Blog do Victor Martins
F1

Austral, 6

SÃO PAULO | Houve mais decepções que virtudes nesta corrida inicial da Austrália. Primeiro que, com dez voltas, já se via que a vitória caberia a Vettel. Os brasileiros tiveram desempenho horrível, tal como Webber. A Mercedes, que veio toda-toda, foi um fiasco. A asa traseira e sua zona de ultrapassagem se mostraram inúteis. Os […]

SÃO PAULO | Houve mais decepções que virtudes nesta corrida inicial da Austrália. Primeiro que, com dez voltas, já se via que a vitória caberia a Vettel. Os brasileiros tiveram desempenho horrível, tal como Webber. A Mercedes, que veio toda-toda, foi um fiasco. A asa traseira e sua zona de ultrapassagem se mostraram inúteis. Os pneus não desgastaram como todos previam, tanto que Pérez, do qual falarei mais ao longo, só parou uma vez. Mas as muitas idas ao pit, de forma geral, limitaram as disputas a poucas voltas. A F1 2011 não deve ser muito diferente da F1 2010.

A começar por Vettel. A bagagem de um título dá uma confiança tremenda a um piloto. Não se viu o alemão errar — ou, se errou, não comprometeu em nada. Cirúrgico no sábado e tão preciso quanto neste domingo, largou bem e nem teve de se preocupar com Hamilton porque este estava muito mais focado em manter o segundo lugar contra Webber. Daí abriu como o assoalho da McLaren do inglês no meio da prova. Ganhou. Aliás, Vettel não perde há mais de quatro meses. São três triunfos seguidos. Com este carro que beira à perfeição e com este Webber fraco, há de engatar uma bela sequência.

Não me conformo como Webber conseguiu ser quinto quase 40s atrás do companheiro, em casa. Aí ele vem dizer que está intrigado com o desempenho de Vettel. Deveria começar por si mesmo.

Button também não foi bem. Mas na disputa com Massa, em que cortou caminho, o drive-thru seria inevitável. Não era uma questão de a McLaren avisá-lo para devolver a posição. É que logo após o episódio entre os dois, Alonso passou pelo brasileiro e Button também teria de ceder lugar para o espanhol de graça. E mesmo se pensasse em ceder, Massa logo foi para os pits.

Massa, Massa. Bela largada, quinta posição. Segurou Button o quanto pôde e Alonso, meros segundos. Depois só caiu. Chegou um momento em que apareceu 30s atrás do companheiro. Quase tomou ultrapassagem de Pérez. No fim, fez a volta mais rápida, que nem serve de consolo para um desempenho que, como ontem, tornou a lembrar o Massa do ano passado.

E Barrichello, 19 anos na lomba, cometeu dois erros típicos de novatos no fim de semana — o da corrida foi encher o carro de Rosberg na curva 3, numa tentativa de ultrapassagem; ninguém tenta defender-se da posição, como alegou o próprio, atacando e tangenciando a curva daquela maneira. Rosberg vinha, de fato, lento. Rubens foi otimista. Errou, tal, mas parecia que naquele carro 11 estava sentado Maldonado. De qualquer forma, a Williams tem lá seu potencial. Dava pra ter chegado nos pontos, sim.

Aos pontos bons: a McLaren. Belíssimo trabalho de recuperação em poucas semanas. Alcançar a Red Bull é a próxima tarefa, mas pelo menos a confiabilidade voltou, ê, ô. Num exercício de comparação, é inegável apontar que os mclarianos tradicionalmente se recuperam com mais eficiência do que a Ferrari, por exemplo — que vai ter de se reencontrar; o carro dos 150 anos e multinomes é mediano.

Petrov. Colocaram um Kers nele, só pode — gostaria de evitar dizer onde. Carregaram o cabra russo. Impecável. Pôs Heidfeld no limbo ali da lagoa do Albert Park. Incorporou o espírito de liderança de Kubica e zás, conquistou um pódio sem contar com azares dos rivais, foi seu mesmo. Diz Eric Boullier, o chefe da Lotus Renault, que viu em Petrov um amadurecimento impressionante do ano passado pra cá. Pois que continue assim. O único que não vai curtir é Alonso, que não consegue passá-lo de jeito maneira.

E Pérez e a Sauber. Bom, primeiro que parar uma vez só e chegar a fazer a volta mais rápida com um pneu gasto é caso para Hercule Poirot investigar. Num primeiro olhar, é simples entender que a Sauber fez um carro muito bem ajeitadinho, a ponto de fazer conseguir poupar a borracha vulcânica da Pirelli nas mãos de dois pilotos de tocada arrojada — claro que o mito Kobayashi não podia ficar de fora. E de cara, o desempenho do mexicano demonstra que ali não há um piloto pagante que só está lá pelos milhões das empresas de seu país. O apoio que as companhias dão têm razão de ser. O cara é no mínimo bom.

E a asa móvel, DRS (opa, mais uma sigla; a TV vai adorar) no fim das contas, não foi lá um primor de excelência. As ultrapassagens não se deram pelo seu uso, mas muito mais porque o piloto da frente tinha pneus em pior estado do que seu rival. Acabou sendo perfumaria. Acabou ficando no nível desta corrida de razoável pra ruim. Bem-feito para esta F1 fake.