SÃO PAULO | Então é assim: Nelsinho Piquet concorda em participar de uma armação que só o beneficiaria a longo prazo, considerando a temporada 2009, erra propositalmente no lugar e na hora certa e dez meses depois, sob o escudo da FIA, resolve contar tudo o que aconteceu após sua demissão. E tem a consciência tranquila.
É, é assim.
Curioso que Nelsinho correspondeu às expectativas da Renault justamente quando não deveria. Fez certinho o que seus chefes pediram, volta 14, curva 18, levantando suspeitas, mas passando por elas à época de forma a entender que as teorias da conspiração fossem dissipadas. Nelsinho e seus chefes foram melhores atores que pilotos, e geralmente vilões costumam ter atuações muito mais convincentes do que os mocinhos protagonistas.
Nelsinho já notou que a reação do público, e de seu público, à sua delação foi extremamente negativa. Até mesmo aqueles que o defendiam como um dogma da moralidade e bons costumes não escondem a reprovação. A saída é tentar sair como o paladino da verdade, o piloto dentre tantos que sofreram nas mãos de Flavio Briatore que se viu na quase obrigação de aceitar um plano delineado a quatro mãos sórdidas e que guardou o deslize para revelar ao mundo a podridão que existe naquele lugar — e que porventura não seja exclusividade da Renault.
Ainda nos EUA, Piquet leva jeito de quem está tranquilo, mesmo, e a Renault, agora unida como um todo, pelo presidente brasileiro que tem, aceitou o pedido de guerra. Pelo que se sabe, vai perder no julgamento do Conselho Mundial e nos eventuais processos por danos materiais e morais que mover.
Herói ou vilão, este é o maniqueísmo que Nelsinho vai carregar. Talvez tenha sido sua escolha para desviar o foco da avaliação predominantemente negativa que era feita dele como piloto.