Blog do Victor Martins
F1

Menos que um boi

SÃO PAULO | Existe aquele ditado que é usado por muita gente, por mim mesmo, que fala que se dá um boi para não entrar numa briga, mas uma boiada para não sair dela. Desde o começo, a FIA sabia que ao menos provocaria um alvoroço ao tentar impor um limite de gastos na F1 para que […]

SÃO PAULO | Existe aquele ditado que é usado por muita gente, por mim mesmo, que fala que se dá um boi para não entrar numa briga, mas uma boiada para não sair dela. Desde o começo, a FIA sabia que ao menos provocaria um alvoroço ao tentar impor um limite de gastos na F1 para que 1) as montadoras não gastassem à beça em tempos de crise e prejuízo financeiro à indústria automobilística e 2) para que novas equipes pudessem se animar e entrar numa categoria em que só 20 carros desfilam, dando como mote a renovação das ideias dos engenheiros na busca de algo próspero com orçamento restrito.

Foram uns 50 dias nessa historieta que uniu dez equipes sob a batuta da Fota contra a entidade que define as regras do campeonato e, mais para o fim, também contra a FOM de Bernie Ecclestone e sua divisão injusta e maléfica. A briga estabeleceu-se, e diante disso, quem pulasse para o outro lado, isto é, quem aceitasse as proposições da FIA, seria deserdado. Foi o que ocorreu com Force India e Williams.

Reuniões vieram, declarações duras surgiram de bocas influentes como as de Luca di Montezemolo e, em menor escala de importância e valor, de John Howett e até Carlos Ghosn. Basicamente, defendiam que a FIA não tem que ser uma avalista financeira, gasta-se quanto querem e toca-se a nau da competição em corridas. E então surgiu a ameaça do racha, da formação de uma categoria paralela, porque sob condição alguma nenhuma das oito equipes juntinhas por um lacinho rosa de cabelo feminino se submeteria a tal acinte. As cinco montadoras chegaram a assinar um “acordo de arrego”: quem pulasse fora do barco pagaria € 200 milhões às que ficassem, € 50 para cada.

Denotou-se uma formação de guerrilha não beligerante, porque a FIA, por mais acuada que estivesse diante da armada do inimigo, o máximo que fez foi tentar aumentar o valor do teto orçamentário que havia proposto para £ 100 milhões. Mosley, quase septagenário, que nos últimos dois anos teve dois baques fortíssimos em sua vida particular, não esmoreceu. Fincou sua bandeira de corte de custos. Pagou pra ver no que dava. Divulgou a lista de inscritos pondo Ferrari, Red Bull e Toro Rosso na F1 2010 indubitavelmente e marcou as outras cinco da Fota com um asterisco dando uma semana de prazo para negociações.

As cinco “estreladas” mais as três que foram postas como certas espernearam e continuaram unidas. Não, não e não, e não vamos correr na F1 com este limite de grana bocó. Estava quase certo: oito equipes, três carros para cada, um supercampeonato de 24 carros.

Então a FIA resolveu mostrar qual é que é, que a Fota quer apitar mais do que deve, numa daquelas cartas que parecem aquelas que fãs fazem no papel higiênico ou na folha de sulfite e que dão uns 40 metros. E com o pau à mesa, Mosley deu o recado no fim, mas teve quem ouvisse do sumo-presidente palavras como “o teto fica, e eles que vão reclamar com a puta que os pariu”. Mas as oito putas que pariram as montadoras não precisaram sentar para aguentar a choradeira. 

De pires na mão, as oito pediram desculpas. Foram meninas más. Resolveram se “comprometer para buscar uma conclusão urgente ao debate envolvendo o campeonato de 2010” e pediram ao tio Mosley que “considere este movimento significativo” para “evitar a saída de equipes importantes”.  Meninas más que, na verdade, deram uma de virgens puritanas…

A F1 está salva, em suma. Ótimo para quem gosta deste esporte, e ótimo porque acaba com essa ladainha sacal. Mas disso tudo, o que deve ficar bem claro para todos é que as palavras e as posições destes homens engravatados, de nariz e cavalo empinado, que ficam vez ou outra a dizer que vão sair, que representam as equipes valem pouco. Valem muito pouco. Valem menos que um boi. 

O preço do belo nelore está entre R$ 2.000 e R$ 2.500. A parcelinha de 14 prestações.