Blog do Victor Martins
F1

Honra ou vendetta

SÃO PAULO | Garantia. Pressão e terror. Vendetta. Delação premiada.  A história de Nelsinho Piquet e Flavio Briatore em Cingapura no ano passado deve resultar em algo pesado. Principalmente porque no cerne da questão está alguém que “todo mundo quer matar”, cuja cabeça foi entregue por alguém que sabia de muita coisa a gente que […]

SÃO PAULO | Garantia. Pressão e terror. Vendetta. Delação premiada. 

A história de Nelsinho Piquet e Flavio Briatore em Cingapura no ano passado deve resultar em algo pesado. Principalmente porque no cerne da questão está alguém que “todo mundo quer matar”, cuja cabeça foi entregue por alguém que sabia de muita coisa a gente que de fato tem o mesmo desejo de vê-la como prêmio.  

É fato que houve um delator, e especular quem foi fica a cargo de cada um. Antonio Pizzonia, vizinho e amigo de Nelsinho Piquet, e Lucas Di Grassi, piloto da Renault, haviam indicado que uma artilharia das mais pesadas estava por vir.

Remontando o caso: 2008 para a Renault foi muito ruim, mesmo tendo de volta Fernando Alonso. O R28 era um carro fraquíssimo, e a montadora, via presidente Carlos Ghosn, vinha dando claros sinais de que só estava na F1 como plataforma de venda de seus carros de passeio. Sem vitórias, simplesmente sairia da categoria. Havia toda a especulação de que Alonso poderia ir para a Ferrari. E Piquet vinha numa temporada de mediana para baixo, só com aquele pódio irreal em Hockenheim, e uma série de batidas, rodadas e maus desempenhos no bolso.

Considerando que houve a armação, coloco uma hipótese que considero plausível: a trama não deve ter sido idealizada minutos antes da corrida. Já que Alonso, com problemas no treino de classificação, largava em 15º, o plano foi bolado no sábado da noite e nas primeiras horas do domingo. Notem que os pilotos que hoje largam de 11º para cima geralmente estão pesados para se beneficiarem das paradas dos ponteiros, que sempre partem mais leves. A estratégia feita para Alonso foi justamente inversa: estar leve, parar mais cedo até que os primeiros colocados, pegá-los de surpresa com um safety-car arranjado.  

O que quero dizer com isso é que, se isso aconteceu, Alonso também é cúmplice da história. E isso me remete ao caso de doping dos cinco atletas brasileiros às vésperas do Mundial de Atletismo realizado em Berlim. Todos eles podem até não saber a substância dopante e não terem tido nenhuma intenção de se beneficiarem, só que, na ingenuidade ou na tentativa de esperteza, estavam envolvidos em um plano que poderia trazer a eles benefícios.

Para Nelsinho, sofrer mais um acidente em condições normais resultaria, naquele momento, uma substituição por Lucas Di Grassi. É possível pensar, então, que espatifar o carro no muro daquela forma, voltas depois de Alonso ter trocado os pneus e reabastecido, para entrada do SC e consequente ascensão do espanhol às primeiras posições, representava uma garantia de que Piquet ao menos continuaria até o fim da temporada na equipe e seria um ponto cabal para renovação do contrato para 2009.

Acordo garantido, ainda que com cláusulas de performance, Piquet sofreu nas mãos de Briatore. Várias foram as vezes que, como contei aqui tempos atrás, o dirigente lembrava das linhas e alíneas do contrato ao brasileiro momentos antes da largada. Veio a demissão, ou num eufemismo, a separação mútua. A vingança sempre esteve nos pratos dos Piquet. E aí houve a ebulição do fato em Cingapura.

Não pensar que a história vai espirrar além de Briatore pode indicar um caso de delação premiada. Só assim para imaginar que haja um escudo em Nelsinho, para que sua carreira não ganhe uma mancha que já existe pelo que apresentou em 28 corridas. A Alonso, é de se duvidar que sobre algo, mesmo, repito, tendo sido peça do benefício de uma armação. E para a Renault, bem, o resultado desta investigação, cujos documentos e provas parecem ser passadas, é o mote mais do que suficiente para que mande esse negócio de F1 definitivamente às favas.