Blog do Victor Martins
F1

Caracóis húngaros, 5

SÃO PAULO | Webber não é o melhor piloto da F1. Não é o segundo melhor, nem o terceiro. Mas se trata de um piloto bom e competente. Acima de tudo, raçudo. E, principalmente, sortudo. Porque Webber hoje seria fatalmente fadado ao terceiro, no máximo segundo lugar. A corrida na Hungria era de Vettel. Se não fosse o safety-car e sua […]

SÃO PAULO | Webber não é o melhor piloto da F1. Não é o segundo melhor, nem o terceiro. Mas se trata de um piloto bom e competente. Acima de tudo, raçudo. E, principalmente, sortudo. Porque Webber hoje seria fatalmente fadado ao terceiro, no máximo segundo lugar. A corrida na Hungria era de Vettel. Se não fosse o safety-car e sua desatenção.

A largada se deu como esperada, até, com Alonso superando Webber, do lado sujo, num estalo de dedos. E com uma Ferrari mais lenta em um circuito fatídico para as ultrapassagens, o australiano só deixaria de ver seu mundo vermelho se a equipe agisse na estratégia. E muito pelo que fez ao longo da prova, Webber tinha condição de sobra para esperar Alonso parar, dar umas três voltas mais e sair dos pits com bela vantagem para o espanhol e sua Ferrari bem abaixo da dominante Red Bull.

Foi na volta 15  que tudo mudou. Uma peça se desprendeu do carro de Liuzzi — que vai mal, obrigado — e gerou a entrada do safety-car. Confesso que estranhei de início, achei desnecessário. Mas não daria para que um fiscal entrasse correndo na pista porque Vettel já estava alcançando os retardatários, então não haveria tempo suficiente para um ato arriscado.

Ali a Red Bull mudou a estratégia de Webber. Deixou-o na pista, enquanto os demais paravam, esperando que o australiano fizesse sua parte: abrisse o máximo possível para, quando fosse aos boxes, voltasse à frente de Alonso. A Williams fez a mesma coisa com Barrichello, mas sem inteligência.

Então líder, tudo que Webber tinha a fazer era esperar que o safety-car fosse aos pits para sentar a bota. Assim o fez. E aquela distância que Vettel permitiu entre seu companheiro era, de fato, estranha. A Red Bull não ia chegar no rádio e falar para que seu piloto deixasse um vazio para Webber só para auxiliá-lo, assim, para todo mundo ouvir e desconfiar que se tratava de uma estratégia — e não ordem — de equipe. Como o mundo não ouviu nenhuma mensagem da RBR, ficou claro ali que Vettel se atrapalhou e não sabia que o SC entraria naquela volta.

O que me pergunto é como os comissários ou quem quer que seja contam uma distância de dez carros para aplicar um drive-through desses. Eles congelam a imagem e colocam hologramas? Chegam numa TV de plasma e fazem a metragem com base na distância entre o polegar e o indicador? Se der 9,6, arredondam para 10? Que seja, a punição veio, Vettel caiu para terceiro e de lá não saiu.

Bastou Webber ir abrindo em média 0s7 por volta para chegar a confortáveis 22 ou 23 segundos e partir para os pits e o abraço. Como sorte pouca é bobagem, viu Hamilton abandonando com um problema de eixo e Button terminando só em oitavo — este mais beneficiado pelos erros e problemas alheios do que por méritos. Aí chegou a 161 pontos, como imaginava que um dos pilotos da Red Bull conseguiria. Só que, por tudo, já na liderança da classificação.

Webber não é o melhor piloto, nem o segundo, nem o terceiro. Webber está o melhor piloto, e por tudo que vem acontecendo neste campeonato, já é merecedor do título. Principalmente por ser o raçudo que foi em Silverstone.

O primo De la Rosa fez a melhor aparição dos últimos tempos, como as câmeras registraram volta a volta hoje, todo mundo viu. Depois Petrov, sólido, quinto colocado. Só titubeou no começo, ao tomar uma ultrapassagem de Hamilton por fora na curva 2. Mas a verdade é que a ameaça de ser defenestrado da Renault e o calor em Moscou acordaram o russo. E, por fim, Barrichello.

Mais importante que tudo, Barrichello me deu 50 pontos no BRV, o bolão da F1, ao ser décimo. E foi décimo fazendo uma senhora ultrapassagem sobre Schumacher, que nesta fase de piloto medíocre tem se mostrado sujo demais. Não precisa ir muito longe: com Massa no Canadá, igualmente no fim da prova. Barrichello já vinha reclamando que Schumacher no rádio quando conseguiu entrar na reta colado na Mercedes do alemão para tentar a ultrapassagem por dentro. Houvesse ali no fim uns 20 metros mais de muro, Rubens viraria uma sardinha, e o fatal toque de rodas poderia proporcionar um acidente de proporções inimagináveis. É caso destes comissários e desta F1 observarem que este Schumacher não é aquele de antes, que o trate como um piloto comum, como ele o é hoje, passível de punição rígida.

Agora a F1 entra em férias, e muita reflexão precisa ser feita. Vettel precisa pensar que não há mais tempo para se desligar em segundo algum — mas chega a ser meio covarde compará-lo a grandes campeões, como a emissora-mater fez hoje. A McLaren tem de acordar porque já está para trás na pista e na pontuação. A Ferrari também tem de se redescobrir, porque evoluiu bem, mas necessita de muito mais para deixar Alonso ali na briga. E Massa também vai ter tempo para ver com mais calma tudo que aconteceu nestes últimos dias.

Enquanto isso, Webber vai deitar no sofá mais confortável com um drinque na mão, controle-remoto na outra, cabeça reclinada e os pés sobre a mesa, curtindo o fato de estar e ser o melhor da F1.