Blog do Victor Martins
F-Indy

Hoosiers, 30

INDIANÁPOLIS | Santo paladino do último giorno, o que foi este fim de prova? Indianápolis é isso. Não eram simplesmente todas aquelas voltas que a Ganassi ousou dominar a torto e a direito. Mas ninguém ousaria imaginar o fim mais impressionante dos últimos tempos — muito mais que Al Unser Jr. e Scott Goodyear em 1992 […]

INDIANÁPOLIS | Santo paladino do último giorno, o que foi este fim de prova? Indianápolis é isso. Não eram simplesmente todas aquelas voltas que a Ganassi ousou dominar a torto e a direito.

Mas ninguém ousaria imaginar o fim mais impressionante dos últimos tempos — muito mais que Al Unser Jr. e Scott Goodyear em 1992 ou Sam Hornish Jr. com Marco Andretti em 2006.

Foram os ‘cachorros pequenos’ que no fim surgiram para mudar a história de uma corrida histórica realizada neste domingo (29).

Danica Patrick apareceu com chances remotas e Bertrand Baguette parecia ter combustível para chegar ao fim e conseguir uma zebraça daquelas.

Aí a vitória estava no colo de JR Hildebrand. Entenda: no colo. Mais no colo, impossível. Tinha combustível, carro bom, condições, torcida. Hildebrand, americano, da equipe patrocinada pela Guarda Nacional.

E o cabra vai e bate na última volta.

Na última curva.

Arrastado no muro, ainda parecia chegar na frente. Não.

Dan Wheldon, da pequena Bryan Herta com Curb e Agajanian, a equipe coração de mãe, o fez.

250 mil pessoas aqui no autódromo de Indianápolis, atônitos, assistiram a isso.

Tony Kanaan foi o melhor brasileiro do dia, terminando em quarto, atrás de Graham Rahal, da Ganassi. Oriol Servià ficou em quinto. Vitor Meira foi apenas o 15º, Helio Castroneves completou em 17º com uma irreconhecível Penske e Bia Figueiredo foi a 21ª.

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Alex Tagliani pareceu se empolgar um pouco na largada. Foi acelerar, e quase pegou o pace-car, que recolhia para os boxes. Talvez isso o tenha feito tirar o pé do acelerador, e Scott Dixon e Servià aproveitaram para ultrapassá-lo. Mas o carro do canadense era tão bom que, na volta 6, já aparecia na liderança da prova. Seu companheiro, Townsend Bell, tentava escalar o pelotão e logo apareceu em terceiro, atrás do neozelandês da Ganassi. Na outra mão, Castroneves andava para atrás e não saía do 20º lugar.

A corrida transcorria estranhamente bem até surgir o primeiro acidente — que deve ter dado muita grana aos apostadores. Takuma Sato pegou a sujeira do lado externo da curva 2 e foi destruir o lado direito de sua KV Lotus. Pouco antes, Paul Tracy já havia raspado o muro da mesma curva. A bandeira amarela veio, e com ela as primeiras paradas nos pits.

A Sam Schmidt trabalho direitinho e manteve Tagliani na frente. O mesmo não pode se dizer da Penske de Will Power. Único piloto do time a até então ter um desempenho digno, o australiano arrancou dos boxes e segundos depois viu-se sem o pneu traseiro esquerdo. A porca não foi apertada — e certamente a do mecânico responsável há de apertar. O líder do campeonato caiu para um incômodo 29º lugar. Enquanto isso, Simona recuperava incrivelmente duas voltas: uma por ter evitado os pits e ter aparecido na frente do pelotão e a outra justamente por estar antes de Tagliani na relargada, o que fez o pace-car permitir seu realinhamento em pista.

Aí veio o primeiro temor dos pilotos: a relargada dois a dois. Todos a postos e tal, Dixon emparelhou, acompanhou Tagliani na entrada da curva 4 e passou o oponente por fora, retomando o primeiro posto. E a razão do temor fez-se presente — e deve ter dado mais grana ainda aos apostadores: Ernesto Viso tentou ultrapassar James Hinchcliffe por fora na reta principal, para ganhar uma insigne 16ª posição, e tocou rodas. O canadense conseguiu com maestria controlar seu carro da Newman/Haas, que já escapava de frente. Viso, não. Foi lá acompanhar o companheiro Sato. Foi lá dar mais prejuízo para Jimmy Vasser.

Nova relargada, e Tagliani deu o troco no fim da reta. Na volta seguinte, Dixon voltou a ultrapassá-lo. A briga vinha boa, intensificada pela aproximação de Franchitti e Wheldon. E num momento da volta 44, Alex acabou perdendo desempenho rápido e repentino e as duas posições.

De praxe, o nome da corrida no pelotão de trás vinha sendo Kanaan. 22º na largada, já era 16º antes dos pits, assumiu o décimo posto na saída, passou Meira na pista e com ¼ de corrida completada, ganhava de Carpenter a sexta colocação.

Num provável jogo de equipe, Franchitti passou Dixon na volta 60 para se tornar o terceiro diferente piloto a assumir a ponta da Indy 500. O neozelandês foi aos boxes na seguinte, justamente quando a segunda amarela do dia tremulou, com Jay Howard parado no muro interno entre as curvas 1 e 2. Motivo: outra roda que se soltava, assim, do nada. Ruim para Kanaan, que tinha ido para os pits em bandeira verde e despencou para 24º com o realinhamento do pelotão.

As Ganassi não relargaram lado a lado porque havia Bia Figueiredo como retardatária. Acabou provocando um rocambole, porque todos vieram babando para ultrapassá-la, e nisso Tagliani a superou junto com Wheldon para voltar a brigar direto com os carros vermelhos. Pouco depois, era Dixon quem tornava a comandar a galera. E os quatro iam juntos e misturados, sem diferença grande entre eles.

Uma nova janela de boxes se abriu na 97, com Wheldon sendo o primeiro dos pioneiros a ir, seguido por Tagliani e Dixon. A sorte sorriu de novo para Franchitti: James Hinchcliffe entrou forte à beça na curva 3 e foi deslizando no muro até a 4. Novos pilotos eclodiam: Servià e Andretti pintavam no top-3.

A presença de Castroneves como retardatário ajudou e atrapalhou Franchitti na reaparição da bandeira verde. Porque se parecia fácil manter o brasileiro da fraca Penske atrás, as coisas não foram tão simples. Helio partiu para recuperar a volta perdida e trouxe consigo Servià, que na volta 113 ganhava a liderança. Mais atrás, Dixon escalava o grupo com tranquilidade, Wheldon tinha alguma dureza e Tagliani ficou brigando pelo 15º, perdido.

O troco de Franchitti e a graça de Servià acabaram 16 giros depois. Mas não só passou como abriu. O ritmo de Franchitti era tão intenso que não tardou a encontrar Tagliani e aplicar-lhe uma volta. Era o até-logo do conto de Cinderella, como ficou conhecido o causo do pole da prova. Só os pits para pará-lo, e Franchitti foi em bandeira verde — a terceira vez seria demais — na volta 138.

Franchitti e Tagliani voltariam a ser protagonistas de momentos que lhes assustaram. O primeiro tinha vantagem confortável de mais de 7 segundos para Servià e Dixon e, com tamanha volúpia, chegou a raspar o muro da curva 3 quando foi tangenciar a curva. Tagliani, coitado, bateu na curva 4 indo na sujeira. A volta 148 representou, enfim, o adeus do sonho da vitória.

Naquela altura, Wheldon e Kanaan formavam o grupo dos cinco primeiros.

Ação de novo, novo problema nas relargadas lado a lado. Menos para Franchitti, óbvio. Era uma muvuca imensa de Dixon para trás que linhas de até quatro pilotos se formaram. Não deu outra: nova amarela, dessa vez pelo toque entre Ryan Briscoe e Townsend Bell. O primeiro vinha na linha interna na curva 1 e o segundo, por fora, tangenciou sem ver a presença do australiano da Penske. Juntos, sem violência, encontraram a parede. Isso porque Bell já havia entrado na curva 4 raspando no muro. Desastre duplo para a Sam Schmidt.

E para completar o desastre da Penske, Castroneves padeceu do mesmo mal de Power: andou um tempo com três rodas na pista.

Aí, na volta 165, a Ganassi agiu com coerência: chamar Franchitti uma volta antes da largada para os boxes para completar o tanque — os demais não conseguiriam. Servià recebeu a primeira posição, mas só por alguns instantes: Rahal o passou na relargada com a Ganassi ‘B’. Dixon veio na balada. E o incrível Kanaan, idem. 170, e o brasileiro vinha em terceiro.

O público começava a ficar em pé. Dixon foi para cima de Rahal e resgatou o primeiro lugar que obtivera no início. Kanaan tentou seguir o ritmo. Demorou até conseguir, mas Rahal devolveu na volta seguinte. Tudo isso pouco resolveu, afinal os três mais Servià se enfiaram nos pits para o splash & go.

Surgiu, então, Danica na ponta, giro 179, em tática diferente e uma possibilidade remota de terminar a prova sem precisar ir aos pits, trazendo Baguette de longe. Mas logo o belga, que andou bem a prova toda, chegou à primeira posição na 189. Patrick não aguentou. Foi aos boxes. Baguette tinha exatamente a mesma estratégia. Não vinha.

190, 191, 192… Nada de Baguette parar.

Foi na 196. A 196 derrubou Baguette. Pronto. A vitória era de Franchitti. Mas não. A jogada da Ganassi havia dado errado. Franchitti se arrastava de tão lento na pista para tentar economizar etanol.

Sobrou para Hildebrand, com tudo a favor. Tudo. Público em pé, sala de imprensa em meio a gritos, Hildebrand é um piloto bem querido nos EUA. Recebeu a bandeira da branca, e em vez de ficar em paz, abofou-se. Entrou na curva 4 e pam!, deu com uma violência que o fez ainda ir no embalo da reta principal. Mas vinda Wheldon logo atrás — que vinha de dois segundos lugares seguidos aqui, justamente pela Panther, a equipe de Hildebrand.

Natural, então, o choro e a comoção gerais. Wheldon não cabia em si por dar a vitória a um time que só faz esta prova na temporada, comandado por um amigo e seu ex-companheiro na Andretti. Mais ainda, o choro desconsolado de Hildebrand, cuja inteligência e capacidade é propalada por estas terras. Mas depois de hoje, talvez seja visto de outra forma por um bom tempo.

Uma pergunta ao caríssimo internauta: o que foi mais impressionante, o final deste domingo ou a decisão do título da F1 em 2008, entre Hamilton e Massa?

Eu já começo a pender para o que vi aqui em Indy…