Blog do Victor Martins
Stock Car

A tese sobre a Stock

SÃO PAULO | É que não tenho mais muito tempo e paciência para voltar de vez aos estudos superiores e tentar uma pós ou um mestrado. Caso me desse os cinco minutos, certamente teria uma tese para ser analisada e bem defendida: ‘Por que a Stock Car se sujeita ser uma subcategoria?’ Minha tese abrir-se-ia […]

SÃO PAULO | É que não tenho mais muito tempo e paciência para voltar de vez aos estudos superiores e tentar uma pós ou um mestrado. Caso me desse os cinco minutos, certamente teria uma tese para ser analisada e bem defendida: ‘Por que a Stock Car se sujeita ser uma subcategoria?’

Minha tese abrir-se-ia com uma mesóclise bem abundante como esta e algumas longas premissas, sendo que a maior delas partiria da afirmação de que a ‘Stock Car, que se autointitula a maior categoria do país, não consegue dar uma bola dentro’, talvez em termos mais rebuscados, necessários para impressionar a banca de catedráticos.

Lançaria em meu texto algumas contribuições não muito profícuas da Stock Car, tipo a de que estava atrelada com a TV que a transmite para tentar barrar a sanha dos pilotos que pretendiam disputar uma outra categoria, o Trofeo Linea, tal como sempre fez com a F-Truck e sua TV rival; que a TV na verdade não a transmite; que as punições e descumprimentos de regulamentos atingem 75% das provas; que há regras como o rebaixamento de equipes, que permitem cláusulas como convite d’outras; que esconde casos — eu disse casos, no plural — de doping em aliança com a CBA.

Assim, explicaria, em linhas não muito gerais, por exemplo, que a Stock Car não pode se eximir da culpa que carrega por ter ao seu lado uma CBA e um CTDN e dizer que todas estas patacoadas de punições e mudanças de resultados estão na lomba das invenções e achismos daquela gente que tira regras do bolso.

Também, que a Stock Car não pode se apoiar na desculpa fácil da contenção de custos para realizar testes à míngua. Evidente que a Stock Car não é futebol, mas já foi alvo de disputa entre emissoras — SBT e Record, nos últimos anos —, e deveria ao menos saber negociar um acordo financeiro vantajoso que permitisse dar as mínimas condições às equipes e pilotos testarem todas as suas inovações e parafernálias antes e até mesmo durante a temporada.

Pois a Stock Car quis realizar um teste de um novo sistema de lubrificação — o que é válido —, mas escolheu uma pista, a de Piracicaba, que mais parece um grande kartódromo, com barrancos e sem proteção, portanto sem os mínimos cuidados inerentes. E daí, as equipes só podiam testar um carro. Desta feita, não era um teste em si — anda rápido o louco que quer, nestas condições —, até porque nem os pneus novos serão avaliados. É apenas um faz de conta que põe, acima de tudo, gente em risco. Como pôs Xandinho Negrão hoje e como pôs fotógrafos e cinegrafistas levemente sem consciência que não foram devidamente avisados que estar numa área de escape numa pista com barrancos, aclives e declives é perigoso — as fotos mostram bem. E aí, quando a merda é produzida, hão todos ali de se queixar que a vida é ruim, que não se tem sorte e tudo mais — não escreveria termos tão chulos em minha monografia.

Ao que informa o jornalista Cláudio Stringari, Xandinho destruiu o chassi do carro. O resultado foi a fratura da clavícula e de um dedo da mão esquerda. Aí a hipocrisia é tamanha que, enquanto a ambulância levava o piloto à Santa Casa da cidade pamonhística, gente que deveria ser organizada desde o início resolveu fazer um briefing com os profissionais da imprensa para determinar onde eles tinham permissão para ficar.

Diante disso, eu questionaria em minha tese: ‘Se a Stock Car determinou que não se pode testar tais coisas em pistas do calendário, por que não pensou em praças mais viáveis?’, e poderia dar a sugestão de Cascavel ou mesmo Guaporé às mentes brilhantes.

Entre entrevistados e informações muitas — em off, porque poucos têm coragem e caráter para falar abertamente a verdade — que colheria ao longo da composição da tese, levantaria que a Stock Car só acertou bem uma vez nos últimos tempos: ajudar as vítimas das catástrofes ocasionadas pelas tempestades no RJ no começo do ano. A si mesmo e enquanto competição, a Stock Car não se ajuda.

À banca, eu diria, com ar professoral, que a Stock Car padece de um masoquismo crônico e gosta de se tratar como lixo, mesmo. Acho que eu ganharia uma nota perto do 10.

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