Blog do Victor Martins
F1

Foi Maluf quem fez, 4

SÃO PAULO | Era Alonso ou Vettel. Essa McLaren aí é uma mentira. Não teve bote, nem sequer chance de ameaçar os dois primeiros. Então era Alonso ou Vettel. E com os dois andando no mesmo ritmo, forte e sem erros, era só na estratégia de boxes que o alemônico conseguiria superar o hispânico. A história […]

SÃO PAULO | Era Alonso ou Vettel. Essa McLaren aí é uma mentira. Não teve bote, nem sequer chance de ameaçar os dois primeiros. Então era Alonso ou Vettel. E com os dois andando no mesmo ritmo, forte e sem erros, era só na estratégia de boxes que o alemônico conseguiria superar o hispânico. A história da corrida foi decidida na volta 29, uma antes das paradas dos dois primeiros.

Foi ali que a Red Bull foi burra demais. Porque o homem da placa ali na beira da pista chegou e colocou a informação: PIT. A Ferrari teve 1min50s para se preparar calmamente, sem que a rival percebesse. Avisou Alonso e voilà!, o jogo do cerco estava feito. E Vettel também foi pouco inteligente. Já que tinha condições de dar mais uma volta, poderia ter percebido o movimento à esquerda para entrada nos boxes do rival e, naquele momento em que vinha mais rápido, tentar a superação no giro seguinte.

O que se viu, então, foi um comboio. Nenhuma tentativa real.

Atrás a corrida até que teve muito movimento. Começou com Heidfeld voltando com alguma raiva guardada da Force India, batendo nos dois carros. Sobrou para Liuzzi, que vai de mal a pior, e deve perder o cockpit para Di Resta — não duvidaria nas próximas corridas. Veio o safety-car, e Massa já tinha feito seu primeiro pit-stop, enquanto a gente ouvia que era quase uma dádiva celestial largar em último. Aí Massa subiu para 15º, 14º, sei lá, e empacou. Com o mesmo carro do vencedor da prova, não arriscou uma ultrapassagem sequer, e ainda foi conivente com a inércia de todos os pilotos que ficaram voltas e voltas preso atrás de um destemido e impetuoso Glock e sua Virgin que se recusou a abrir as pernas. De novo: é pouquíssimo para um piloto Ferrari. O único piloto das equipes grandes que não briga pelo título. Os rumores seguem de Kubica no seu lugar. São rumores, de fato. Mas as queixas não poderão vir se virarem fato.

Até porque Kubica fez um corridaço. Não fazia lá grande coisa até seu pneu furar. De sexto, despencou para 13º. Aí veio babando e passou um a um, Alguersuari, Buemi, de Petrov deu dó, Massa foi jantado, Hülkenberg não ofereceu resistência e com Sutil foi cruel demais, passando por fora na curva em que Hamilton tentou manobra semelhante após a saída do segundo safety-car com Webber e se viu putinho metros depois ao abandonar mais uma vez. 

O Hamilton de 2007 reapareceu. Se ele vinha mais maduro, até pela temporada adversa que teve no começo de 2009, jogou muito do campeonato fora em duas corridas. Lewis subestimou um Webber que, nestes tempos de incrível Hulk, jamais permitiria ser superado daquela forma, numa disputa de líder com o então vice-líder. Digamos que Hamilton tenha perdido 12 pontos em cada uma destas provas. Com mais 24 estaria com 206 na classificação, pimpão e na ponta. Fraquejou.

Webber foi o único dos ponteiros a tentar algo diferente. Assim que o SC entrou, foi para os pits para se livrar dos pneus macios e fez uma longa jornada com os duros. Partiu para cima de Kobayashi e de Schumacher, não arriscou com Barrichello e esperou que os rivais parassem para então subir para o terceiro lugar. É um Webber combativo, diferente, impressionante, que merece aplausos, um Webber que quase ninguém esperava se mostrar assim. Ainda que Alonso esteja em fase estelar, não se espera que o australiano vá esmorecer — ainda que não tenha experiência nenhuma de luta por títulos.

Button, cerebral e lorde, fez o que dava com a McLaren relegada à terceira força. Quarto lugar, aquele que conseguiu na largada, 12 pontinhos, e na base do vamovê para as quatro — ou seriam três? — etapas finais.

Barrichello foi discreto, porém eficiente. Recuperou-se das duas posições perdidas na largada e chegou em sexto. São 39 pontos que pouco expressam sua ótima temporada. O X-Hülkenburg  poderia ter sido mais ousado, só seguiu Sutil e preferiu não ir para o vinagrete. Fez lá seus dois pontinhos. Daí os comissários resolveram brincar: puniram Sutil depois da prova por ele ter cortado a curva 7 e levado vantagem… na primeira volta! Aí os indianos, birrentos, dedaram que Hülk fez o mesmo e, oh!, punido! Então o que Massa não conseguiu em pista, obteve no tapetão: oitavo. E a Williams, que tem muito mais carro que a Force India, perde para os dalits em 4 pontos.

Kobayashi, o mito, foi do céu ao inferno em poucos segundos. Foi passar Schumacher e jogou o multicampeão pra fora. Logo depois, deu no muro da entrada ali de onde tem o estádio que já sediou os Jogos da Juventude, mas que alguns esperam para o mês que vem. Pior para Senna, que vinha logo atrás e não viu o carro ali parado, juntando-se aos cacos da Sauber. A praga do Bruno Mantovani é forte. Eu, hein. E a prova ainda teve o fogaréu na Lotus de Kovalainen, que vinha para os pits e resolveu parar na pista. No começo, achei que o finlandês estava louco. Mas depois vi que sua atitude fazia sentido: um carro naquele estado perto das pessoas e com combustível por perto poderia provocar um acidente terrível. Mandou bem.

A F1 parte para Suzuka, onde as coisas devem estar bem equilibradas. A McLaren tem histórico naquela pista, sempre vai bem. É talvez o match point dos prateados. Button não pode vir mais na toada e precisa partir para o ataque. E Hamilton, na mira do paredão, está à prova. A Red Bull ainda não pode pender para o lado de Webber porque Vettel ainda está no páreo. A Ferrari é toda Alonso e vai ter de arrancar de Massa um esforço para que tire pontos das outras. Campeonato bom demais, esse.