Blog do Victor Martins
F1

Zona do euro, 6

SÃO PAULO | Não fosse o acidente espetacularmente vistoso de Webber com Kovalainen, a corrida em Valência seria mais uma corrida daquelas em Valência — de forma inversamente proporcional de que a Lotus não é a Lotus. Foi a entrada do safety-car que deu uma bagunçada na vida dos pilotos, das equipes e dos comissários, que agora estão a […]

SÃO PAULO | Não fosse o acidente espetacularmente vistoso de Webber com Kovalainen, a corrida em Valência seria mais uma corrida daquelas em Valência — de forma inversamente proporcional de que a Lotus não é a Lotus. Foi a entrada do safety-car que deu uma bagunçada na vida dos pilotos, das equipes e dos comissários, que agora estão a analisar o ato promíscuo de nove pilotos que teriam se beneficiado daquele momento.

Tudo bem que Valência é uma pista de rua, e tal fato multiplica a dificuldade das ultrapassagens. Mas não se pode dizer, de maneira alguma, que seja tipicamente um traçado estreito, ondulado, à Mônaco. A verdade é que, de tantas pistas que a Espanha tem, escolheram as duas piores para que a F1 lá corresse. Esportivamente falando, Barcelona e Valência são paupérrimas.

Assim, coube a um personagem decidir o rumo da história da corrida de hoje. Webber não largou tão mal para quem partia do lado sujo da pista. Perdeu uma posição para Hamilton e, de certa forma, foi cauteloso demais ao ver Alonso do seu lado na primeira curva do circuito. Como a fez aberto demais, permitiu que Massa viesse junto. Aí já aparecia em quinto. Mais à frente, repetiu o erro, pensando que poderia recuperar as posições. Despencou para nono, encaixotado atrás da dupla da Williams. Com oito voltas, a Red Bull o chamou para os pits para que andasse um tempo livre e, com a parada dos rivais, tentasse a recuperação. Aí encontrou uma pedra no meio do caminho.

A pedra que não é aquela pedra é sabidamente lenta, ainda que seja a mais rápida das mais lentas. Só que disputava posição. Kovalainen não fez nenhuma manobra brusca para se defender. É que Webber vinha com muito mais ação. Deu naquilo. E Mark deu sorte, ainda, porque aquela zebra que pegou serviu de trampolim para que não se arrastasse de ponta-cabeça até a proteção de pneus. Menos mal que nada tenha acontecido ao australiano — só uma tontura, visível em seu reclinar de cabeça.

Aí veio o safety-car, e grande parte da galera que vinha acima do quarto lugar aproveitou para entrar nos pits, tipo Button e Barrichello. Vettel, Hamilton e as duas Ferrari só pararam na volta seguinte. E com essa regra de andar num determinado tempo e com ‘sub’ SC’s na pista, as coisas ficaram tão confusas que é difícil entender o porquê de Alonso e Massa terem se distanciado tanto na classificação naquele momento ou a demora em punir Hamilton, que escandalosamente passou um desses carros sob bandeira amarela — o que fez Alonso esbravejar durante e depois da prova.

Alonso, que vinha atrás de Hamilton e não cometeu infração, terminou em nono. Hamilton foi segundo. Alonso falou em corrida manipulada. Ironia do destino de quem ganhou a mais manipulada corrida da história, Cingapura 2008.

Vettel sobrou em qualquer situação. Foi insaciável com a Mandy Fogosa. E se poderia receber qualquer afronta de Hamilton, o drive-through tardio que o inglês tomou lhe deu sossego.

A prova pós-SC só teve dois personagens: Sutil, que conseguiu passar Buemi, e Kobayashi. O japa é 8 ou 80. A corrida de hoje foi formidável. Não parou como os demais, andou em terceiro o tempo todo e só foi aos pits porque era obrigado a usar os pneus moles. Voltou em nono e, em duas voltas, conseguiu obtusas ultrapassagens em Alonso e Buemi, esta na curva final. “Incrível”, sorriu Peter Sauber, empolgado com os primeiros pontos com esta carroça que recebeu da BMW, insisto.

Barrichello também merece destaque. Largada precisa, superou o companheiro Hülkenberg, completou a primeira volta em sétimo e logo pulou para quinto com o vuco-vuco do SC. E levando a corrida em banho-maria, como todo mundo, subiu para quarto com a parada de Koba. Barrichello, dadas as limitações, tem feito a Williams renascer na F1. Rubens pode não fazer dos FW carros prontos para disputarem título ou nem mesmo conseguir uma vitória nesta passagem por Grove. Mas só de ver a evolução da equipe e o quanto seus membros elogiam seu notável trabalho deve servir ao brasileiro como um atestado de suas capacidades que muitos hesitam apontar, além de ser um troféu simbólico a uma carreira que acompanha capítulos finais.

Agora, quase 13h30 no horário brasileiro, o negócio é esperar os comissários que provavelmente estavam vendo o jogo da Copa darem o veredito e prováveis punições aos pilotos. O saldo deste domingo é que a Alemanha foi muito superior à Inglaterra.