Blog do Victor Martins
F1

A tese da simplicidade

SÃO PAULO | Faz sete anos que eu organizo um bolão de F1, o já mencionado BRV, e todos os anos eu me juntava com a cúpula diretiva desta organização quase não-governamental para definir as regras e agregar novidades para atrair uns tantos mais para a brincadeira. A maioria destas novidades não vingou. Porque eram […]

SÃO PAULO | Faz sete anos que eu organizo um bolão de F1, o já mencionado BRV, e todos os anos eu me juntava com a cúpula diretiva desta organização quase não-governamental para definir as regras e agregar novidades para atrair uns tantos mais para a brincadeira. A maioria destas novidades não vingou. Porque eram ideias que, apesar de boas, estragavam a jogatina como um todo.

No ano passado, inventamos umas tais perguntas. Eram 10, se não me trai a memória, 12, talvez 20, divididas em dois grupos por sua dificuldade. O apostador escolhia uma pergunta de cada grupo. Então tinha lá “Quem será o primeiro piloto a ser substituído na temporada?”, e aí o bocó atribuía x pontos para seu palpite. Acertando, levava, claro; errando, aí que estava a sacada, perdia os x pontos.

Confesso que depois de umas quatro corridas já lamentava a implmentação desta cretinice. A corroboração de que não era só eu quem achava isso veio em Floripa, no Desafio das Estrelas, quando encontrei Reginaldo Leme. O Regi, que sempre foi uma negação no BRV, desta vez brigava pelo título. Na última corrida, o perdeu. A grande novidade ajudou a contribuir, e Regi, polido, falou algo como “se não fossem aquelas perguntas idiotas…”. E eu até gostei. Notei que às vezes, o mais simples pode ser a melhor solução.

A F1 tem se esforçado para aumentar o show, principalmente em torno da questão da ultrapassagem. É praticamente impossível requerer que tudo volte ao tempo de duas décadas atrás, porque as descobertas tecnológicas, o uso de computadores ultra-avançados e a evolução dos materiais trouxeram uma nova era, e cabe às mentes brilhantes que controlam o espetáculo indicarem propostas e estabelecerem regras e vetos para que as disputas voltem a fluir naturalmente, adaptadas aos tempos atuais. A limpeza dos carros em termos aerodinâmicos foi válida, mas coisas como calotas e difusores duplos atrapalham na questão da formação do vácuo para que o adversário consiga superar o oponente. Daí 2009 não ter sido tão diferenciado.

Então resolveram mexer no reabastecimento e no sistema da pontuação para chacoalhar. Em tese, válidas as duas ideias. Evitar que as estratégias promovam trocas de posições e incentivar à vitória aumentando consideravelmente a diferença do primeiro para o segundo vieram a calhar. E, em consequência da proibição da colocação de gasolina, findava a desnecessária regra de largar com o combustível que restava nos carros que passavam à batalha da superpole, deixando de lado a mera tática aplicada no Q3 para, assim, trazer de volta o caráter de premiar aquele que pura e simplesmente foi mais rápido do que os demais no treino classificatório.

Tava indo tão bem, diria aquela personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Mas aí tinha que acontecer algo para a nota 10 não sair. Hoje a revista Autosport  informou que, em nome do espetáculo, oh!, vão exigir que os 10 pilotos da superpole utilizem no começo da corrida os pneus que carregaram nesta última parte da classificação. Ou seja, é a forma encontrada para substituir a gasolina remanescente. Ou seja, o retrocesso, o baque, o término broxante da expectativa de ver a busca pelo melhor tempo para que a burocracia da prudência volte à tona. Tipo a preferência pelo empate quando é possível buscar os três pontos.

A patacoada precisa ser aprovada pela Comissão da F1, pelo Conselho Mundial, pela bisavó de Bernie Ecclestone e pelos universitários. Vai acabar passando, porque “a maioria das equipes aprovou”. Compreendo que a tentativa é válida. Só que é preciso pensar melhor antes de aplicá-la, e não sair mudando as coisas num estalar de dedos — como acabou sendo a primeira proposta de alteração na pontuação, que no fundo era a mesmíssima porcaria. A F1 não é um BRV, claro, é zilhões de vezes mais complexa e importante. Mas a F1 ainda há de entender aquela tese da simplicidade do BRV.