Blog do Victor Martins
F1

Constantinopla, 3

SÃO PAULO | Num pensamento além e antecipado holístico, percebe-se que a corrida da China foi um aborto da natureza para a Red Bull e Vettel. À beira da perfeição, a equipe acabou se afobando ao ver a McLaren correndo de igual para igual, e em vez de fazer o óbvio para vencer, parou uma vez […]

SÃO PAULO | Num pensamento além e antecipado holístico, percebe-se que a corrida da China foi um aborto da natureza para a Red Bull e Vettel. À beira da perfeição, a equipe acabou se afobando ao ver a McLaren correndo de igual para igual, e em vez de fazer o óbvio para vencer, parou uma vez menos para surpreender e foi surpreendida.  Do contrário, a patuleia desvairada estaria bradando hoje das quatro vitórias do alemão, que o campeonato acabou, que não tem pra ninguém esse ano, fecha a conta e passa a régua.

É, parece que o campeonato acabou e não tem pra ninguém esse ano, mesmo. Quando Vettel foi ao pódio no lugar mais alto neste ano, teve de perguntar aos demais como é que foi a corrida deles. Seus retrovisores só lhe permitiam ver no primeiro trecho das provas.  Os números que este rapaz vem conseguindo em tão pouco tempo são mais do que 5 gigas de gravidade — e olha que isso parece um bocado. Na carreira, uma vitória a cada cinco corridas disputadas. Na Red Bull, esse número é quase 1/4, e Sebastian tem uma média de uma pole a cada 2,7 provas. Se a F1 é uma escola de samba, como ouvi hoje, a Unidos de Vettel desfila nas pistas e ganha nota 10 em quase todos os quesitos.

Hors-concours, Vettel deixa para os demais a primazia das brigas. Alonso acendeu na temporada, enfim. E foi lá peitar Webber com uma Ferrari bem fraca e perdida. Foi só na parte final que o oscilante australiano usou seu touro indomável para passar o cavalo rampante. Domenicali andou dizendo hoje que a Ferrari estará pronta para vencer a partir do Canadá. Sei, não. O ritmo de corrida dos italianos até que é bom, hoje bem melhor do que o da McLaren, por exemplo. Mas pegar esse danado do Vettel ainda está muito longe. Até porque, se a Ferrari vier com atualizações, Adrian Newey haverá de tirar de seu chifre algo mirabolante.

A corrida foi boa, acima da média. Belas brigas entre Hamilton e Button, e oxalá que assim continue, como manda a tradição mclariana, e Heidfeld e Petrov, que, quem diria, virou piloto de ponta — pelo menos anda nela, entendam bem. Quero ver o que Nickita vai falar de hoje, quando ficou reclamando e gesticulando. A McLaren, que não se renovou, parou no tempo. Chegou 40s atrás. É muito. E Whitmarsh e sua trupe vão ter de remar tanto quanto na pré-temporada se quiserem voltar a brigar por pódio. Massa e Rosberg andaram pra trás. A Mercedes é o inverso da Ferrari: boa de classificação, ainda precisa se achar nas provas. Schumacher, então, precisa se achar — se bem que todo mundo o encontra e passa como quer. Está tipo a São Clemente, se rebaixando. E Massa, que até fez bonito em alguns momentos, acabou indo mal. Quando a gente olha pra classificação e o vê em 11º, atrás do mítico Kobayashi, que largou em último e teve um pneu furado, se convence plenamente disso. O bom é que Felipe assume seus erros e não queima a equipe, que errou em três de suas quatro paradas, em praça pública.

Não me lembro de ter visto muitas vezes Buemi durante a prova, mas levar a Toro Rosso ao nono lugar é um fato notável. Nada que o vá fazer pilotar uma Red Bull no ano que vem, como cheguei a ouvir hoje também — aliás, o pessoal lá do microfone quis concorrer à altura com a turma da semana passada. Falar bem da Estação Primeira de Kobayashi é um pleonasmo vicioso, bem como da Virgin — os caras vão lá, irritam Glock com um carro ridículo, prometem a Glock evoluções e melhoras, o mundo e o fundo, colocam todas as atualizações possíveis no carro de Glock, não fazem Glock andar nem no ritmo da Lotus, e chega momentos antes da corrida e descobrem que o câmbio de Glock já era, e Glock nem larga. E ao pobre do D’Ambrosio, que na TV de FfFfFfFfêttel é D’Ambrósio, nem as batatas. Foi o único que fez duas paradas na prova toda. Tomou duas voltas na lomba, o Jerônimo D’Ambrósio.

81 paradas nos boxes, recorde mundial. E Massa chora. A Ferrari não consegue trocar quatro pneus em quatro segundos. E a Pirelli anunciou que vai levar os pneus macios e supermacios para o Canadá. Lá o negócio vai ser tenso, até porque o tempo perdido nos pits é curto. Então vai ter nego parando seis vezes. E Massa chora mais ainda. Até lá tem Espanha e Mônaco, também. E seja lá quantas paradas forem, do modo que forem, o rapaz lá da frente vai sorrir bastante, urrar depois da bandeirada, fechar a conta e passar a régua.