Blog do Victor Martins
F1

Dois amarelos

SÃO PAULO | A chuva não veio, e muito da graça que a corrida na Alemanha poderia ter se perdeu. Ao menos, foi recuperada no fim. É muito legal, é bonito de se ver ou ouvir a expressão máxima da comemoração de alguém que há sete anos luta para conseguir o ponto máximo da carreira. Curiosamente, Mark Webber demorou […]

SÃO PAULO | A chuva não veio, e muito da graça que a corrida na Alemanha poderia ter se perdeu. Ao menos, foi recuperada no fim. É muito legal, é bonito de se ver ou ouvir a expressão máxima da comemoração de alguém que há sete anos luta para conseguir o ponto máximo da carreira. Curiosamente, Mark Webber demorou o mesmo período de tempo que Rubens Barrichello para conseguir uma vitória na F1, sete anos. Natural que o choro viesse nos dois casos.

A vitória em si poderia e deveria ter sido mais fácil. Uma má largada de Webber provocou uma perda de controle do carro ou um eventual descontrole emocional que lhe fez jogar o carro sobre o de Barrichello, a seu lado. A punição tardou a vir, mas ambos já estavam tão à frente dos demais por terem ficado atrás de um lento porém combativo Heikki Kovalainen que o australiano continuava tendo no brasileiro sua única ameaça à meta.

A Brawn não tinha um pacote bom para o fim de semana. O frio, de fato, faz mal a seu carro. Os pesos dos veículos, mais leves que os demais, já denotavam que a equipe partiria para algo diferenciado. E sem poder brigar em igualdade de condições com a Red Bull, resolveu adotar a tática das tais três paradas. E toda vez que opta por ela gera uma polêmica. Que vai ter desdobramentos certeiros desta vez.

Após a primeira parada, Barrichello voltou atrás de Felipe Massa. Justamente numa corrida em que a Ferrari teve um desempenho ótimo, face o que vem apresentando na temporada. Rubens empacou atrás do compatriota, permitindo que Webber facilmente recuperasse o tempo perdido no drive-through. Com carro mais leve e melhor, tinha de ter ultrapassado. O mesmo aconteceu no Bahrein, com Nelsinho Piquet, por algumas voltas. Se dava ou não, sei lá, mas tinha de dar. Porque ali começou a perder a prova que dificilmente seria dele, mas que faceiramente apontava o caminho da glória no início.

Preso, Barrichello esperou a ida de Massa aos pits para tentar recuperar o ritmo aplicado no primeiro trecho. E andando no ritmo da Ferrari, portanto abaixo da balada da Red Bull, junto ao problema que teve no segundo período de reabastecimento, caiu para quinto, atrás de Nico Rosberg e da expressiva Williams.

Aí viu Jenson Button em seus retrovisores. Que vinha mais rápido, diga-se, com seu ziguezague em tom de balê para aquecer os pneus no meio da reta. Uma atitude que deveria até ter sido seguida por Barrichello, visto que estava surtindo algum resultado para o companheiro. E aí veio a troca de posição nos boxes. Um pontinho que demonstra que a Brawn, sim, privilegiar Button daqui para frente. Até porque, como o próprio Barrichello disse logo após a corrida, putito, que desse jeito a equipe pode “perder os dois campeonatos”.

Pelo ritmo da Red Bull, a vitória seria impossível. Um lugar no pódio a Barrichello, viável. Brigaria com Massa. Barrichello não pode reclamar agora das três paradas. Foi para ambos, desta vez, e assentido por ele na reunião que a Brawn fez para discutir a estratégia de corrida. Não pode reclamar da ausência do sol para que os pneus funcionassem melhor ou da chuva, de cuja situação pudesse tirar proveito de sua habilidade. A única queixa, que realmente entendo ser difícil de digerir, é a questão da velha tática de inverter posições entre pilotos da mesma equipe. Mas convenhamos que depois de ter aberto quase 20 segundos para Button no começo da prova, não era para Barrichello estar bem à frente dele no fim.

Webber ganhou e emocionou muita gente. Barrichello já reclamou, e duramente, sobre o “show de como perder uma corrida”. E já disse que não quer ouvir o blablablá da Brawn. Com isso, Barrichello já descontentou muita gente. Frank Williams, que nada tem que ver com o pato, ouviu o que o brasileiro disse e, mostrando que não aturaria declarações deste tipo de um piloto seu, afirmou se tratar de uma “ofensa para cartão vermelho”.

É até compreensível a irritação de Barrichello. Mas mais uma vez, suas palavras vão gerar uma polêmica no mesmo nível ou até maior do que aquelas do GP da Espanha. Onde, ao que parece pelo discurso amansado dos dias seguintes, ganhou um cartão amarelo. Dois juntos, a gente sabe no que dá.

Acréscimo: pinta agora, às 13h30, o comunicado da Brawn. “Agora está bem claro para mim que foi uma combinação de coisas”, diz Barrichello. Ou seja: o que disse antes era totalmente desnecessário.