Blog do Victor Martins
Automobilismo brasileiro

Os Bin Ladens do automobilismo

SÃO PAULO | Pois vejam esta matéria que o UOL fez hoje sobre o Rio, a Olimpíada e os autódromos — colocando num plural que todos sabem não existir — e o impasse que está sendo criado. Dizem que não se constroi nada visando 2016 se não houver cronograma e ação para erguer a nova […]

SÃO PAULO | Pois vejam esta matéria que o UOL fez hoje sobre o Rio, a Olimpíada e os autódromos — colocando num plural que todos sabem não existir — e o impasse que está sendo criado. Dizem que não se constroi nada visando 2016 se não houver cronograma e ação para erguer a nova pista de Deodoro. Sei…

Bom, aí foram entrevistar o secretário do Ministério dos Esportes — setor que espera que o projeto para dar início às obras do novo autódromo seja aprovado na semana que vem. Não falou. Procuraram o COB. Nada. A prefeitura do Rio também calou-se.

Entrevistaram, então, o presidente da Faerj, Djalma Neves. Confessou que “foi um erro cometido lá atrás” terem deixado construir algo dentro de Jacarepaguá. Revelou que está rendido no caso e que não tem plano B. E que um novo autódromo não sai do papel em menos de um ano — vão atrasar a obra dos Jogos em um ano também?

Puxa vida, um erro foi cometido, padre, eu pequei. Mas não estava óbvio que não havia nenhum sentido de construir um complexo esportivo que mal é utilizado para competições e está sucateado? Que era puramente birra de um prefeito que passou a odiar automobilismo porque pessoas do meio eram aliadas a seu opositor nas urnas, Luiz Paulo Conde, no começo da década passada? Que as obras dos Jogos vão começar, independente de autódromo? Que esse autódromo não vai sair?

Aí acabo de ler no Twitter de Téo José que o governo de Goiânia decidiu pelo fim do autódromo local para fazer condomínios e vão fazer um novo — isso será aprovado pela Câmara ainda, mas o governo tem maioria de representantes na casa. Perguntei a ele se a Truck tinha alguma proposta e Téo, que estava lá na capital goiana, me respondeu: “Não, apenas está fazendo obras pequenas para realização da prova, já que está um lixo. Mas não uma grande reforma. Como faz sempre. A Truck acertou algumas obras, nada grande, como fez há três anos, e aí os caras daqui não fazem mais nada, e para ter condições de correr, a Truck faz tudo de novo, os caras daqui vão apenas fazer coisas para se ter luz, água, que não tem. Coisinhas básicas”, falou o narrador.

Téo também falou que “vão mostrar um projeto do tal (Hermann) Tilke na quarta, mas precisa ser aprovado, o terreno atual tem destinação especifica. Não é tão simples, mas devem conseguir, mas temos de ver o que vão falar. Disseram que só fecham este com o outro pronto.”

Ou seja, um discurso que já ouvimos.

Giuseppe Vecci, antenado na conversa, respondeu que o novo autódromo será construído em uma fazenda da Emgopa (Empresa Goiana  de Pecuária e Agricultura) a 8 km da pista atual e confirmou que o governador Marconi Perillo prometeu em audiência que só deixaria o atual autódromo quando o novo estiver pronto.

Ô, minha gente, vamo falá a verdade, de novo, só pra lembrar: o automobilismo está acabando aqui. É sério. Tá tudo entregue, como esse presidente da Faerj está entregue e refém da Justiça, como ele mesmo disse na reportagem. Canelinhas, lembram, aquele autódromo de Santa Catarina? Já era. O kartismo brasileiro, se não for nos moldes do que vem sendo feito no Super Kart Brasil, já era, e não adianta criar uma comissão em cima de outra. O esporte não vive de comissão, embora comissão deixe muita gente do esporte bem vivo. Num outro lado, precisaram os pilotos fazerem algo depois da morte de um colega para que a CBA desse uma baixada de topete, e nem todas as atitudes que foram tomadas resultaram em boa coisa — uma cabeça foi tirada, como bode expiatório, e uma outra comissão — dissidente é uma palavra forte, mas cabe —, a da Copa Montana, foi criada. Só admitiram publicamente um caso de doping porque revelamos em nossa gloriosa Revista Warm Up. E são muitas outras coisas que se ouve aqui e ali, que ainda estão para estourar e pegar muita gente de jeito, que, me desculpem o pessimismo, talvez sejam os últimos momentos antes da vida pré-balzaquiana, me fazem concluir que não tem mais jeito.

A gente vê a História acontecer hoje a nossos olhos, e muitas vezes não dá conta de sua grandeza porque estar acostumado a olhar nos livros o que houve de importante no mundo, como se fôssemos meros observadores de uma realidade paralela.  E sem um estudo prévio ou uma percepção mais holística, acabamos dimensionando pouco as consequências de todos os episódios. O automobilismo brasileiro é dinheiro de pinga perto do que o século de Bin Laden vem passando, mas é pertinente analisar como alguns dirigentes e políticos daqui agem como terroristas e tenham uma teimosa tara por destruição.

Nossos olhos estão vendo o esporte a motor nacional entrar para a História na condição de passado, talvez meio acostumados, pouco marejantes ou até míopes. Culpa dessa gente que os mantém fechados há um bom tempo e só os arregala quando ouve o ronco dos interesses.