Blog do Victor Martins
Stock Car

Um pouco mais de clareza

SÃO PAULO | Um dos tantos pecados da Stock Car e da CBA — lembre-se, não dá para dissociar — durante as corridas acaba sendo a falta de transparência e/ou clareza no que está sendo feito em termos de punições. Na corrida de ontem em Ribeirão Preto, nós soubemos dos drive-throughs de Luciano Burti e […]

SÃO PAULO | Um dos tantos pecados da Stock Car e da CBA — lembre-se, não dá para dissociar — durante as corridas acaba sendo a falta de transparência e/ou clareza no que está sendo feito em termos de punições. Na corrida de ontem em Ribeirão Preto, nós soubemos dos drive-throughs de Luciano Burti e Rodrigo Sperafico por meio da tela de cronometragem, que apenas indica o termo em inglês e o número do carro que está sendo penalizado. Isso acaba geração uma série de ilações em vez de informações.

Se a gente ouve que a punição de Burti se deu nos boxes, logo se imagina que tenha sido uma punição por excesso de velocidade. Só depois, bem mais tarde, que se fica sabendo que o piloto acabou passando por dentro em um cone que foi posto como divisória nos boxes, e o correto seria passar por fora.

Com Sperafico, o negócio foi diferente. A equipe mal teve conhecimento do motivo que foi punido durante a prova. Jorge Freitas, o chefe, foi tirar satisfação com os comissários, que também pouco disseram. Falei com Rodrigo ainda em Ribeirão, quase antes de voltar à casa, e ele me falou que Freitas teve de pedir explicações a Nestor Valduga para entender o que aconteceu. O presidente do CTDN, levemente apressado para pegar voo, respondeu que o paranaense havia passado Giuliano Losacco em bandeira amarela na reta principal — e esta cena deu para ver pela TV. Nervoso, Freitas retrucou e falou que Sperafico estava retomando a posição porque era Losacco quem havia feito a ultrapassagem — que o corte de imagem não mostrou. E  Valduga  foi-se.

É evidente que nada vai dar de volta os pontos que Sperafico deveria marcar na corrida de ontem. Mas é mais evidente ainda que 1) os comissários e a direção de prova não dispõem de recursos 100% concretos para tomar suas decisões, afinal a  corrida que eles veem é aquela que a TV passa (e, portanto, eu também me julgo no direito de ser um comissário por dispor de visão televisiva); 2) chega a ser estranho que apenas e tão-somente Valduga tivesse a resposta para o problema — e pouca atenção para dar a quem lhe questiona; e  3) há uma certa sanha para punir Sperafico.

Notei bem que a comissão dos pilotos está bem atuante neste princípio, tanto que os três primeiros colocados da prova de ontem classificaram como “muito boa” a posição da CBA e da Vicar diante das exigências feitas na última sexta-feira. E ainda que não seja obrigação deles, como Cacá Bueno falou, que, abaixo da aba segurança, comecem a bater o pé para as questões mais do que dúbias destes regulamentos escritos pela entidade-mor, bem como para as decisões que são tomadas no calor da corrida e que causam distorções absurdas como esta — e outra: não que tivesse acontecido, mas se os comissários, a direção de prova e o CTDN erram, nem um pedido formal de desculpas há; e desculpa não enche barriga nem pontuação de ninguém. 

Que os pilotos, então, aparentemente unidos que estão, cobrem a colocação de mais câmeras nas pistas para que os comissários disponham de provas absolutamente concretas para seus sacramentos e que tenham um recurso gráfico ou auditivo para que todos tenham conhecimento do que está sendo feito pela direção de prova — pode ser em português, mesmo, se resolverem importar um sistema como o da F1. Aí a gente poderia ver um “drive-through penalty for 19 car for overtaking on yellow flag”, ou coisa parecida. E algo que não precise de grana ou tecnologia: um pouco mais de respeito aos profissionais que gastam tubos para montar uma equipe, de viagens a peças, e se veem na situação de repensar se todo esforço vale a pena diante de fatos como este.

Ontem Max Wilson falou em uma nova fase do automobilismo. Pois que seja, também, neste sentido. Se não resolvem do lado de lá, que os pilotos toquem o puteiro e não esperem cronograma de ninguém para, se preciso forem, tirarem outras pessoas, como acabou acontecendo com Sérgio Berti. Senão as polêmicas de sempre — como a perda de 30 pontos de Maluhy em Interlagos e a regra que trata com exclusão um recurso que a equipe ou o piloto aplicarem e perderem — vão continuar saltando aos olhos, como sempre foi. E só foram três etapas disputadas.