Blog do Victor Martins
F1

Abu seita, 9

SÃO PAULO | A F1 tem um novo campeão. E se a análise após a definição do grid de largada de sábado em Abu Dhabi apontava que seria ou Alonso ou Vettel, isso significa dizer que o alemão completou a glória da Red Bull em 2010 com uma vitória soberba no modorrento circuito árabe hoje, […]

SÃO PAULO | A F1 tem um novo campeão. E se a análise após a definição do grid de largada de sábado em Abu Dhabi apontava que seria ou Alonso ou Vettel, isso significa dizer que o alemão completou a glória da Red Bull em 2010 com uma vitória soberba no modorrento circuito árabe hoje, contando com uma ajuda primorosa, eficaz e inesperada, claro. Não de Mark Webber, mas de Vitaly Petrov.

Alonso e Webber sucumbiram exatos 71% da prova atrás de Petrov. No máximo o espanhol tentou uma vez superar o russo, que mal está garantido no ano que vem por sua gama de erros na temporada. Só que baixou um espírito da perfeição no segundo piloto da Renault. E Webber, se queria alguma coisa da vida, fraquejou. Nem perto de Alonso andou.

Sorte da Red Bull, que explodiu em festa pelo título de seu ‘filho’ preferido.

Vettel chegou aos 256 pontos e viu Alonso, apenas sexto, ir a 252. Webber, sétimo, ficou com o terceiro lugar na classificação geral, com 242. E Lewis Hamilton, segundo na corrida, também foi a 242.

Como foi o GP de Abu Dhabi que deu o título de 2010 da F1 a Vettel

Vettel manteve a primeira posição com relativa dificuldade — Hamilton vinha por dentro e teve pequeníssima vantagem na largada — e Button começou a ajudá-lo na batalha pelo título ao superar Alonso para tomar o terceiro lugar. Naquela posição, então, só faltava Webber ultrapassar o espanhol para fazer o companheiro campeão. Instantes depois, o safety-car, que faz sua 250ª corrida na F1, parabéns, apareceu.

Acontece que Schumacher tentava passar Barrichello na briga pela sétima posição. E não poderia sair coisa boa. Levemente espremido na entrada da chicane, Schumacher teve de frear forte e permitiu que Rosberg colocasse o carro a seu lado. O veterano destracionou na saída da curva e acabou rodando — não houve toque algum do companheiro Rosberg. Aí Vitantonio Liuzzi, que das últimas cinco provas só completou uma, encheu o carro ali parado e, catapultado, parou praticamente no cockpit de Schumacher. Negócio foi plasticamente impressionante, mas nada aconteceu a nenhum dos dois pilotos. Só não deixa de ser uma provável despedida melancólica do italiano, que não deve ficar na Force India.

A corrida voltou a si na volta 6. Seguem cinco fatos relevantes:

1) Robert Kubica deu um passão em Adrian Sutil no fim da reta enorme para ganhar a nona posição.

2) Kamui Kobayashi tentou passar Rubens Barrichello e tomou o X.

3) Webber triscou o guard-rail da curva 19. Quatro voltas depois, reclamando do alto desgaste dos pneus traseiros, foi aos pits. Colocou os compostos mais duros.

(O sinal de áudio da TV caiu.)

4) Massa, que tinha como meta cercar Webber, parou no giro 14. Voltou atrás do australiano, que tinha certo problema para passar o ‘primo’ Jaime Alguersuari, da Toro Rosso.

(O sinal voltou)

5) Na 16, foi a vez de Alonso parar. Voltou pouca coisa à frente de Webber — graças ao tempo que o australiano perdeu com Alguersuari, espanhol. Ou seja, nada mudou.

O que mudou, na verdade, é que Alonso e Webber passaram a brigar por posições intermediárias. “Sei que você está fazendo seu melhor, mas você precisa passar Petrov”, veio a mensagem via rádio para Alonso, décimo, que passou a seguir o russo — já de pneus trocados, aproveitando aquele período do safety-car. A primeira tentativa real deu-se na volta 23. O piloto da Renault fechou a porta no fim do retão e induziu Alonso ao erro, indo parar na área de escape. Foi o ensejo para Webber colar no rival.

Lá na frente, Hamilton e Vettel iam aos boxes. O inglês deu azar de voltar atrás da boa briga entre Kubica e Kobayashi — e o polonês, nessa, repetiu a manobra sobre Sutil e superou o japonês. Vettel aproveitou para sentar a bota e encaixar uma sequência de voltas rápidas para evitar que Button, então líder, não lhe ocasionasse qualquer surpresa após sua parada.

As Renault, então, tinham papel primordial na decisão. Kubica acabava com as chances já naturalmente mínimas de Hamilton e Petrov eliminava sem muito esforço Alonso do tão próximo título.

O cenário da prova era simples. Alonso não podia se dar ao luxo de esperar quem estava à sua frente parar. Até porque, além de Petrov, Rosberg também havia aproveitado a presença do SC para realizar sua troca de pneus obrigatória. Na melhor das hipóteses, então, seria sétimo.

Vettel só foi reassumir a ponta na volta 39, com a parada de Button. Foi mais um caminhar tranquilo para o triunfo. Sua parte, pois, estava feita.

Alonso é que não tinha muito o que fazer. Petrov não esmoreceu em nenhum momento. À medida que passava o tempo e o fim chegava, o desespero começou a aflorar. O espanhol da Ferrari começou a cometer pequenos erros, escapadelas, escapadonas. Terminou em sétimo e perdeu a segunda chance na carreira de conquistar o tri.

E Webber, provavelmente, a única oportunidade que deve ter de se consagrar.

As cenas finais: Vettel chorando desbragadamente ao ouvir que “ele é o cara” do pessoal da Red Bull. É o cara, de fato. Foi buscar um título que não era seu. E Alonso indo reclamar com Petrov, gesticulando com as mãos de dentro do seu carro. Mãos que foram incapazes de conduzir a uma simples ultrapassagem. Mãos que deveriam esconder a vergonha de uma cena patética de quem não soube vencer.

E mais: Hamilton, Button — terceiro na prova —, todos foram cumprimentá-lo. Alonso, não. Alonso não deu as mãos a Vettel. As mãos de quem, pena, não sabe aceitar a derrota.