A luta de uma década e meia de José Alencar sempre me fez pensar que ele morreria de qualquer outra coisa: tropeçando numa pedra e eventualmente batendo a cabeça, engasgando com o mé de produção própria que ele gostava de verter, dormindo e em silêncio, como até deveria ser diante do que passou entre quimioterapias e hemodiálises, naquele que consideram o mais belo dos passamentos. Estava enganado. Da mesma forma que imaginava que sairia desta última como das outras vezes. Para quem acredita em algo celestial ou não, tinha de ser assim.
A morte de Alencar me foi uma surpresa. Não precisei lembrar pelo que meu avô passou e me peguei secando a lágrima furtiva. Eu me surpreendi comigo mesmo. É daqueles dias tristes que haveremos de lembrar vez ou outra. Alencar vai pra lá com uma mancha no currículo — não ter reconhecido uma filha fora do casamento —, mas passa para a história como o maior exemplo brasileiro de luta contra o fim comum. Lança na cara da gente a lição para a gente não reclamar da vida à toa e achar que um pequeno contratempo é o maior problema do mundo. Mostra, principalmente, que esmorecer, jamais.