Blog do Victor Martins
F1

O GP da Malásia e seus pitacos

SÃO PAULO | Alguém subornou São Pedro, chamou o velho para uma biriba ou uma tranca, e ele esqueceu de ligar a ducha do fim de tarde na Malásia. Mas a chuva, a de ontem, foi a grande responsável para que a corrida da Malásia fosse movimentada, ainda que concentrada no quarteto da recuperação. Porque, […]

SÃO PAULO | Alguém subornou São Pedro, chamou o velho para uma biriba ou uma tranca, e ele esqueceu de ligar a ducha do fim de tarde na Malásia. Mas a chuva, a de ontem, foi a grande responsável para que a corrida da Malásia fosse movimentada, ainda que concentrada no quarteto da recuperação. Porque, pelo jeito, Sepang seria uma versão mais ajeitadinha do que foi Sakhir.

Falando do que foi, a prova causou impressões distintas. A quadra estava alinhadinha, ali, Hamilton, Massa, Button e Alonso, e só o inglês escalava o pelotão, enquanto as Ferrari e Button ficavam encaixotados pelo rendimento interessante das duas Toro Rosso. Nesta primeira parte da prova, era cabível imaginar que Hamilton destoava dos demais por seu arrojo e vontade, enquanto Massa e seus comparsas haviam optado pela comodidade da desculpa de que, com carros de igual motor, a ultrapassagem se fazia impossível. Mas bastou o impetuoso Hamilton cair atrás de um carro com Mercedes, Sutil, para que seu topete baixasse, ao passo que Massa, ainda que a duras penas, superou Button. No fim das contas, Hamilton, Massa e Button ocuparam de sexta à oitava posições, com dificuldades de ultrapassagem iguais. E não fosse a Ferrari de Alonso pifar, ali estaria o quarteto juntinho, de mãos dadas, como ontem.

Lá na frente, Webber entregou a vitória para Vettel na largada. Até imaginei que brigaria para retomar o primeiro lugar, mas fui bocó em semelhante pensamento. Rosberg, que julguei como favorito à vitória caso as condições do caos fossem repetidas, acompanhou as Red Bull de longe. Fez uma prova solitária, o alemão, sem ser ameaçado por este renascente Kubica com a ressurgente Renault.

Renault de Petrov, e esse russo é bem abusadinho. E confesso que fui um daqueles que bradou pela punição de Hamilton naquele vaivém desbragado que fez na frente do rival da KGB na reta principal. Como disse o narrador — e, portanto, é oficial  —, se fosse Petrov o autor daquele ziguezague, certamente a visita aos boxes por um drive-through seria protocolada em três vias.

Outro recém-saído das fraldas, Alguersuari, ficou só com dois pontos que poderiam ser sete ou oito. Um desempenho notável, com uma ultrapassagem sobre Hülkenberg, ali na curva 5, por fora, digna de aplausos, e uma outra, também, sobre o próprio Petrov. Sem contar que o espanhol chegou a fazer a melhor volta da corrida por parco instante. “Aprendi a arte da luta com Schumacher”, disse. 20 anos de uma bela personalidade. Jaimito, como diz à boca pequena Flavio Gomes, mostrou hoje que deve ser observado com melhores olhos.

E Sutil e essa Force India vão dar trabalho. Não foi a melhor aparição de Adrian na F1, mas certamente foi a mais constante e sólida. Não se intimidou com o melhor carro do amigo Hamilton ali atrás, e o quinto lugar já o pôs à frente do companheiro Liuzzi na classificação. A Force India é a melhor do resto. Hão de questionar, falar que a Renault está melhor. Não é verdade. É que Kubica tem tirado demais deste carro mediano.

Lá atrás, Di Grassi terminou sua primeira corrida. Bom por uma série de razões. A Virgin já resolveu aquele problema primário de tamanho do seu tanque de combustível, o carro já não apresenta tantas falhas, até está menos lento, etc. e tal. E terminou à frente das rivais debutantes, o que já é uma vitória. Senna também terminou, legal, muito bom, mas tomar 17 segundos de Chandhok não é lá muito normal, digamos assim. Decepção seria algo muito forte dizer, mas esperava mais do inteligente Bruno. E Barrichello, na contramão, não engatou a terceira na sequência de boas corridas. Pior, falou da “porcaria do carro que ainda não está legal”. 

Juro, eu até entendo Barrichello, suas palavras de humor, essa tentativa de descontração, do quase zombar de si mesmo. Só que aos olhos da sisuda F1, soa esquisito. Aos ouvidos de Frank Williams, Patrick Head e Sam Michael, que outro dia questionava o porquê de Rubens não ter sido campeão, serve como razão para se resgatar aquela imagem que muitos tem do brasileiro no paddock — da qual o próprio Williams comentou no ano passado, após aquele GP da Espanha em que Barrichello saiu indignado achando que tinha sido escandalosamente prejudicado na questão das paradas nos pits. Nesse tom mais de brincadeira, que ele permita que questionem sua porcaria de largada sem se queixar, sem achar que o mundo conspira contra. Num tom mais sério, seria válido observar que alguma coisa deve estar errada com ele, e não com sistemas anti-stall.   

Ao fim e ao cabo, como bem destacou o abutrino Ivan Capelli, não deixa de ser engraçado que Massa seja o líder do campeonato à frente dos três pilotos que venceram as corridas da temporada. “Nada muda no momento”, disse Felipe, sabendo que tem de mudar, sim. Primeiro, a Ferrari tem de deixar de ser besta e evitar erros como os da classificação. Segundo, tem de assumir que, se parecia a melhor na pré-temporada, está ligeiramente atrás da Red Bull e no mesmo nível da McLaren e de Rosberg — porque a outra Mercedes, a de Schumacher, ainda não disse a que veio. Massa tem 39, Alonso e Vettel tem campanhas iguais e 37, Button e Rosberg somam 35, Hamilton está com 31 e Kubica aparece com 30. Webber, em sua toadinha, com 24, deve se juntar ao grupo em breve, mas só deve fazer figuração. Três provas diferentes, mas que geram um resultado interessantíssimo. E com um G4, sai Schumacher, entra Kubica, que deve promover revezamentos prova a prova na classificação.

Vai bem, a F1 2010.