Blog do Victor Martins
F1

Pastor alemão, 7

SÃO PAULO | A F1 viveu hoje na Alemanha uma nova versão do que havia visto na Áustria em 2002. Um ano depois do renascimento de Felipe Massa, a Ferrari matou a corrida impecável que o brasileiro vinha fazendo para dar a vitória a Fernando Alonso. Uma mensagem em forma de eufemismo veio dos boxes na […]

SÃO PAULO | A F1 viveu hoje na Alemanha uma nova versão do que havia visto na Áustria em 2002. Um ano depois do renascimento de Felipe Massa, a Ferrari matou a corrida impecável que o brasileiro vinha fazendo para dar a vitória a Fernando Alonso. Uma mensagem em forma de eufemismo veio dos boxes na volta 47 para que Massa, líder da corrida, abrisse para o espanhol, nos moldes do que havia feito com Rubens Barrichello e Michael Schumacher há oito anos. “Fernando é mais rápido”, disse o engenheiro de Felipe.

E a troca de posições se deu logo depois.

O resto vira realmente resto diante disso. Mas, vá lá, o pole Sebastian Vettel terminou em terceiro, as McLaren vieram depois com Lewis Hamilton e Jenson Button, Mark Webber terminou em sexto e depois, na ordem, Robert Kubica, Nico Rosberg, Schumacher e Vitaly Petrov, numa prova bem monótona pela expectativa que foi criada pela disparidade dos compostos dos pneus.

A prova em si: tudo que Massa precisou fazer foi largar. Porque Vettel se encarregou de largar mal e se preocupou em jogar o carro para cima de Alonso, que ficou espremido. Com pista livre, Felipe contornou a primeira curva bem à frente, enquanto o espanhol sobressaia diante do alemão. Pouco atrás, Hamilton passou Webber para ficar com o quarto lugar. Barrichello, que vinha de uma sequência de boas largadas, desta vez caiu três posições, indo parar em 11º.

Mais atrás, a Toro Rosso viveu um ‘pastelone’. Jaime Alguersuari se empolgou e, ao chegar no grampo, errou a freada. Tinha um mundo de carros para acertar. Optou pelo companheiro Sébastien Buemi, que se viu sem a traseira e sem mais o que fazer na corrida. As Force India sofreram as conseqüências: passaram nos estilhaços dos destroços, levando Adrian Sutil e Vitantonio Liuzzi aos pits na primeira volta.

Mas a Force India trataram de tacar curry para temperar a cena. Porque na parada, colocaram os pneus de Sutil no carro de Liuzzi e vice-versa. Os comissários ficaram de olho. E os indianos, sem dançar, confirmaram a patacoada. Como é proibido pelo regulamento, lá foram os dois para os boxes de novo.

A corrida se seguiu sem mudanças até as primeiras paradas, iniciadas com Vettel na volta 13. Alonso parou na seguinte e Massa, na 15. Mas com pneus duros, o brasileiro passou a ter a vida mais complicada, levando por vezes sufoco do companheiro. Tanto que o espanhol, que adora dar piti via rádio, reclamou com a equipe por estar atrás do companheiro: “Isso é ridículo”.

Ridículo ou não, a partir daí Massa começou a andar bem melhor em uma sequência de voltas mais rápidas, abrindo quase 3s5 até a volta 27. Alonso penou para reduzir a distância, cerca de 15 ou 20 giros, enquanto o resto do pelotão não fazia nada digno de revelância. Vettel, vez ou outra, ameaçava se aproximar, mas em média passou a ficar 5 segundos atrás das Ferrari. As McLaren, longe, estabeleceram-se em quarto e quinto e Webber, ainda mais distante, em sexto. Assim ficaria a corrida se…

…Se na volta 47 não viesse uma mensagem clara, pausada, silabada de Rob Smedley, o engenheiro de Massa, dizendo: “Fernando está mais rápido que você. Você confirma que ouviu a mensagem?”. Não houve resposta de Massa.

E na 49, depois da saída do grampo, Massa desacelerou claramente para Alonso passar. Em seguida, a voz voltava do rádio de Felipe: “Desculpe…”

Há muitos registros de que todos que estavam vendo, em qualquer lugar do mundo, disseram em suas línguas: “Isso é ridículo”.

Viveu-se na Alemanha, assim, uma nova versão do que aconteceu há oito anos na Áustria, quando Barrichello abriu para Michael Schumacher passar na linha de chegada. A posição oficial da Ferrari foi de que Massa não deixou passar. E isso, sim, é ridículo, porque cai diante do pedido de desculpas do engenheiro de Massa.

De resto, Barrichello terminou em 12º em atuação apagada e Bruno Senna foi 19º. Na corrida que voltou a coroar a falta de desportividade da Ferrari, sob vaias de muitos.

No pódio, um Massa com cara de choro. Na coletiva logo após, a resposta para o ocorrido: “Eu não preciso dizer nada sobre isso”.

Ninguém precisa dizer. Todo mundo entendeu. Infelizmente.

O dia 25 de julho para Massa é bem ruim. E um ano depois de ter renascido, Felipe morreu para muita gente.

E sobre punição, eu excluiria os dois da corrida. E ainda tiraria a Ferrari dos próximos dois GPs. Para aprender e dar uma lição. Não seria bom?