Blog do Victor Martins
Stock Car

Técnico de automobilismo

SÃO PAULO | Prestei bastante atenção em todas as opiniões emanadas pelos mais diversos personagens do automobilismo em sites — Grande Prêmio e Tazio, principalmente, e programas de TV — como o bom Linha de Chegada, do SporTV, desta madrugada — nestes últimos três dias, e creio que seja importante debater um ponto não muito apontado […]

SÃO PAULO | Prestei bastante atenção em todas as opiniões emanadas pelos mais diversos personagens do automobilismo em sites — Grande Prêmio e Tazio, principalmente, e programas de TV — como o bom Linha de Chegada, do SporTV, desta madrugada — nestes últimos três dias, e creio que seja importante debater um ponto não muito apontado profundamente e que pode ser crucial para que acidentes como os de Sondermann e Rafa Sperafico sejam evitados: a formação dos pilotos.

Nos últimos anos, a gente tem notado uma proliferação das categorias para gentlemen drivers. Só neste ano, a Audi e a Mercedes vão se dedicar a este segmento, tal como faz a Porsche Cup, como foi a Maserati, e por aí vai. Em comum, estes campeonatos são abastecidos por montadoras de classe A, o que atrai, por consequência, apaixonados por automobilismo de grandíssimo poder aquisitivo, que querem fazer do hobby algo em maior profundidade. Que passam por um curso de pilotagem relativamente simples e adquirem uma licença — depois de pagá-la, claro — e uma graduação específica para disputarem estas provas.

Assim, ter dinheiro e vontade de correr faz qualquer um facilmente ser piloto no Brasil, independente da idade. E, por definição, um piloto de Stock Car e um piloto de Mercedes ou de Audi são igualmente pilotos, o que leva até a uma aproximação das categorias. O que me leva a entender que, se um piloto se julgar apto a um dia guiar de Stock, vai lá pagar o caminhão de dinheiro que é cobrado e zás, lá está ele para o mundo apreciá-lo — mas sem a bagagem e a experiência necessárias para sentar num carro daquele calibre em termos de potência e reação.

No caso específico da Copa Montana (Vicar, Stock Light), o grid sempre conteve uma mescla de pilotos gabaritados, de formação longa, kart e fórmula — a citar alguns exemplos, nos últimos anos, Rafael Daniel, Douglas Soares, Galid Osman, Diogo Pachenki, Cássio Homem de Mello, Sperafico e Sondermann — com outros tantos que estão lá graças a bons mil dinheiros. Por muitas vezes, mesmo não assistindo a todas as corridas, os comentários eram de que eram mais do que um simples ó do borogodó. Na sala de imprensa, até, no último domingo, falamos depois da corrida da Stock Car que “agora que vai vir emoção”, no sentido de que acidentes e toques eram esperados — sem nenhum tom profético ou depreciativo, por favor.

Na Truck, por exemplo, não há uma categoria de base. Pensam em formar, mas tem piloto que chega lá sem nenhuma experiência e corre. O trabalho de Neusa Félix Navarro é mais psicológico do que prático: a presidenta chega, reúne quem está entrando na categoria, deixa ciente que pilotar um caminhão pesado e potente não é nada fácil e que, se agirem errado desportivamente, serão devidamente expulsos do campeonato. É na base da carcada que os pilotos melhoram. Pode ser uma solução, tal, mas há melhores meios de se peneirar os pilotos capacitados. 

Seria válido, então, que se fizesse por aqui algo semelhante ao que acontece na Inglaterra, em que há um ‘coach’. Primeiro, o técnico de pilotos tem de ser preparado, obviamente. Tem de ser experiente, passar por um curso e receber um certificado de que está apto para 1) ensinar e dar base a aspirantes a pilotos e 2) permitir, em caráter oficial, que estes pilotos corram em determinadas categorias.  Como no futebol, um técnico é quem determina se o jogador vai atuar por sua equipe. No automobilismo, deveria haver algo similar, portanto: ‘coaches’ que aprovariam a inscrição de pilotos nas mais diversas categorias de acordo com suas capacidades técnicas, sem contar o que expressam seus muitos dígitos em seu extrato bancário. Uma espécie de ‘faculdade’ do esporte. Temos aí os dois irmãos Dirani, Dennis e Danilo, Sérgio Jimenez, Roberto Streit, Vicente Siciliano, Thiago Medeiros, Ruben Carrapatoso, Fábio Carreira, André Nicastro (e sabia que esqueceria nomes importantes, como o de Renato Russo), gente que respira gasolina desde sempre e entende — e muitos envolvidos no Super Kart Brasil, que tem tal proposta.

Os centros de pilotagem que temos hoje, como os de Beto Manzini, são válidos. Mas enquanto pessoas tenham permissão para estampar no peito um certificado de piloto tendo como base um curso feito num carro de rua adaptado, este cenário das corridas e acidentes perigosos continuará mais do que presente no nosso automobilismo que procura paliativos em bandeiras amarelas.