Blog do Victor Martins
Automobilismo brasileiro

Sobre Tarso

SÃO PAULO | Pinga comunicado revoltado e curioso aqui na caixa de e-mail, intitulado ‘Nota de esclarecimento – Tarso Marques’, que em linhas gerais informa em tópicos que o STJD da CBA “reuniu-se e decidiu acolher por unanimidade de votos (cinco a zero), o requerimento interposto por piloto” no último dia 26 de maio, quinta-feira da […]

SÃO PAULO | Pinga comunicado revoltado e curioso aqui na caixa de e-mail, intitulado ‘Nota de esclarecimento – Tarso Marques’, que em linhas gerais informa em tópicos que o STJD da CBA “reuniu-se e decidiu acolher por unanimidade de votos (cinco a zero), o requerimento interposto por piloto” no último dia 26 de maio, quinta-feira da semana passada. 

A nota diz que a Revista Warm Up (tratado como portal), que revelou a existência do doping, é “mal informado” e “já tem como característica querer criar polêmica a título de notoriedade”. Ainda, Tarso elogia “o exemplar comportamento da CBA” por ter omitido seu doping por tanto tempo. Seu advogado, Marcelo Aiquel, afirmou que “em realidade, o que houve foi uma típica atitude irresponsável de jornalistas mal informados, ávidos por matérias de teor sensacionalista, que sequer procuraram checar a completa veracidade das informações e publicaram de forma espalhafatosa uma matéria tendenciosa e bastante divorciada da realidade”.  Leiam na íntegra, aí comento:

a) Em sessão realizada na última quinta-feira, dia 26 de maio, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), reuniu-se e decidiu acolher, por unanimidade de votos (cinco a zero), o requerimento interposto pelo piloto Tarso Marques.b) Por se tratar de uma análise qualitativa, a substância foi detectada, apesar da ínfima quantidade do resultado, e, como a lista dos produtos proibidos pela Agência Mundial de Controle de Doping (WADA) é extremamente ampla e diversificada, os responsáveis médicos da CBA enquadraram o piloto na condição de infrator.

b) Por se tratar de uma análise qualitativa, a substância foi detectada, apesar da ínfima quantidade do resultado, e, como a lista dos produtos proibidos pela Agência Mundial de Controle de Doping (WADA) é extremamente ampla e diversificada, os responsáveis médicos da CBA enquadraram o piloto na condição de infrator. 

c) Diante deste fato, o STJD entendeu de aplicar uma punição que foi agora revista, em razão dos argumentos e provas apresentados, pois ficou clara a ausência de dolo na ingestão do medicamento que, ressalte-se, não colaborou sob nenhum aspecto para alterar o desempenho da função no esporte, seja na parte física ou mesmo psicológica.

Tarso havia sido denunciado por ter ingerido um medicamento, flagrado em exame regular de dopagem realizado na última etapa da Stock Car V8 em 2009. Mesmo que a data da utilização desta medicação tenha ocorrido meses antes da referida competição, restaram traços da substância em seu organismo, como o rigoroso exame apontou.

d) Com esta decisão, agora definitiva e irrecorrível, Tarso continua a participar de provas automobilísticas em qualquer parte do mundo, sem nenhum tipo de restrição.

e) O piloto faz questão de destacar o exemplar comportamento da CBA, que, enquanto aguardava uma decisão definitiva da Justiça Desportiva, tomou todas as cautelas para proteger a imagem pública de um filiado, respeitando o natural segredo de justiça que causas envolvendo suspeita de doping exigem.

f) Infelizmente, este caso terminou vindo a público quando, por provocação de um portal de notícias esportivas (mal informado este, que já tem como característica querer criar polêmica a título de notoriedade), a mídia tomou conhecimento parcial dos fatos, como ressalta o advogado do piloto, Marcelo Aiquel: “Em realidade, o que houve foi uma típica atitude irresponsável de jornalistas mal informados, ávidos por matérias de teor sensacionalista, que sequer procuraram checar a completa veracidade das informações e publicaram de forma espalhafatosa uma matéria tendenciosa e bastante divorciada da realidade. A prova desta imparcialidade é que, decorridos apenas poucos dias do referido “furo” jornalístico, o egrégio STJD revisou a sua própria decisão anterior, atendendo pedido formulado em dezembro passado, logo após o julgamento do processo, e meses antes da “investigação” jornalística citada. É lamentável constatar que, quem cobra profissionalismo no automobilismo, não faça do seu próprio trabalho um exemplo daquilo que exige, com tanto ênfase, dos dirigentes. Mas, como em todos os grupos, encontramos os bons e os maus profissionais. Eu diria que o tal portal e seus blogs deram uma “patinada” ao procurar fazer sensacionalismo sem antes buscar, de forma responsável, descobrir a verdade dos fatos.”

g) Tarso vem estudando algumas propostas para, em breve, disputar campeonatos e declara: “Graças a Deus, meus patrocinadores sempre acreditaram na minha inocência e não se deixaram induzir pelos boatos. Como é notório, aguardei meu julgamento certo de que a justiça seria feita. Agora a minha meta é focar exclusivamente nas vitórias. Infelizmente, existem pessoas deste tipo em todos os lados e é uma pena pois nós, esportistas, sempre contamos e procuramos atender a imprensa que sempre nos apoia em grande maioria e mesmo assim existe esta espécie que, para tentar promover seu sitezinho, blog ou o que quer que seja acabou querendo usar meu nome (que já tem uma historia sólida no automobilismo) para fazer sensacionalismo, e trazer a atenção de leitores e visibilidade ao seu site. Esse tipo de imprensa, sim, deveria ser banido do automobilismo, pois tem uma arma nas mãos e saem falando besteiras sem base, sem veracidade e acabam prejudicando outras pessoas. Mas acredito que, depois dessa, todo mundo ficará com um pé atrás ao receber suas publicações”.

Este caso só veio a público graças a um intenso trabalho de investigação, e ouvimos absolutamente todos os lados para não cometer injustiças. Não as cometemos, e estamos tranquilíssimos quanto a isso. Não fazemos notícias “por provocação”. Fazemos notícias. Jornalismo. Sabe o que é isso?  O advogado, acho, deveria saber. Todas as informações que foram trazidas pela Revista Warm Up e difundidas pelo Grande Prêmio (vulgos “sitezinho”), por este blog e pelos demais blogs da casa, são absolutamente verídicas, inclusive as próprias declarações de Tarso a Flavio Gomes — que escreveu sobre o tema. Mais de um mês depois da reportagem, nada foi desmentido. Ou foi, sr. advogado? Mas somos “mal informados” e nossa matéria, de “teor sensacionalista”, é “tendenciosa e bastante divorciada da realidade”. Entendi.

Explicável e tendenciosamente, o advogado em questão não deve ter reparado que a CBA, de “exemplar comportamento” por ter tomado “todas as cautelas para proteger a imagem pública de um filiado”, confirmou no dia 5 de maio, às 17h13, seu doping. E no encerramento de seu comunicado à imprensa, informou que “o piloto está a par desta conclusão e não há registro de recurso contra a decisão”. Se o advogado não está a par, posso até encaminhar o devido release. Mas o advogado deve ter lido a reportagem de cabo a rabo — se não leu, digamos que deveria. A CBA não quis divulgar — mas seu médico, sim — porque acharam conveniente. Porque queriam educar Tarso. Porque o site do “egrégio” STJD estava fora do ar. A própria reportagem, sr. advogado, já trazia a informação de que não havia recurso, confirmada pelos próprios funcionários do STJD. Agora surgiu um recurso que fora solicitado em dezembro. Entendi.

As regras da Wada na conduta antidopagem são claras e estão também expostas na reportagem. Se o exame é dado como positivo, ou resultado analítico adverso, o atleta é avisado, ele tem a escolha de pedir uma contraprova, e se for tudo comprovado, o caso é passado para a autoridade nacional referente e é divulgado publicamente. O sr. advogado e todos sabem bem por que não foi; só reler o resumo acima. Mas o comunicado agora fala em “natural segredo de justiça que causas envolvendo suspeita de doping exigem”. Segredo de justiça de um caso ocorrido há um ano e meio e que fora julgado há um ano, sem recurso. Entendi.

O tal julgamento do STJD teria acontecido na quinta-feira passada. Oito dias depois, a assessoria do piloto divulgou este comunicado. A CBA, até agora, não se manifestou. Mas alegam que o recurso, aquele que não existia, foi acolhido. Supondo que existisse, quer dizer, então, que puniram um piloto por um ano sem culpa. Entendi.

O advogado se refere à reportagem como uma “patinada” e Tarso diz que “esse tipo de imprensa, sim, deveria ser banido do automobilismo, pois tem uma arma nas mãos e saem falando besteiras sem base” e que “todo mundo ficará com um pé atrás ao receber suas publicações”. Lamento decepcionar Tarso e o advogado, que está no exercício de defender seu cliente. Não fomos nós, exatamente, que demos uma “patinada” e saímos do eixo. Como já disse, nós seguimos regras bem claras aqui na Revista Warm Up e do Grande Prêmio: as do jornalismo bem feito, imparcial, isento. São nas nossas mídias onde se retrata com mais clareza o estado do automobilismo brasileiro, que não trata nada às claras. Nunca disse isso aqui, mas posso informar a quem interessar possa, principalmente a Tarso e ao sr. advogado, que duas pessoas da CBA ligaram para cumprimentar pela reportagem porque “foi isso, mesmo”. Um piloto renomado, de carreira internacional, aplaudiu e foi na mesma linha. Assim, a tal afirmação de que vão ficar com pé atrás com nossas matérias não procede. Todo o meio nos respeita e nos tem como referência, de pilotos a dirigentes, de assessores a demais colegas jornalistas — ainda mais depois deste trabalho que nos deu com imenso orgulho de ver o resultado, este, sim, positivo do lado bom.

Torço para que Tarso que siga sua carreira nas pistas da forma que foi conduzida até o momento em que foi suspenso. Ao sr. advogado, que lembro já ter dado uma entrevista a mim em 2009, desejo que volte a se entender com o Movimento Grêmio Independente, do qual fazia parte, em prol das glórias da equipe gaúcha, que anda só tomando piaba do Internacional.

Entenderam?