Blog do Victor Martins
F1

Visão de(s)gracia

SÃO PAULO | À la Wikileaks, vazou o relatório feito pelo emissário da FIA ao Bahrein, que fez a entidade encaixar o GP ainda nesta temporada, daqui pouco menos de cinco meses. Se a CBA ler, vai pendurar na parede na sede lá no Rio. O negócio beira o absurdo. O escolhido pela entidade foi o […]

SÃO PAULO | À la Wikileaks, vazou o relatório feito pelo emissário da FIA ao Bahrein, que fez a entidade encaixar o GP ainda nesta temporada, daqui pouco menos de cinco meses. Se a CBA ler, vai pendurar na parede na sede lá no Rio. O negócio beira o absurdo.

O escolhido pela entidade foi o presidente da Federação Espanhola, Carlos Gracia. Seu relato de sete páginas detalha seus passos por Manama e região. Além de parecer um diário adolescente, fica evidente que a avaliação do dirigente tomou principalmente como base as garantias dadas justamente por governantes, e suas opiniões acabam não refletindo o que o mundo tem acompanhado da situação quase beligerante do país.

Gracia foi recepcionado no Bahrein por Abdulla bin Isa Al-Khalifa, presidente da Federação de Automobilismo local, curiosamente pertencente à família monárquica. Junto ao Ministro da Cultura, que também é um Al-Khalifa, chegou-se à conclusão que, culturamente, “nada mudou”, tanto que seguem os preparativos para um festival de verão no mês que vem, além de o turismo ter aumentado. Na reunião, um representante da Unesco disse que as reportagens feitas pela mídia são “inapropriadas” e que o Bahrein não pode ser comparado a Egito, Líbia e Síria.

Aí Gracia falou com outro ministro, do Interior, outro Al-Khalifa. Que admitiu que houve protestos violentos, mas que depois de cinco dias a paz foi retomada. Depois, negaram ao emissário que 25% dos funcionários do circuito do Bahrein estavam presos por conta de tais protestos. Danadinho, Gracia quis conversar com alguns dos empregados — lembrando: do circuito que pertence ao governo. Todos foram só flores.

Para encerrar, Gracia foi ao shopping. Lá encontrou um grupo que organizava uma petição para que a corrida fosse realizada. Mais: “Muitas pessoas faziam suas compras sem sinais de estarem preocupadas com os acontecimentos recentes. A vida seguia normalmente”. A conclusão foi de que “não houve indicação de qualquer problema ou razão para que o GP do Bahrein não retornasse ao calendário de 2011” porque, dentre outras, “a atmosfera é de total calma e estabilidade”.

Vai falar isso para dois jogadores de futebol da seleção barenita, que estão presos. Juntos com atletas de handebol e basquete. Um dos futebolistas, o atacante Alaa Hubail, pediu encarecidamente, em entrevista à CNN, que “todos os pilotos, jornalistas e demais profissionais sejam solidários e não compareçam à etapa” porque “este será considerado o esporte do regime opressor”. Mas a FIA preferiu se basear no relato sem “gracia” de seu representante.

Sim, a sarna já foi arrumada. Logo há de coçar. E não vai sair de “gracia”, não.