Blog do Victor Martins
F1

A guerra de Bernie

SÃO PAULO | Aí Ecclestone acordou. Tomou seu café de lorde, deve ter lido o jornal que lhe jogaram à porta e, mesmo que na capa tivesse lá estampado com destaque a situação no Bahrein, desconfiou. Porque Bernie tem emissários em Manama e região, segundo o próprio. Aí o chefe da F1 que ontem já admitia que […]

SÃO PAULO | Aí Ecclestone acordou. Tomou seu café de lorde, deve ter lido o jornal que lhe jogaram à porta e, mesmo que na capa tivesse lá estampado com destaque a situação no Bahrein, desconfiou. Porque Bernie tem emissários em Manama e região, segundo o próprio. Aí o chefe da F1 que ontem já admitia que o cancelamento da etapa era iminente hoje já era outro.

À BBC, Ecclestone falou em esperança, falou que a situação já está diferente, falou que sua opinião é outra e que espera que não tenha de fazer nada para que a abertura do campeonato aconteça em Sakhir como o planejado. “Nossa gente diz que está tudo quieto e sem problemas”.

Bernie talvez não tenha se preocupado em ver a própria BBC. Só o site da emissora já traz como manchete os “nervosos barenitas enterrando seus mortos”, e um clique nos revela que “os homens estão prontos para morrer em troca de mudanças” no governo monárquico de Hamad bin Isa Al-Khalifa. Acabo de ligar a TV. Assunto: Bahrein e Yêmen.

Uma das alegações de Ecclestone é que a F1 “nunca se envolveu em questões políticas ou religiosas”. De fato, não é função da F1 se meter em assuntos que não se discutem. Mas Bernie não tem de meter a F1 nisso. Inflado, aquele povo não vai hesitar em usar os testes e a corrida como plataforma para sua raiva. Gente de outros países árabes está chegando ao Bahrein. Gente que, sob a asa de um deus que eles julgam ser maior que qualquer outro, entregua sua alma purificada para o outro lado da vida sem temor em frente de armas e tanques e soldados fiéis a seu rei.

Bernie, no fundo, vê tudo isso como um exagero, bem como o cancelamento da etapa da “não importante” GP2 Ásia. 80 anos na lomba lhe garantem que uma corrida de F1 tem de continuar, tal como um show. O empresário e homem de negócios Ecclestone tem para si que um conflito no Bahrein é só uma pimenta ardida para o início de seu espetáculo e que, como na arte, os mocinhos vão vencer. Por mais que se goste de F1, e todos os caros leitores que aqui vêm evidentemente apreciam, hão de entender que é somente uma mera corrida de F1. Há outras 19 para se ver neste ano, e ninguém vai amarrar uma bomba no corpo ameaçando um assassinato coletivo. A prudência e o bom senso são latentes: cancelem essa prova, cacete.

E aí, paralelo a tudo isso, na seção de variedades e fofocas dos jornais, surge uma biografia na Inglaterra que revela que Bernie passou boa parte de sua vida humilhado a agredido em público por sua ex-mulher, Slavica. E então a gente entende qual a noção que Ecclestone tem de um conflito. O Bahrein é fichinha perto de sua guerra particular. E os prejuízos que pode ter com um simples GP de F1 não vão superar os mais de R$ 1,5 bilhão que já perdeu para sair dela.