Blog do Victor Martins
F-Indy

Hoosiers

INDIANÁPOLIS | A terceira vez, a gente não esquece. O negócio funciona dessa maneira: você vai para Indianápolis. No primeiro ano, você não sabe como funciona a coisa, voa, ouve, não entende, aprende, conhece, se impressiona, vê o tijolo, beija o tijolo e nota o que tem em volta do tijolo e como tratam a casa do […]

INDIANÁPOLIS | A terceira vez, a gente não esquece.

O negócio funciona dessa maneira: você vai para Indianápolis. No primeiro ano, você não sabe como funciona a coisa, voa, ouve, não entende, aprende, conhece, se impressiona, vê o tijolo, beija o tijolo e nota o que tem em volta do tijolo e como tratam a casa do tijolo, ri, ri de bobo, ri de felicidade, ri porque quer rir. E você quer ir no segundo e em todos os outros porque sabe como funciona a coisa. A cidade com suas mil obras de mil espaços, as rodovias longas, a 16th e a Keystone, o PF Chang e o Benihana, o Memorial Day que a gente não esquece para que serve, e a tiazinha que parece a Cleyde Yáconis de cabelos ruivos empostando a voz para desejar seu “welcome to Indianapolis”, os tiozinhos de amarelo sinalizando onde estacionar e os dribles que damos, a lojinha da Ganassi, a senhora, o senhor, a filha e o filho tomando cerveja e sorvete, necessariamente nesta ordem, e eles veem um carro, dois carros, tantos carros e tantos pilotos que passam, e passam por eles e por mais gente que respeita, chama, quer autógrafo, quer foto, quer que dê tudo certo, e dá tudo certo, de um jeito ou de outro, e aí tem o Tim e a Amy saudando com o ‘morning’ no quarto andar, o nome do Grande Prêmio que eles nunca conseguem acertar, o sol que se põe tarde a leste.

Alguém que minimamente goste de automobilismo não pode ousar passar sua vida sem pisar aqui. A economia está boa, viajar está mais fácil, embora viajar me remeta a aeroporto e eu seja obrigado a falar sobre aeroporto. Sou gauche na vida, mas não aceito que o governo se gabe por proporcionar ao seu povo melhores condições de viagem e entretenimento. Chega a ser ridículo comparar Cumbica com as praças aéreas de Atlanta ou Indianápolis. Para quem mora em São Paulo, como eu, é como dizer que o Campo de Marte vai receber pousos e fazer decolagens internacionais. Não vou me estender muito porque falarei disso em uma matéria especial logo mais e pelo pouco que vi e me informei da cidade que um dia recebeu a Olimpíada. Nós somos o Haiti dos aeroportos. Como somos o Haiti do automobilismo pobre e derrotado que temos aí, que renega seu passado e trata o presente como um terremoto, esperando que seja sacudido para tomar um rumo.

Mas dizia eu que programar-se é preciso, reservar lá na agenda, maio, 15 dias, 7 dias, quantos dias forem, sentar a bunda na arquibancada ou passar pelos boxes, visitar o museu ou só comprar um cartão-postal, acompanhar a história e fazer parte dela, cem anos, Foyt, Unser, Andretti e Fittipaldi, Castroneves e De Ferran, e Penske e Ganassi, e Buick e Lola, o ‘start your engines’ e o ‘green, green, green’, o Hino e os jatos, só o café que não, café aqui tem mais água que a Minalba, mas todo mundo precisa ver isso algum dia na vida e sorrir de bobo, sorrir de felicidade, sorrir porque quer sorrir. Quem vem nunca vai esquecer a primeira, segunda ou centésima vez.

Quem vem na terra dos hoosiers não esquece e sorri para ver esse sol se pôr a leste.