Blog do Victor Martins
F1

2010, uma F1 no espaço

SÃO PAULO | Vamos lá. FIA e Fota estavam bem perto de chegar a um acordo, e as duas partes claramente acenaram com tal possibilidade em posições notoriamente diferentes dos ataques que se sucederam nos últimos 50 dias. As duas estavam dispostas a ceder. Naturalmente, é surpreendente saber de uma das partes que a briga continua. […]

SÃO PAULO | Vamos lá.

FIA e Fota estavam bem perto de chegar a um acordo, e as duas partes claramente acenaram com tal possibilidade em posições notoriamente diferentes dos ataques que se sucederam nos últimos 50 dias. As duas estavam dispostas a ceder. Naturalmente, é surpreendente saber de uma das partes que a briga continua. O motivo real ainda não se sabe. E como não se sabe, deduz-se que uma das duas, ou as duas, voltaram a bater o pé em seus princípios.

Em qualquer enrosco que se tem na vida, é muito comum que as partes espalhem a terceiros o ocorrido, cada uma a seu modo, de acordo com seu interesse e ressaltando determinado ponto que faça convencer a quem conta de que tem razão. A postura de FIA e Fota, bem como no embate em que se envolveram, também conflita.

A Fota logo se preocupou em mandar um comunicado à imprensa, abrindo-o com o breve histórico da associação que representa as equipes e logo demonstrando seus pensamentos e bases distintos dos da FIA, também envolvendo Bernie Ecclestone/FOM diretamente, sem citá-los. E que para não ficar num eterno bate-cabeça, até porque havia um prazo a ser cumprido, resolveu por bem reunir todos os seus membros na criação de um campeonato a seu bel-prazer.

É certo que a Associação das Equipes fez um encontro particular na sede da Renault, mas é difícil crer que a FIA tenha sabido pela imprensa que havia uma cisão. A FIA preferiu o silêncio e verificar as consequências do anúncio. O site oficial da F1 sequer divulgou a nota da Fota. A FIA não se importou em novamente esclarecer seu ponto de vista ou mesmo noticiar que não havia um consenso. Esperou a manhã de sexta e até os treinos livres do GP da Inglaterra para anunciar, em parcas linhas, que vai processar a Fota e em especial a Ferrari, com quem tem um laço atado e visceralmente não muito claro.

Enquanto isso, os membros da Fota tentam ser comedidos durante um fim de semana de corrida, mas acabam dando detalhes de seus pensamentos. A BMW fala em um Mosley irredutível e que não há outro caminho a não ser a dissidência. A Red Bull já não é tão radical e vê em Ecclestone a solução — o Ecclestone da qual a Fota como um todo se queixa. A McLaren dá um ar de mistério e vem com um papo de que as equipes mais fortes estarão juntas num campeonato que será reconhecido como o maior, sem dizer claramente que se trata de algo paralelo. A Fota está junta, mas se percebe que as posições não são tão unas assim.

Cada um, claro, tem sua opinião diante do caso. Tem quem ache um desastre o racha e tem quem veja que é divertido porque vai haver dois campeonatos para acompanhar. Nem oito nem 80. Até posso acreditar que as intenções e preocupações de Mosley sejam legítimas com relação ao corte de custos diante de um mundo em ressaca da crise mundial, mas o que me fica de impressão é que é problema das montadoras e das equipes o quanto querem gastar. Se no fim acabarem quebrando, azar da péssima administração e do mau gasto de seus recursos. E aí, sim, a FIA acabaria saindo muito por cima dessa história toda, como pai que avisa ao filho aventureiro dos riscos, e colocaria na F1 as equipes que realmente apostassem na competição com a consciência de que tudo deve ser calculado e não esbanjado.

Ainda haverá alguma mudança nesse cenário. A atitude da FIA em ir à Justiça e de não anunciar as equipes do ano que vem até que a pendenga seja resolvida também afeta aquelas que esperam por uma oportunidade na F1. A Corra Lola e a N.Sync cansaram de esperar. As outras vão acabar fazendo o mesmo. Vai saber até quando isso vai ser arrastado. E todas elas, eventualmente, precisam tocar seus projetos ou abandoná-los. 

A primeira temporada da série da F1 acabou. A odisseia da segunda vai começar. 2010, uma F1 no espaço.