e sofrer novo toque. Pneu furado, Button recomeçou de novo.

Veio a chuva, o vaivém das condições, novas trocas de pneus, mais safety-cars, e o fim, 4 horas depois, todo mundo viu, com o erro de Vettel na última volta, pressionado por over-Button. Button venceu, comemorou e, ainda que não tivesse culpa — a F1 anda numa viadagem imensa, mas foi um mero incidente de corrida —, pediu desculpas pelo toque com Hamilton. Muitos já viram isso como a confissão de seu erro. Erro é achar Button ruim.

Lembre aí um erro que Button tenha cometido. Nem precisa ser desses, crasso. Compare se a ficha corrida dele tem metade da extensão do que Hamilton tem, com mais da metade do tempo que Lewis tem de F1. “Ah, mas Button não comete erros porque não é agressivo como Hamilton”. Caímos num círculo. E lá está Button, em segundo no campeonato, consagrado, enquanto Hamilton é posto sob dúvidas. Assim é a vida e seu microcosmo do automobilismo.

À corrida: corridaça, né? Como foram as outras todas. Mas vão algumas críticas. Principalmente a esta direção de prova cafona e conservadora. Bastou pingar, eles pensam em safety-car pra largada. Não tem essa de que era a primeira vez que tinha pista úmida. Qualquer chuvinha, bota o Maylander e seu Mercedes lá na frente. Não contentes, ficam rodando, rodando, rodando, gastando volta na pista totalmente praticável. Puta saco. Depois da paralisação foi a mesma coisa.

Aliás, a quem quis comparar as situações: Montreal, depois da chuva: 42 minutos e corrida; Anhembi, depois da chuva: 3 horas e adiamento.

Enquanto isso, Vettel via de novo outra prova, enquanto as trocas mais atrás aconteciam. Kobayashi subia e chegava pouco a pouco perto do alemão, pelo menos em termos de posição. Ficou mais de 2 horas em segundo, o que é um recorde para um japonês na F1. Só ele. Um mito, claro. Schumacher tomou 7 injeções de adrenalina enquanto a pista estava molhada. Aí secou, e o alemão e o japonês foram caindo. Michael vendeu caro sua posição no pódio. Não havia como segurar Webber, apesar de seus vários cortes de chicanes, e Button show-man. Kobayashi só chegou em sétimo, perdendo posição para Massa na linha de chegada.

Massa, Massa. Teve um dia de Hamilton. E ter um dia de Hamilton não anda sendo lá essas coisas. Seguiu Alonso, passou-o nos pits, mas ficou encaixotado atrás de Kobayashi uma semana e meia, e só o ultrapassou quando Kamui errou — naquele momento do duplo passão de Schumacher. Aí Massa foi pros pits, saiu, andou alguns km e andou fora do trilho seco. Escorregou e bateu. Ainda se recuperou. Mas arrisco dizer que hoje dava pra Massa conseguir algo muito melhor. Não sei se vitória, mas dava pra ir pras cabeças com Vettel.

E Vettel cometeu seu primeiro erro em corridas ao subestimar este Button. Acossado, errou na última volta. É uma experiência para Vettel, que nunca mais há de levar seu ritmo no ritmo dos demais — no caso, Webber e Schumacher — para ir administrando. A corrida era dele se tivesse aberto uma distância suficiente, e tinha carro para tal. Mas que seja: cinco vitórias e dois segundos lugares na temporada dão o tom de seu domínio.

Petrov beliscou um quinto lugar. Numa toada à Button, até que o russo não tem feito feio esse ano. Tem se livrado da pecha de piloto pagante. Alguersuari, enfim, pontuou, Barrichello foi nono e Buemi fechou a zona de pontos.

A prova de hoje, a mais longa de todos os tempos, entra para a história. Aliás, a fase é ótima. Indy 500 e o GP do Canadá foram memoráveis, por exemplo. O povo não tem do que reclamar. O automobilismo, pelo menos na fora, está vencendo.