Blog do Victor Martins
F1

China out box, 4

SÃO PAULO | Primeira coisa que fiz assim que a corrida da China se encaminhava para as voltas finais foi pegar a tabela de apostas do BRV, o glorioso bolão da F1, para verificar quem tinha apostado nele. Não pelo fato de conferir pontuação, mas para dar base ao que imaginava: o quanto nós todos subestimamos Button […]

SÃO PAULO | Primeira coisa que fiz assim que a corrida da China se encaminhava para as voltas finais foi pegar a tabela de apostas do BRV, o glorioso bolão da F1, para verificar quem tinha apostado nele. Não pelo fato de conferir pontuação, mas para dar base ao que imaginava: o quanto nós todos subestimamos Button e achamos intrinsicamente que o título do ano passado foi uma aberração destas que acontece uma vez em cada década. Só dois indicaram sua vitória no BRV, e Alexandre Scaglia e Felipe Schiavo podem até admitir que resolveram arriscar.

Enquanto piloto, Button é um lorde. Trata o carro com um refinamento que é difícil de encontrar tal habilidade com outros pilotos. Soube chegar à vitória com uma condução cerebral, contando com o único erro de Rosberg enquanto o germanesco venha na ponta. Não se intimidou com o crescimento brutal de Hamilton, e quando este era segundo, passou até a virar mais rápido. E não que Button seja mais rápido. É que Button é constante. Hamilton, o melhor piloto em chuva que a F1 tem, dá o show sabendo que ele tem um momento para acabar. Ou porque ele acaba com os pneus ou porque ele vai cometer um erro.

E Hamilton, hoje, não cometeu erros. Mas foi autor de manobras que, fosse outra época ou outro piloto, mereceriam aquele puxão de orelha da FIA. Tipo a do toque em Webber antes da relargada. Até porque Hamilton não podia estar emparelhado com o australiano da Red Bull daquele jeito. E se o que ele fez com Vettel no caminho para os pits é permitido — da mesma forma que Alonso com Massa —, a questão que fica, então, é a função daquela linha que delimita a passagem. Só posso pensar que a ausência de punições se deve à influência dos comissários-pilotos, mais vividos que os homens que a FIA aponta para isso.

Por esse não punido Hamilton endiabrado e porque Button é subestimado que muita gente, como eu, pensou que a aproximação provocada pela entrada daquele safety-car safado e mandrake seria o rito de passagem da vitória de um piloto da McLaren para o outro. Button não foi nem ameaçado por Rosberg. Foi inteligente ao se manter na pista enquanto a maioria dos rivais corria para os boxes com medo da chuva que nunca chegou a cair com força. E com essa cabeça é líder do campeonato num carro em que ainda não se sente 100% bem.

Com um Button imperial e um Hamilton plebeu, a McLaren lidera o Mundial com 19 pontos de vantagem para a Ferrari, à frente de Red Bull e Mercedes. A chuva presente em três das quatro etapas deu uma camuflada na F1 e uma mistura para a entrada da fase europeia bem interessante para a disputa.

Porque a McLaren ainda não tem o melhor carro. O desempenho da Red Bull hoje foi tão irreconhecível quanto o de Schumacher. Não andou no ritmo que se esperava, nem mesmo quando os carros austríacos tinham pista livre. Em condições normais, que é o que os pilotos devem encontrar se conseguirem voltar para a Europa um dia, a corrida das rivais é para segurar Vettel. A Ferrari notadamente é a terceira força. Só a Mercedes está num posto condizente, embora seja uma equipe que sobrevive às custas de Rosberg — quem diria…

‘O que acontece com Schumacher?’ foi a matéria que fiz para a Revista Warm Up — e para quem não a acessou ainda, saibam que, como Irmã Selmã, eu rezo, e acontece —, ouvindo muita gente gabaritada, tirando Flavio Gomes, que aposta que é questão de tempo e que ele não encontrou as melhores condições nas corridas anteriores, também em virtude da chuva e de azares. Hoje Schumacher demonstrou claramente sua ferrugem, que realmente não é e talvez nunca mais será o mesmo. E já ouço de muitos que o Schumacher de hoje já demonstra que o Schumacher de antes era irreal e fabricado, moldado por uma equipe que só sabia pensar nele e auxiliado por rivais que não o incomodavam, o que é besteira. Schumacher foi um piloto primoroso. Hoje Schumacher é de mediano para baixo, um arremedo de piloto, um esboço. Esqueçam aquele piloto heptacampeão, colecionador de títulos, dominante e imponente.  Schumacher, hoje, não é inteligente como Button nem arrojado como Hamilton. E portanto não pode nem ser comparado com estes pilotos.

Alonso plantou a primeira malagueta no quintal de Maranello. Face o esforço da tentativa de criação de polêmica, o dizer que “tá tudo bem”, como Massa falhou ao expressar depois da corrida, bem como os panos quentes que a Ferrari pôs, revelam que o tempo a mais que eles vão passar em Xangai vai servir para uma conversa bem mais acalorada. Se Massa não sabia ou achava que Alonso se encaixaria no livro de regras da equipe, o episódio da entrada dos pits foi o exemplo do cada um por si. E como não tem sangue de barata, haveremos de ver um Massa mais aceso daqui em diante. Bem mais aceso do que foi hoje, com suas claras limitações em pista molhada.

Três pilotos tiveram performances notáveis, mas oscilantes. Sutil, por um momento, poderia se tornar líder se não resolvesse trocar tanto de pneu. Ora entre os primeiros e ora entre os últimos, o 11º lugar foi muitíssimo pouco pelo que fez. Alguersuari tem se mostrado ótimo. Outro que poderia sair de Xangai se a Toro Rosso se concentrasse numa estratégia, e se ele não tivesse quebrado a asa dianteira na traseira de Senna. E Petrov foi excelente. Um errinho ali, tal, mas a recuperação no fim da corrida, em que foi o mais rápido nas voltas finais, aponta que o russo é muito melhor do que se supunha.

Barrichello fez uma má corrida para um piloto de tamanha bagagem em pista molhada. Ainda assim, deu trabalho para Massa nas disputas. Mas estranhamente sua melhor volta foi bem mais lenta que a de Hülkenberg, o piloto mais perdido na corrida. Deve tá dando volta até agora no circuito. Ninguém acha.

All in all, as corridas na Europa devem dar uma murchada na expectativa geral,  principalmente esta primeira em Barcelona, pródiga em nos deixar emburrados e macambúzios. Os comentários vão resgatar os bons tempos do trio Austrália-Malásia-China e a busca por chuva será católica. A F1 entra em sua fase certinha. Pena.